No Brasil, quem primeiro celebrizou o tripé foi, salvo melhor lembrança, Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique. Nessa época, os lemas econômicos no Brasil eram importados, prontos e acabados, dos países desenvolvidos, em especial do FMI. O petista Antonio Palocci, sucessor de Malan na primeira fase do governo Lula, fazia questão de render constantes homenagens ao lema popularizado por seu predecessor tucano.

Desde a saída de Palocci da Fazenda, em 2006, e de Henrique Meirelles do BC, em 2010, o governo imprimiu aos poucos nova orientação, considerada mais “desenvolvimentista”, à política econômica. Por exemplo, a taxa básica de juro, antes aberrante, vem sendo gradualmente reduzida para níveis mais civilizados. Outro exemplo: controles de capital e medidas macroprudenciais começaram a ser utilizados para preservar a estabilidade financeira e conter a valorização externa do real. A política fiscal passou a ser ajustada à evolução do ciclo econômico.

É o que basta para que irrompam denúncias de que o tripé da economia vem sendo avariado ou até abandonado. Economistas, jornalistas e editorialistas pedem, em coro, a continuação do tripé e denunciam a irresponsabilidade crescente da política econômica.

As críticas têm base? Não muita. Em primeiro lugar, convenhamos, o famoso tripé não é nenhuma Brastemp. Pode ser considerado, mais propriamente, uma lista tríplice de obviedades. Quem, em sã consciência, se opõe à disciplina fiscal e ao controle da inflação? E, diante da desastrosa experiência com regimes de câmbio fixo ou semifixo, quem se opõe à flexibilidade cambial?

O debate perde de vista, ademais, que o tripé proclamado por Malan e repetido por Palocci e muitos outros é uma construção pré-crise internacional de 2008. Essa crise, centrada nos EUA e na Europa, forçou uma revisão das noções macroeconômicas. Aqui no FMI, por exemplo, poucos se animam a negar a flagrante insuficiência do tripé ainda reverenciado no Brasil. Um país pode respeitar religiosamente as três pernas do tripé e ainda assim dar com os burros n”água. Basta descuidar da regulamentação e supervisão do sistema financeiro, como foi o caso dos EUA e de diversos países europeus no período pré-crise. Ou da vulnerabilidade externa da economia, como foi o caso do Brasil no segundo governo FHC.

A economia brasileira pode ter, e tem, diversos defeitos e limitações. O menor deles é o suposto desrespeito pelo tripé responsabilidade fiscal/controle da inflação/flexibilidade cambial.

Fonte: O Globo