Vinte anos depois, não é difícil perceber que a Guerra do Golfo foi um marco na história recente. Inseparável das contra-revoluções que haviam liquidado o socialismo no Leste da Europa e estavam prestes a destruir a União Soviética, a Guerra do Golfo – como muito justamente assinalou na altura o PCP – teve por missão mostrar ao mundo que uma nova correlação de forças se afirmava no planeta. Uma correlação de forças onde o imperialismo ditava as leis, estava pronto a usar a força militar, não reconhecia fronteiras, nem soberanias. O imperialismo norte-americano – já então em declínio no plano económico – procurava impor a sua hegemonia planetária pela via militar, para controlar recursos energéticos, sustentar os seus monopólios e respectivos lucros, mesmo que contra a vontade de outros concorrentes imperialistas.

A vitória militar dos EUA na Guerra do Golfo, acompanhada do golpe de Ieltsine que destruiu a URSS passado poucos meses, fez parecer invencível o imperialismo norte-americano. Decretou-se o fim da História, o triunfo eterno do capitalismo. Muitos, incluindo a própria classe dirigente dos EUA, se convenceram que assim era. As duas décadas seguintes tornaram claro o significado da dupla vitória do imperialismo em 1991. À guerra do Golfo seguiu-se a Jugoslávia, o Afeganistão, Iraque, Líbano, Gaza. Seguiu-se a pilhagem do planeta pelo grande capital dos centros imperialistas, asseadamente designada «globalização». Seguiu-se a destruição acelerada de direitos e conquistas sociais e políticas, o reforço do autoritarismo e dos mecanismos de repressão. O capitalismo mostrou as suas garras, contidas durante décadas pelas vitórias das lutas populares no Século XX. As ilusões da propaganda imperialista tornaram-se um pesadelo bem real para a grande maioria da Humanidade.

Mas estas duas décadas também mostraram outras coisas. Mostraram que a resistência e luta dos povos – desde logo, dos que são vítimas das agressões imperialistas – não têm fim, por mais «decretado» que seja pelas classes dominantes. Mostraram que, liberto de amarras e funcionando de acordo com as suas próprias regras, o capitalismo dos nossos dias é, não apenas um voraz devorador da riqueza produzida em todo o planeta, mas um incorrigível gerador de enormes crises para as quais não encontra outra solução que não seja agravar ainda mais a exploração, a dominação e a violência, alimentando dessa forma as causas profundas da crise. Mostraram que, por muita força que o imperialismo tenha, o mundo não pára: povos e países afirmam a sua soberania, procuram alternativas, crescem e desenvolvem-se, alteram em profundidade a correlação de forças mundial.

A aparente invencibilidade do imperialismo deu lugar a uma crise profunda. A cada dia que passa se tornam mais evidentes o desnorte, as divisões, a incapacidade das classes dominantes em encontrarem resposta para a sua crise. Mas isso não significa que o pior tenha passado. Pelo contrário. A profunda crise do capitalismo agrava os perigos de que o desespero dê lugar – como no passado – à violência extrema e aventureira. A ofensiva contra os povos chegou aos centros do imperialismo. E multiplicam-se perigosos sinais de que o imperialismo prepara novas aventuras militares, no Médio Oriente, em África, no Extremo Oriente.

O caminho é a luta. A luta dos trabalhadores e povos de todo o mundo, contra o seu inimigo comum: o imperialismo. E no coração dessa luta terão de estar aqueles que não se deixaram levar pelos cantos de sereia, nem venderam contos de fadas nestes 20 anos terríveis. É esse o papel dos comunistas.

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Fonte: jornal Avante!