Antes de finalizar 2011, deve ser celebrada em Caracas, Venezuela, a primeira cúpula de presidentes e chefes de Estados da Celac, e esperamos, assinalou o catedrático Julio Muriente, que este bloco seja diferente da Organização de Estados Americanos (OEA).

Confiamos em que os países-membros da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) reconheçam e admitam que há um problema colonial por resolver; e que Porto Rico é o caso mais eloqüente em nossa América.
Aspiramos a que se reconheça o espaço de Porto Rico em luta como membro observador dessa organização em nascimento; em minha opinião -acrescentou Muriente-, se a Celac aprova isto, certamente estaríamos projetando uma nova América Latina, diferente e superior à visão da OEA.

É muito importante ter presente que muitas nações estão a favor de Porto Rico; algumas delas, futuras integrantes da Celac e membros do Movimento de Países não Alinhados (MNA), cuja carta fundacional sublinha o direito à autodeterminação e à soberania, explicou. Este elemento do documento final do MNA coincide com a postura do Comitê de Descolonização das Nações Unidas, e se conseguimos que esses países sejam conseqüentes com o texto que assinaram – tanto os do MNA como os do Comitê de Descolonização-, isto abrirá o caminho para um maior reconhecimento de Porto Rico em luta, assinalou. Destacou o respaldo ativo dos países da Alba que deram uma tangível mostra de solidariedade, ao apresentar uma proposta sobre Porto Rico ante o Comitê de Descolonização, e o mais importante é que não se trata só de Cuba e Venezuela, senão de mais nações somadas a esta reivindicação histórica.

Se conseguirmos que a Celac faça sua esta luta, seria um passo de avanço e Porto Rico seria um filho mais da América e do Caribe, manifestou o catedrático numa conferência magistral ditada na Casa Cultural da Alba em Havana.

É necessário -afirmou- que Porto Rico alcance sua independência para que se incorpore ao concerto político continental.

Neste ano há países que estão celebrando o bicentenário de sua independência na região, mas não devemos perder de vista que ainda estão presentes a França em Martinica e Guadalupe; Holanda em Aruba, Curaçao, San Martin; o Reino Unido nas Ilhas Virgens Britânicas, e os Estados Unidos em Porto Rico.
Talvez a alguns não lhes interesse, mas lhes advirto que as colônias, entre outras questões, podem servir de plataforma para agredir outras nações.

Recordou que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, denunciou os vôos de aviões espiões sobre a nação sul-americana, e essas naves partiram de Aruba.

Em abril de 1961, quando aconteceu a invasão mercenária organizada pelos Estados Unidos ao território cubano de Praia Girón (Baía dos Porcos), os homens-rãs saíram de Porto Rico, disse Muriente. O colonialismo não é um problema exclusivo dos que o sofrem de maneira direta, senão dos que foram convertidos em neo-colônia, e o prefixo neo -insistiu- não os exonerou de viver com uma falsa independência.

Porto Rico é uma nação submetida ao colonialismo, o que em 518 anos se converteu em uma relação de dominação existencial, sempre controlado por outros que impedem a obtenção de nossa soberania para decidirmos por nós mesmos e inclusive nos negam o direito a nos equivocarmos, explicou.

Impuseram-nos um hino, uma nacionalidade, e depois de fazer do país uma grande plantação, modernizaram-nos e converteram numa gigantesca fábrica, priorizando seus interesses acima dos do povo, lamentou Muriente

Temos lidado há muito tempo com o neoliberalismo, e as riquezas obtidas nunca ficaram em casa, iam parar nas mãos dos de fora, os donos dos capital encarregados de descapitalizar a economia, disse.

Ao referir-se aos grandes problemas que enfrenta Porto Rico, assinalou que o desemprego é de 16 por cento.

Outra questão muito notável no panorama atual é o fenômeno migratório, hoje -apontou Muriente- vivem mais porto-riquenhos nos Estados Unidos (quatro milhões) que em seu próprio país, enquanto 3,8 milhões permanecem na ilha caribenha.

O desemprego e a migração constituem um entrave para o crescimento econômico, assegurou o catedrático.

O narcotráfico ocupa um grande espaço em Porto Rico, e adveio uma atividade econômica de primeira ordem exercida fundamentalmente pelo setor juvenil da sociedade. Este negócio que move milhões de dólares não pode ser controlado pelos Estados Unidos encarregado dos espaços aéreo, marítimo e terrestre da ilha, precisou o professor da Universidade de Porto Rico.

Realçou que o tráfico de drogas gerou a violência e a instabilidade social, e recordou que em 2010 quase foram reportados mil assassinatos, estatística que origina um estado de infelicidade na população, cada dia mais submetida a uma ideologia consumista e, portanto, sumida no endividamento privado.

No meio destas dificuldades -indicou- existe uma luta social, a qual é indetível e tem como objetivo supremo romper as correntes da dominação.

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Jornalista da Redação Nacional da Prensa Latina

Fonte: Prensa Latina