Observando os inéditos ataques dos mercados contra os bônus europeus e o euro, os jornalistas europeus constatam que já foram acionados os mecanismos automáticos que acelerarão o mergulho da Europa inteira rumo ao fundo.

“As evoluções nos mercados de bônus mostram a iminência de um Armagedom” profetiza a Bloomberg, enquanto o jornal britânico Financial Times observa que “o euro afunda enquanto torna-se claro que o BCE não aceita pressões para que intervenha nos mercados”.

O New York Times avalia que “a chanceler Angela Merkel repetiu sua oposição para a emissão de bônus comum pelos países integrantes da Zona do Euro e para uma ampliação do papel do Banco Central Europeu, a fim de serem dadas rápidas respostas à crise de dívida”.

O Wall Street Journal relata que “os líderes das três maiores economias da Zona do Euro concordaram em alavancar a mais estreita cooperação política, econômica e, a complementação européia” e acrescenta que “a grande pergunta não é se somente algum dos 17 governos da Zona do Euro desabar, mas se o total da Zona do Euro conservará sua feição atual”.

O jornal britânico The Guardian, relatando o encontro de três dias da Merkel com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, verifica que “a França, a Alemanha e a Itália desmentem as esperanças do mercado por uma intervenção do BCE”.

O Guardian anota, também, que “Merkel exclui a ampliação do papel do Banco Central Europeu e contrapõe mudanças na Convenção da União Européia, visando a alavancar a convergência econômica”. Ainda, o jornal britânico destaca que, pela primeira vez, há três anos, o custo de endividamento da Alemanha superou o da Grã-Bretanha (o desempenho do bônus alemão de dez anos atingiu 2,26%, enquanto o correspondente britânico oscilou em torno de 2,18%).

Todos ameaçados

A agência Reuters informa que “a França e a Alemanha concordaram em encerrar suas discussões públicas sobre se deve o BCE fazer mais para salvação da Zona do Euro do agravamento da crise de dívida”.

A imprensa francesa usa tom duro em suas constatações. Segundo o jornal Le Monde, “o governo de Berlim, destacado tenor há anos de virtude econômica e de disciplina, não encontra-se mais livre das consequências da crise da Zona do Euro”, referindo-se principalmente ao incessante martelar que sofre o mercado alemão de bônus por causa do fiasco da emissão de títulos de dez anos que tentou há alguns dias o Governo Merkel.

“Se o tete-a-tete franco-alemão ampliou-se com a participação da Itália, a Alemanha continua definindo a forma e o tempo para a saída da crise”, constata o jornal francês Les Echos, enquanto o Liberation verifica que “em Estrasburgo, a União evoluiu em farsa”.

Sensação provoca o otimismo do Figaro, o qual julga que “o governo de Berlim já começou a pensar nos eurobônus”, enquanto, seu correspondente em Berlim, Patrick Saint-Paul, verifica que “o front da categórica recusa da Alemanha na emissão dos eurobônus já começa a cair”.

Sensação provocou a resposta de 15.723 leitores do Figaro à pergunta do jornal: “Acredita que a Alemanha tem hoje poder excessivo sobre a Europa?”. Somente 52,18% dos leitores franceses responderam “sim”. Já 47,82% responderam negativamente, fato que revela que os franceses continuam tendo “uma certa idéia” (une certain idee, como diriam) para a influência de sua pátria e de seu presidente nas tensões européias e, seguramente, nas internacionais.

Conscientizados os alemães

Se os franceses, em seu total, permanecem presos ao sua mega-ideologia e a imprensa francesa regozija-se, mesmo que discretamente, pelas aventuras da Alemanha nos mercados internacionais de bônus, na Alemanha, os analistas políticos e econômicos da imprensa manifestam seu forte ceticismo pela posição que insiste em manter o Governo Merkel na atual crise. E este ceticismo é positivo na medida em que influencia, também, a opinião pública alemã e a liderança política, até certo ponto.

A referência acima diz respeito apenas a jornais sérios e não aos tablóides. O Sueddeutsche Zeitung, o grande jornal de Munique e, de um modo geral, do riquíssimo Sul alemão, escreve caracteristicamente: “A Europa salva, salva e, salva, mas a verdade é que as medidas que têm sido adotadas até hoje já não são suficientes. A crise já atingiu o coração da Europa. Desabou a demanda ainda até para os bônus alemães”.

O Frankfurter Allgemeine, jornal da capital econômica alemã e da Zona do Euro inteira (em Frankfurt está sediado o Banco Central Europeu), relata o cada vez mais difícil relacionamento de Merkel com José Manuel Barroso Durão, presidente da Comissão Européia (órgão executivo da União Européia): “A proposta de Barroso revela seu rompimento com Merkel. Trata-se de um evolução que ninguém imaginaria há sete anos”, atacando a chanceler alemã pessoalmente, porque, quando o Frankfurter Allgemeine menciona sete anos, refere-se às relações da Alemanha com Bruxelas e seus parceiros antes de 2005, ano de ascensão da Merkel a chanceler.

Finalmente, o jornal Handelsblatt atribui ênfase maior às evoluções nos mercados. “Os investidores temem um redemoinho que arrastará tudo e todos. Questionam-se por quanto tempo ainda a economia alemã poderá suportar este péssimo ambiente”, escreve o importante jornal, especializado em economia, que ainda considera que “a crise de dívida tem criado um círculo vicioso, com incerta evolução para as empresas e para o Dax (indicador geral da Bolsa de Valores de Franfurt).

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Fonte: Monitor Mercantil