Estão aí os sinais de que o segundo mandato da presidente Dilma enfrentará uma oposição mais ressentida do que das outras vezes com a derrota. Estão aí os sinais de que os adversários buscarão por todos os meios um terceiro turno e estão dispostos a manter o alto e cerrado durante quatro anos para encerrar o ciclo de governos petistas em 2018:  O pedido de auditoria na apuração dos votos feito pelo PSDB, o ato contra Dilma em São Paulo, as diatribes do ministro Gilmar Mendes, o saudosismo, ainda que localizado, da ditadura militar…

Neste ambiente envenenado, dizem alguns dirigentes petistas, falar na candidatura de Lula em 2018 não contribui para a necessária distensão. Dilma agora precisa governar. Sua vitória foi legítima e pregar o “fora Dilma” é tão antidemocrático como a campanha “fora FHC” que os radicais do PT tentaram emplacar depois da reeleição do tucano em 1998. Foram enquadrados  por Lula e José Dirceu. Mas cabe também ao PT contribuir para a distensão. “Quem ganha não tem que esticar a corda. O país não aguenta um clima destes por quatro anos”, diz um dirigente.

Além do mais, diz outro, falar em candidatura de Lula agora, quando nem ele sabe se poderá ou quererá concorrer em 2018,  enfraquece a presidente Dilma.  Uma coisa é o maior diálogo e entrosamento entre ela e o  PT, depois do forte protagonismo do partido na vitória, que ela mesma já reconheceu. Uma coisa é a  encampação, por ela, de algumas teses caras ao partido, como a reforma política com plebiscito.  Uma coisa é Lula ser mais ouvido e estar mais próximo dela no segundo mandato. Outra, bem diferente, seria sua figura de candidato pairando sobre um governo que ainda nem começou, funcionando como uma força centrífuga em relação ao poder de Dilma, agora que ela não poderá mais se reeleger. Quando há sucessor à vista, diz um adágio político, até o café começa a ser servido frio.

A nota da reunião de ontem da Executiva do PT não tratou do assunto mas ele preocupa e alguns vêm se esforçando para tirá-lo da pauta, embora todo dia apareça na imprensa uma notinha aqui, outra ali. Aliás, para o antipetismo, nada melhor do que inflar esta bolha e mantê-la sobre a cabeça de Dilma.  Tudo começou com a declaração jocosa de Rui Falcão, presidente do PT, no dia da eleição. Perguntado sobre 2018, disse preferir Lula. A partir de uma brincadeira o assunto ganhou asas. Mas como nem Lula nem o PT fizeram uma declaração firme a respeito, ele continuará em pauta, elevando a paúra da oposição e ofuscando o brilho da vitória de Dilma.

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação – EBC – e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247.

Publicado em http://terezacruvinel.com/2014/11/04/falar-agora-em-lula-2018-nao-ajuda-dilma/