"Quando no jogo dos mercados do petróleo entram fatores geopolíticos do Grande Oriente Médio, anula-se qualquer aposta sobre a direção que tomarão os preços com base a oferta e a procura". Esta declaração de Harry Tsilingurian, analista do mercado de commodities na filial do BNP Paribas de Londres, traça perfeitamente o âmbito que predomina no mercado do petróleo.

Trata-se de um clima de preocupação que elevou – e vem elevando – o preço do petróleo Brent perto de US$ 120 o barril e do correspondente nos EUA a US$ 100. Quando a Arábia Saudita anunciou que havia aumentado sua produção em 8% – mais de 8 milhões de barris/dia – e que estava disposta a cobrir imediatamente qualquer falta provocada pela interrupção das exportações da Líbia, houve pequena queda – logo interrompida.

Segundo Ole Hansen, analista do Saxo Bank, "a Arábia Saudita controla 4 a 5 milhões de barris/dia do total de 6 milhões de barrís que totaliza a produção superavitária da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep). Por isso mesmo, recorrer à capacidade produtiva superavitária da Arábia Saudita reduzirá drasticamente a capacidade de a Opep cobrir qualquer outra eventual falta decorrente da crise no Grande Oriente Médio".

O pesadelo da escalada de crise na Líbia afetou os mercados do petróleo, considerando que a produção de Líbia representa 4,6% do total de 29,4 milhões de barris/dia que produzem os países-membros da Opep. A Líbia ocupa a nona posição de produção de petróleo no cartel internacional e a terceira entre os países africanos. Além disso, o petróleo líbio é de alta qualidade e extremamente fácil de ser refinado, ao contrário do petróleo pesado que produzem os países da região.

Reservas suficientes

As empresas petrolíferas estrangeiras – Total, OMV, RWE, Basf – assim como a China National Petroleum, interromperam suas operações desde a semana passada e repatriaram seus funcionários.

Entretanto, de acordo com o Goldman Sachs, "se a Agência Internacional de Energia dispor aos mercados as reservas estatais de seus países-membros – conforme comprometeu-se mês passado – poderá cobrir qualquer falta criada até inclusive em consequência de interrupção total da produção na Líbia durante mais de 100 dias".

Altos executivos da economia mundial – de grandes bancos de investimentos até o Fundo Monetário Internacional (FMI) – manifestam, em vários tons, suas preocupações pelas consequências que, eventualmente, afetarão os preços do petróleo e, por extensão, a recuperação da economia mundial os movimentos revolucionários nos países do Grande Oriente Médio e da África do Norte.

A mais sonora das advertências é do Deutsche Bank (Banco Central da Alemanha), que prevê que, "se o preço do petróleo superar os US$ 120 o barril, isto será o ponto de curva sobre o qual será afetado o crescimento da economia mundial". E mesmo com os fundamentos atuais, analistas do Nomura avaliam que, "se as exportações da Argélia forem interrompidas, o preço do petróleo poderá explodir aos US$ 220 o barril".

John Lipski, número dois do Fundo Monetário Internacional (FMI), destaca paralelamente que "a economia mundial poderá suportar a explosão dos preços do petróleo, ainda mais se esta explosão for de curta duração".

E faz questão de lembrar que "a previsão do FMI para crescimento de 4,4% da economia mundial neste ano foi baseada na avaliação que os preços do petróleo oscilariam em torno de US$ 95 o barril".

Finalmente, de acordo com JP Morgan, um aumento de 10% no preço do petróleo reduzirá o crescimento econômico mundial em 0,25% e o crescimento das economias emergentes "muito mais".

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Fonte: Monitor Mercantil