Desta vez não são os comunistas nem os socialista, e nem sequer um daqueles que se arriscam a interrogar com timidez a trajectória para o abismo que a Europa, e agora os Estados Unidos, prosseguem alegremente.

As notícias que vêm da América são curiosas. Ontem, em artigo publicado no New York Times, o multimilionário Warren Buffett pediu mais impostos para os ricos. O título é encantador e diz tudo: "Párem de mimar os super-ricos", escreveu Buffet, pedindo ao congresso que não se assuste e avance – chega de proteger os milionários.

"Os nossos líderes pediram a ''partilha de sacrifícios''. Mas a mim pouparam-me. Falei com os meus amigos mega-ricos para saber de que sacrifícios estavam à espera. Mas também eles não foram atingidos". Warren Buffet apela, exige, convida, sugere, e é mega-insistente: taxem os mais ricos. Não se assustem, que os ricos vão continuar a investir. Vivem disso. A sério, sem medos.

Igualmente interessante é a entrevista do mago das Finanças, Nouriel Roubini, ao Wall Street Journal. Roubini, conhecido pela proeza de ter previsto a crise que arrancou em 2008, conclui que com o cenário de crise que está em cima da mesa, afinal de contas Karl Marx tinha razão: "A certa altura o capitalismo pode auto-destruir-se". "Julgávamos que os mercados funcionavam, mas não funcionam. E o que, em termos individuais é racional – cada empresa sobreviver cortando os custos do trabalho [torna-se irracional] – mas menos custos de trabalho transformam-se em menos rendimento e em menos consumo para outros".

E Roubini invoca o paradoxo keynesiano, cujas "atrocidades" foram denunciadas pelos economistas liberais da moda. "Se não se cria emprego, não há suficiente consumo, logo não há procura". Ora, "se toda a gente gasta menos e poupa mais no sector privado e público, temos o paradoxo keynesiano".

Ou seja, se toda a Europa decidir ao mesmo tempo avançar com programas de austeridade toda a gente está a poupar e ninguém gasta: nenhum europeu vai estar disponível para comprar as nossas desejadas exportações, de onde nos pode vir algum alívio. Nenhum espanhol, nenhum italiano, nenhum britânico, nenhum grego, nenhum irlandês vai querer comprar os nossos sapatos (para apontar uma indústria que ainda está em expansão).

Existem soluções, não há é nenhuma vontade política de dar a volta ao texto – nem na Europa nem nos Estados Unidos, nem em sítio nenhum. Mas quando um multi-milionário grita contra o poder por proteger os multimilionários é porque chegámos, se calhar, a um exagero. Até Berlusconni, que não é de esquerda, já percebeu qualquer coisa.

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Fonte: I Online