Boas vindas ao Portal Grabois, conheça nossa marca
O que você está procurando?

Revelações de Diogenes Arruda: Crescimento e Fechamento do Partido (9)

 

Posteriormente ao comício de São Januário, foi feito um grande comício no Recife(7).

Albino – Foi onde? Na Ilha do Retiro?

Arruda – Não. Foi no Parque 13º de Maio. Foi verdadeiramente emocionante. Pernambuco havia sofrido muito com a repressão. Vários dirigentes e militantes do Partido haviam sido mortos barbaramente pela polícia de Pernambuco. Entre eles, um irmão de Gregório Bezerra, chamado Lourenço Bezerra, que tinha uma mulher e cinco ou seis filhos. O maior tinha parece que 5 anos de idade. Pois bem. Foram quebrando as mãos, os braços do Lourenço, para ele dizer alguma coisa. E Lourenço, mesmo tendo uma mulher e cinco ou seis filhos, nunca disse uma palavra — e morreu assim. Também me recordo de um dirigente do Partido chamado Luiz Bispo, era o primeiro-secretário. Foi preso em 1936, reagiu à prisão e aqueles bandidos da polícia política de Pernambuco, que tinha Etelvino Lins à frente, torturam tanto o Luiz Bispo que depois tiveram que juntar os ossos e enterrá-los num saco de aniagem — porque aquilo já era uma massa informe. Mas Luiz Bispo também nunca disse uma palavra (pronuncia com voz grave e pausadamente).

José Francisco Cabelo de Rato, também um outro herói do Partido, e assim outros e outros tantos. Me recordo que em 1938, 39, havia — 37, 38 — um Secretariado do Nordeste do Comitê Central. O seu primeiro-secretário era um jornalista baiano, chamado Clóvis Caldeira, que foi torturado noite e dia (pronuncia pausadamente) sem parar durante um ano inteiro. Depois de uns dois anos, soltaram o Caldeira e ele parecia um homem que tinha saído de um campo de concentração. Magro, tuberculoso, sem poder falar. Mas o Caldeira nunca disse uma palavra (pronuncia pausadamente e com a voz grave). Foi preso com ele um major da Força Pública do Recife, se não me falha a memória chamado major Calmon.

Conheci depois o major Calmon andando com duas bengalinhas, porque botaram ele numa tortura com soda cáustica e as pernas dele secaram. E o major Calmon nunca disse uma palavra. Então, o povo pernambucano, os trabalhadores, os comunistas de Pernambuco, tinham muitos heróis e mártires. Quando se verificou o comício ali, eu me recordo, foi verdadeiramente emocionante. Eu como pernambucano fui instalar legalmente o Comitê Regional de Pernambuco. Fui também no comício do Parque 13º de Maio, e era impressionante a acolhida de operários, de estudantes para ingressar no Partido Comunista do Brasil.

Iza – E esse crescendo foi até...

Arruda – Esse crescendo foi... tivemos as eleições, em dezembro de 1945, tivemos mais de 12% da votação, fomos o primeiro partido no Rio de Janeiro, em Recife, em Santo André, em Santos, em Sorocaba, fomos o segundo partido em São Paulo. Nas eleições municipais: primeiro partido em São Paulo, elegemos o prefeito de Santo André, de Sorocaba(8), e disparado o primeiro partido em Santos, que era considerada a "cidade vermelha", a Stalingrado brasileira, primeiro partido novamente no Recife etc. Quer dizer: nos principais centros urbanos, e principalmente nos centros operários, nós éramos o primeiro partido. Ele foi crescendo em 1946, em março de 47 nós demos um balanço e o Partido estava com 220 mil membros. Porque em 47 nós íamos realizar o 4º Congresso do Partido.

Só que estávamos preparando o Congresso quando o Partido é fechado por um ato arbitrário, monstruoso, ilegal do Tribunal Eleitoral. O Partido é fechado no dia 7 ou 8 de maio de 1947, é jogado na clandestinidade.(9)