Quando da chegada dos espanhóis na ilha, em 1492, Cuba era habitada por indígenas. Os nativos foram utilizados para busca e extração de riquezas materiais, em trabalhos rudes, enquanto a Espanha transitava por um regime feudal, introduzindo em Cuba a propriedade privada. A forma pela qual se viabilizaram as relações entre exploradores e explorados foi o sistema denominado encomienda.

Aos conquistadores se concedia um grupo de índios, os quais eram submetidos à tutela dos espanhóis. Segundo esta lei, os encomendeiros teriam que proteger os índios e dar-lhes instrução, porém adquiririam direitos de exigir determinados trabalhos dos mesmos. A história demonstrou que os espanhóis cobraram todos os seus direitos e cumpriram poucas obrigações.

Em Cuba, um peculiar processo histórico, semelhante ao da maioria das Antilhas, fez com que concorressem para a formação do espírito nacional duas correntes fundadoras: a espanhola, dos conquistadores, e a africana, dos escravos. Uma lenta e profunda tarefa de séculos, caracterizada por mesclas de diferentes sangues, tradições, sonhos e conflitos, coagulou a sociedade cubana.

O enriquecimento dos colonizadores apoiou-se na submissão imposta aos nativos, interrompendo o processo autônomo das comunidades indígenas e implantando em Cuba o regime de servidão feudal. Na América do século XVI, os espanhóis já aplicaram o princípio da "guerra buena" contra os naturais, acusados hora de antropofagia, hora de sodomia.

Como apontam muitos historiadores, no desembarque dos espanhóis a Cuba, havia na ilha cem mil indígenas e, após 50 anos, não passavam de cinco mil, dizimados em razão dos maus tratos, do contágio e da perda do interesse pela sobrevivência. E, com o tempo, as escassas manifestações de resistência encontraram defensores, entre eles Bartolomeu da Las Casas, mas a violência dos conquistadores não impediu as marcas dos aborígines na cultura e no caráter dos cubanos. Assim, foi transplantada à ilha a sociedade dividida em classes, a repressão do aparato colonial e a luta contra o terrorismo desde 1492.

*Professora da UNISANTOS e membro da Comissão de Formação do PCdoB de Santos.