Contudo, a guerra no Afeganistão evolui do mal ao pior para as forças dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), apesar das 400 bases das tropas dos EUA/Otan e das 300 do treinado pelos EUA exército estatal afegão, desde pequenas bases, até gigantescas bases-cidades.

A famigerada base aérea de Bagram – que também é uma prisão secreta da CIA – “hospeda” 20 mil soldados norte-americanos e alguns milhares de aliados, agentes da CIA e mercenários.

A base de Kandahar, após o “aumento” concedido pelo Obama, chegará a 35 mil soldados. Também são utilizadas bases fora do Afeganistão, como a do Catar, que custou US$ 1 bilhão, de onde são monitorados os aviões não tripulados, denominados “drones”, que bombradeiam indiscriminadamente casas, aldeias e cidades no Afeganistão e no Paquistão, assim como a base no Quirgistão, de onde é distribuído o abastecimento em geral.

Planos eleitorais

Fora das tropas regulares, os mercenários, eufemisticamente denominados “tereirizados” ou “comissionados”, totalizam o impressionante número de 121 mil homens, praticamente o dobro dos 68 mil soldados norte-americanos e aliados bem dispostos.

Anotem que, até o final deste ano, o número de mercenários aumentará para 220 mil homens, embora o presidente-fantoche do Afeganistão, Mahmut Karzai, por causa dos crescentes casos de assassinatos de civis, tenha dado prazo de quatro meses aos mercenários para se retirarem do Afeganistão. Contudo, os atentados aumentam e as perdas dos EUA/Otan multiplicam-se.

Novamente, em vista das eleições intermediárias nos EUA em novembro próximo e considerando que um em cada seis norte-americanos é contra a guerra no Afeganistão, e em sintonia com o suposto “fim” da guerra no Iraque, o Pentágono e o Governo dos EUA optaram por divulgar seus planos, de início do processo de retirada de “algumas tropas” em julho de 2011.

A divulgação dos planos deflagrou incêndios, tanto dentro do Exército norte-americano, quanto no seio da corrupta liderança afegã, ambos julgando que “uma divulgação assim fortalece o Talibã”.

Disputa entre potências

Naturalmente, não se trata de retirada, e há mais um dado referente à questão: trata-se do fato de que as comissões encarregadas do Congresso dos EUA aprovaram verba no total de US$ 1,3 bilhão destinado “ao prolongado plano de reconstrução e expansão das instalações militares norte-americanas no Afeganistão”, e, apesar do fato de que este projeto deverá ser aprovado pelo plenário do Congresso, os planos de construção de instalações para o exército e a polícia afegãos, totalizando US$ 5,3 bilhões, já foram aprovados e as obras correspondentes deverão durar, pelo menos três a quatro anos.

O desligamento dos EUA das frentes de Afeganistão e Paquistão é considerado impossível, porque a infeliz evolução da guerra já abriu o jogo também para outras potências imperialistas, e o governo corrupto do Afeganistão já busca formalizar acordos com outros países, como a Rússia, China e Irã e até Paquistão.

Assim, as superpotências digladiam-se para construir relações com autoridades afegãs em um esforço para ampliarem sua influência e minarem o controle dos EUA sobre a região, e assim conseguirem arrancar a maior fatia possível dos recursos naturais do país, avaliados em US$ 1 trilhão, e as ricas reservas de petróleo e gás natural, localizadas no norte do país, avaliadas em 1,8 bilhão de barris.

“Guerras secretas”

Se Iraque, Afeganistão, Paquistão e Irã constituem frentes “oficiais” de guerra, os EUA estão envolvidos em operações paramilitares fora dos limites da nacional e suposta legalidade internacional, travando as “guerras secretas do Obama”, como referiu-se, recentemente, o jornal Washington Post.

As tropas das “operações especiais” têm sido ampliadas com mais homens e dinheiro, tendo ampliado suas operações ilegais em 75 países, contra 60 da gestão de Bush Jr. Além das unidades paramilitares que há anos operam nas Filipinas e na Colômbia, novas unidades estão realizando operações no Yêmen, em todo o Grande Oriente Médio, na África e na Ásia Central.

Mais de 13 mil “colaboradores especiais” atuam pelo mundo, 9 mil dos quais estão concluindo operações no Iraque e Afeganistão, enquanto outros 4 mil dividem-se nos demais países da lista negra da CIA e dos demais serviços secretos dos EUA.

Quanto a sua ação: assassinatos e atentados com mísseis teleguiados, assim como treinamento de unidades antiterroristas locais, que passam a agir em conjunto com as norte-americanas, após o término de “seminários educativos”.

Máquina assassina

A tática de Obama de travar “guerras secretas” é ainda mais perigosa do que a dos “falcões” neoconservadores e neoliberais que transformaram a Casa Branca em seu quartel-general ao longo dos anos das gestões dos Bush, pai e filho.

As “guerras secretas” que os EUA travam atualmente no Yêmen e em outros países deverão agora proliferar, não só porque o Governo Obama adotou, totalmente, este tipo de “approach”, mas porque este “approach” tornou-se agora tão institucionalizado e legalizado por um governo que continua carregando as pesadas bagagens ideológicas de seu antecessor.

Uma relação habitualmente incestuosa entre a CIA e o Pentágono que já transformou-se mais como organização paramilitar e que dirige todos os processos secretos, gerou e mantém em funcionamento uma máquina assassina norte-americana. A propósito: a campanha militar no Yêmen começou sem declaração oficial de guerra por parte dos EUA e nunca foi confirmada oficialmente. E, obviamente, não deverá ser.

O último elemento de ampliação da agenda “bélica” da Casa Branca é a política agressiva contra a América Latina, com os acordos para instalação e funcionamento de bases militares, navais e aéreas na América Central e do Sul, assim como no Caribe, com o objetivo único de cercar e reconquistar o controle, de qualquer forma, do “espaço vital” que, já há alguns anos, revela sinais de “desobediência” e constitui elemento crítico para a manutenção do predomínio dos EUA “abaixo do Rio Grande”.

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Fonte: Monitor Mercantil