Fascismo de mercado e terceirização
 

Avante!
 

«Parceiro do fascismo tradicional, o fascismo de mercadosó se tornou visível após a II Guerra Mundial, nos anos 80… Avançou então no Chile, na Argentina, na Bolívia e no Uruguai, com Pinochet, Videla, Banzer e Peralta… O fascismo de mercado ou neoliberalismo semeou a miséria, destruiu o emprego, elevou ao máximo os lucros dos grandes grupos financeiros e tornou as nações num balcão de negócios gerido por 2% ou 3% de grandes patrões… Agora, está “sobre a mesa” a terceirização, uma arma ainda mais mortífera que procura transformar 90% dos empregos em “trabalho precário” incerto e lança na miséria os homens e as mulheres com mais de 50 anos de idade. Mergulha-os num poço de miséria!» (Carlos Lungarzo, Amnistia Internacional, 2013).


«As ONG desempenham funções complementares do neoliberalismo. Por um lado, reforçam o processo de transformação do respeito pelos direitos sociais adquiridos em mero exercício facultativo de filantropia; por outro lado, procuram desmobilizar os movimentos que resistem a esse processo anti-social, insinuando nas populações a noção de que as novas mudanças fortalecem a democracia» (Graziela Nunes, “Papel das ONG
nos desvios da Democracia em tempos de capitalismo neoliberal”).

«A história de todas as sociedades é a história da luta de classes… Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo… opressor e oprimido, estiveram sempre em oposição um contra o outro… uma luta que sempre terminou por uma transformação revolucionária ou pela ruína das classes em disputa» (K. Marx, “Manifesto Comunista”).

 

As políticas que o neoliberalismo (ou fascismo de mercado) promove em todo o mundo, sobretudo nos «países emergentes» e nas nações pobres da periferia europeia, geram não só a pobreza e a riqueza mas também aumentam desmedidamente o desemprego, a fome e ainjustiça social. Quanto maior é o lucro de alguns, tanto mais cresce a miséria do povo. Vimos como os dados mais recentes revelam o aumento das grandes fortunas, o agravamento de volume dos «dinheiros mal parados» e das falências, os malabarismos e os escândalos sem fim dos bancos e as mentiras do poder político.

Números divulgados esta semana revelam que, no decurso de apenas um ano, as dez maiores fortunas portuguesas aumentaram (isto em plena crise financeira) 2,3 mil milhões de euros… As contas foram feitas com os dados oficiais conhecidos e não contam com os muitos milhões de lucros obtidos pela economia subterrânea dos offshores, dasswords, das parcerias, dos depósitos cifrados, etc., etc. A realidade supera em muito a imaginação!

Na leitura que interessa aqui fazer desta informação há um traço comum que importa realçar: todas as grandes fortunas que confessam este crescimento astronómico estão ligadas entre si e participam, através de protocolos leoninos e deparcerias, com as fundações filantrópicas, ONG e IPSS, do chamado Sector Terciário (uma extensa área completamente dominada pelo grande capital, pelas sociedades secretas e pela Igreja do Vaticano). Um retrato místico da troika.

Os fabulosos grupos mais citados interessam-se, todos eles, pelo combate à fome. Desde a Corticeira Amorim ao Grupo Espírito Santo, ao Santander ou ao Banco Popular; doJerónimo Martins ou dos Mellos à Sonae de Belmiro de Azevedo; ou da Motta-Engil grande patrocinadora do Banco Alimentar contra a Fome, todos os multimilionários se benzem e se afirmam campeões do combate à fome e à exploração do homem.

Porque, se não fosse a fome, que seria do capitalismo? Como garantiria o neoliberalismo os caudais de dinheiro que alimentam as grandes fortunas, a não ser à custa das multidões de famintos e de desempregados? Como sobreviveria o sistema capitalista se não fossem os retornos financeiros com profundas raízes nos contratos sword, nafilantropia de risco ou no trabalho precário, nos lucros dasgrandes superfícies agroalimentares e nos jogos consentidos da especulação financeira?

Por tudo isto (e por muito mais) se vê como é difícil esta passagem que vivemos da história da humanidade e das lutas de classe. Dizia Álvaro Cunhal em o «Rumo à Vitória», depois de descrever, nas suas linhas gerais, a evolução da linha histórica que se vem desenvolvendo desde há longos anos: «Lutar para libertar Portugal do domínio fascista é lutar para libertar Portugal do domínio dos monopólios. A liquidação do poder dos monopólios é um objectivo central da revolução democrática».