"Cuba demite 500 mil funcionários públicos", "Ataque neoliberal em Cuba", "Derrocada do socialismo em Cuba", "Os Castro repetem os mesmos abomináveis passos de Nicolae Ceausescu", são títulos de alguns dos dezenas de artigos, análises e pontos de vista que foram publicados pela imprensa internacional após a decisão do governo cubano de reorganizar sua máquina estatal, reestruturar o funcionalismo público com transferências a deficitários e desvalorizados serviços do Estado, assim como para incentivar – em base voluntária – os servidores públicos que desejassem trabalhar em empresas privadas de pequena escala com reduzido número de trabalhadores (produção agrícola em mal aproveitada terra a ser alugada pelo Estado, salões de cabelereiro, lojas de conveniência, empresas privadas de escala reduzida nos setores mecânico e elétrico, novas tecnologias, consertos de veículos e outras).

Trata-se algo que, na teoria marxista, constitui uma das questões grandes e abertas desde a época da NEP de Lenin na então jovem União Soviética. Economia mista com empresas privadas de escala reduzida onde o Estado não precisa esbanjar investimentos constitui hoje para Cuba uma opção obrigatória que poderá oferecer, em condições de bloqueio econômico e grandes reveses econômicos no que diz respeito a disponibilidade de moeda cambial, considerando que Cuba pode transacionar somente com dólares norte-americanos, quando precisa comprar desde novas tecnologias, até importar produtos alimentícios.

Esta decisão não é um simples decreto editado uma bela manhã, mas é resultado de um prolongado processo de diálogo com os trabalhadores e os sindicatos que detêm todos os direitos institucionais, constitucionais e trabalhistas dos trabalhadores que são transferidos.

O indicador de desemprego em Cuba atinge apenas 1,7%. O trabalho é garantido, constitucionalmente, como direito, e a atual iniciativa legal para meio milhão de trabalhadores no setor público que serão transferidos não admite a violação constitucional de seus direitos.

Apesar de tudo isso, não significa que será um processo fácil, considerando que continuará ao longo dos três próximos anos até sua conclusão. O resultado da atual crise financeira capitalista mundial tem sérias consequências, também, em Cuba, quanto mais quando se trata de uma economia sem características particulares de vantagens exportadoras, por causa da dificuldade de acesso em fontes de produção.

Bloqueio econômico e sua importância

Em condições de crise econômica mundial, a guerra econômica contra Cuba tem consequências ainda mais desagradáveis. Por exemplo: por decisão do Congresso dos EUA e as bençãos da Casa Branca, é proibida a exportação a Cuba de qualquer produto quando no resultado de sua produção existe mais de 15% de participação de tecnologia norte-americana ou participação econômica de qualquer instituição financeira dos EUA.

Outro exemplo: é proibido às empresas norte-americanas, sediadas nos EUA ou no exterior, realizar qualquer espécie de transação econômica com Cuba. E outro: também é proibido que qualquer embarcação comercial, sob qualquer bandeira, aporte em qualquer porto norte-americano, se durante os últimos seis meses aportou em qualquer porto cubano.

Estas são algumas das centenas de "medidas de guerra" que de tempos em tempos foram e são tomadas e habitualmente atualizadas pelos EUA, contra uma revolução que não permite ao Império norte-americano esquecer a humilhação que sofreu.

O cerco do bloqueio econômico imposto ilegalmente a Cuba pelos EUA há mais de meio século, apesar das contrárias e sucessivas decisões das Assembléias Gerais da Organização das Nações Unidas (ONU), é comprimido mais ainda pelo atual governo norte-americano de Barack Obama, que redirecionou seu interesse ao Caribe e à América Latina, recrudescendo uma impiedosa guerra econômica, política e de contra-informação e desinformação em detrimento da Bolívia, Venezuela, Equador e Cuba, enquanto a nova descoberta dos EUA é a denominada "guerra contra os narcóticos" e dos cartéis na Colômbia e no México.

Recrudesce, totalmente, uma complicada e sangrenta guerra civil no México e na Colômbia, entre grupos e famílias dos cartéis para o controle da produção e tráfico de substâncias narcóticas dentro do maior mercado distribuidor e consumidor do planeta que são os EUA.

Assim, a presença e o aumento de tropas e bases militares norte-americanas é um fato consumado, em uma série de países limítrofes com os países-membros da Aliança Bolivariana (Alba). Mas o resultado não é a redução do tráfico de narcóticos, ao contrário, aumentam as ameaças e alimenta-se uma guerra fria de características próprias, entre os governos que encontram-se sob o "guarda-chuva" econômico e político do Império e uma série de governos progressistas de esquerda.

"Mau exemplo"

Isto, sem esquecer, as centenas de ataques desferidos contra Cuba nas últimas décadas com explosões de aviões de passageiros, até ataques de guerra química em extensões agrícolas cultivadas, todos comprovados pelos correspondentes relatórios da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, que já foram caracterizados não secretos e assim foram publicados.

Não se trata de defender equívocos e falhas até, inclusive decisões ruins que certas vezes são tomadas em circunstâncias de uma não declarada guerra cruel enfrentada por Cuba, enquanto, várias vezes muitos, facilmente, apressam-se para criticar com o dogmatismo de uma "metamoderna, dogmática, jamais equivocada e, inegavelmente festiva esquerda".

Simplesmente, destaca-se que não é por acaso que um país pobre de fundamentos econômicos e produtivos, sem a infra-estrutura industrial que tem qualquer país do Primeiro Mundo, mantém-se em pé nos tempos difíceis do século XXI, insistindo em políticas sociais, pleno emprego e garantindo a saúde pública e a educação para toda a sua população.

Talvez isso seja o grande espinho de seus inimigos, que querem convencer-nos de que todos devemos sucumbir ao futuro neoliberal. A toda-poderosa ideologia do capitalismo neoliberal galopa, enquanto a pequena Cuba insiste sendo "o rato que urra ao lado do gigante".

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Fonte: Monitor Mercantil