Sua suposta profunda dedicação aos "valores da democracia e da liberdade" manifestaram os líderes do G7+1 (EUA, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Canadá, Itália, Japão e Rússia), assim como, a União Européia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), no comunicado de encerramento da Reunião de Cúpula, realizada na cidade de Deauville, na França. Naturalmente, não se trata de democracia alguma, mas da promoção dos interesses imperialistas que evoluem em meio a forte antagonismo.

No epicentro foram encontradas as evoluções que estão em curso nos países do Grande Oriente Médio e da África do Norte. O destino que os imperialistas reservam aos povos da região revela-se mais especificamente na declaração final, na qual concluíram sobre a denominada Primavera Árabe.

Na declaração, destacam que "as mudanças que ocorrem são históricas e proporcionam a possibilidade de abertura de uma passagem para uma reformulação da região análoga àquela que foi iniciada há 20 anos na Europa Central e na Europa Oriental", isto é, com a derrubada do socialismo.

Para garantia desta reformulação, então, os líderes dos países do G7+1 concluíram com a iniciativa Deauville Partnership (Parceria de Deauville, em tradução livre). A "relação de parceria" é baseada em dois vetores, de acordo com sua conformação: "O processo político para o apoio da transição democrática" e "a promoção das reformas e o âmbito econômico para um crescimento viável e sem bloqueios".

Trata-se, em outras palavras, de um "mapa de percurso", a ser percorrido para conquista e pilhagem que, para ser conseguido, oferece-se o análogo pacote (leia-se embrulho) de "ajuda econômica" (liberada como empréstimos) por bancos internacionais de desenvolvimento e outros organismos, menos o FMI, enquanto "cerca de US$ 10 bilhões serão liberados por força de acordos bilaterais" e outros cerca de US$ 10 bilhões "concedidos pelos países do Golfo Pérsico".

Próximos alvos: Líbia e Síria

O "pacote de ajuda", por enquanto, destina-se à Tunísia e ao Egito, países com os quais já foram concluídos os necessários "acordos". Quanto aos demais, tudo dependerá das evoluções. Além disso, a iniciativa "tem alvos a médio e longo prazo".

Entre os alvos de médio prazo encontram-se a Líbia e a Síria. Para a Líbia, onde a guerra desfechada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) atravessa o terceiro mês, existe unanimidade: "Kadafi deve ir embora". As principais evoluções referem-se à categórica recusa da Alemanha e a mudança de posição da Rússia, que já não se opõe mais a nada e assinou o comunicado final.

A mudança não é casual, pois atendeu à "solicitação comum", apresentada pelo Nicolas Sarkozy, e ao "convite para pilhagem" formulado por Barack Obama ao colega russo, Dmitri Medvedev, a fim de "ser solucionada a crise". Simultaneamente, todos se declararam decididos a continuar as operações militares, nas quais participarão agora também helicópteros britânicos e franceses.

Dirigindo-se aos jornalistas presentes em Deauville, Medvedev convidou abertamente Kadafi a "pedir demissão", acrescentando para "não esperar que Moscou lhe ofereça asilo". Serguei Riabikov, vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, acrescentou, sem ser solicitado, que "a situação na Síria é radicalmente diferente".

Redação mais suave

No comunicado final os líderes dos países do G7+1 manifestaram sua repulsa aos assassinatos dos manifestantes antigovernistas na Síria e pedem o imediato fim do uso da violência pelo regime de Bashar al Assad. Entretanto, não incluíram a proposta formulada no rascunho da declaração sobre ação contra Damasco.

A mudança na redação para uma mais "suave" advertência sobre "tomada de medidas" reflete a "hesitação" da Rússia. Contudo, Sarkozy alinhou-se com Obama na posição de que Assad deve liderar o processo de transição à democracia ou abandonar o poder, posição esta que o presidente norte-americano formulou na semana anterior sobre o Grande Oriente Médio e a África do Norte. Até agora, a França limitava-se a pedir o fim da repressão na Síria e o início de reformas.

Também, Sarkozy declarou após o término da cúpula que "serão aplicadas novas sanções contra o Irã, porque o Irã aproveita as evoluções na região para continuar seu programa nuclear", e simultaneamente, "saudou o desejo do povo iraniano por liberdade".

Ao apagar das luzes da Cúpula, os líderes do G7+1 condenaram com veemência a violência do regime do Iêmen contra os manifestantes e instaram o presidente Saleh a "cumprir seu compromisso de entregar o poder em uma transição pacífica e normal".

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Fonte: Monitor Mercantil