Educação é tema constante em qualquer agenda pública em todos os países do mundo. Na recente campanha eleitoral brasileira, candidatos a deputado (estaduais e federais), governadores e também os presidenciáveis, não se cansaram de usar o tema como um mantra de todas as promessas. Aqui em Angola, jornais, revistas e televisão ao longo desses últimos dias – e penso que isso não deva ser original para o momento – divulgam e comentam cotidianamente fatos ligados à educação, como a implantação de uma nova escola técnica em uma província, a distribuição de materiais escolares, os projetos de formação de professores, enfim, também aqui – ou quem sabe, principalmente aqui – o tema da educação é um dos principais bordões.

Nas comemorações dos 35 anos de libertação, lideres de todos os lugares são entrevistados e reafirmam a importância da educação, como o fez, por exemplo, o líder namibiano Andimba Toivo ya Toivo ao Jornal de Angola: o futuro está nas mãos da juventude e os "jovens devem estudar e trabalhar duro para fazer de Angola um grande país".

Nos estandes e seminários da feira Educa Angola (4 a 7.11.2010) estão sendo discutidas as experiências e os resultados das políticas públicas angolanas, ao mesmo tempo que se está trazendo para o debate os desafios para a educação na sociedade do conhecimento.

Temos defendido ao longo dos anos que educação não se faz com projetos pequenos. As ações até podem ser pequenas, mas o pensar a educação tem que ser sempre muito grande. Os desafios são enormes e as soluções simples não dão conta da complexidade da questão.

A presença das tecnologias digitais em rede pode se constituir em um importante elemento estruturador das necessárias transformações educacionais vislumbradas por todos aqueles que pensam num mundo sustentável e com justiça social.

Não podemos continuar deixando nossas escolas se constituírem em meros espaços de distribuição e consumo de informações. Escola é muito mais do que isso! Escola é o espaço onde cada criança, cada jovem, cada professor e cada cidadão, pode deixar de ser um mero consumidor de informações para se constituir, efetivamente, em produtor de culturas e de conhecimentos. No caso de Angola, isso tem que ser levado às últimas consequências já que o país é grande importador de mercadoria e soluções, o que, seguramente, não se constitui num bom caminho para a efetiva libertação de seu povo e a construção de uma grande nação.

O que aqui insisti em conferência, com a presença do Ministro da Educação Pinda Simão, foi que a criação de bens culturais como fotografias, músicas, programas de rádio, filmes e vídeos abre um importante caminho para a ampliação do universo da sala de aula, estimulando alunos e professores a produzirem esses bens culturais, articulando-os com seu contexto social e cultural, disponibilizando-os de forma livre e aberta na rede internet, visando a sua apropriação coletiva. Ações como essas podem parecer pequenas, mas são de um enorme grandiosidade uma vez que possibilitam que a escola transforme-se em espaço privilegiado para o diálogo entre culturas, saberes e linguagens, articulando de forma intensa o local e o não-local. Assim, estabelece-se um círculo virtuoso de produção coletiva e colaborativa de materiais científicos e culturais (e,portanto, educacionais!), que potencialmente fortalecem e valorizam as nossas culturas. No caso do Brasil e de Angola, países com uma diversidade cultural fenomenal, isso pode se constituir, ao mesmo tempo, no maior dos desafios e no mais rico dos processos de efetiva formação da cidadania.

O uso das tecnologias digitais, a conexão em rede de todas as escolas e a forte valorização do trabalho dos professores, pode vir a se constituir para a educação a chave de saída para o enfrentamento dos grandes desafios contemporâneos.

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Nelson Pretto professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. E-mail:
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Fonte: Terra Magazine