De acordo com o estudo, do total de 12.969 projetos apoiados pelos fundos setoriais de 2000 a 2007, foram encontrados 504 (3,89%) relacionados à nanotecnologia. Os recursos destinados a estes projetos somaram R$ 195,3 milhões, o que representa 5,02% (R$ 3,9 bilhões) dos projetos financiados pelos fundos setoriais neste período.

Apesar dos investimentos do governo federal em nanotecnologia, não se tem tratado o setor do ponto-de-vista estratégico no país. Em entrevista concedida ao Brasilianas.org, César Júnior diz que falta integração de todo o governo, por meio de ministérios, para se articular indústrias e centros de pesquisa capazes de se dedicarem a determinadas áreas tecnológicas, como energia e agronegócio.

“Temos uma janela de negócios, uma boa oportunidade de entrada para países em desenvolvimento, já que os países desenvolvidos estão voltados para pesquisas mais delicadas e caras, como a cura do câncer”, afirma.

O coordenador-geral de Micro e Nanotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Mário Baibich, concorda que a PDP tenha sido estabelecida sem um orçamento capaz de acompanhar a necessidade de investimentos no setor. Contudo, não vê nisso um grande problema: “O fato de que mais de 5% das verbas vai para a área demonstra que ela foi considerada estratégica”, contesta.

Na avaliação de César Júnior, o setor de nanotecnologia não dispõe, no Brasil, de uma fonte própria de recursos. Diferente das bolsas concedidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) – que são diretamente voltadas para o próprio pesquisador – os fundos setoriais buscam garantir estabilidade para as atividades científicas e projetos.

Para um projeto ser submetido aos fundos setoriais, na maioria das vezes exige-se que haja parceria com alguma empresa, mesmo que advindos de universidades ou centros de pesquisa. Segundo César Júnior, “quase 80% dos recursos do governo vão para universidades e centros de pesquisa”.

De fato, ao contrário de países como Rússia ou Estados Unidos, o Brasil não se caracteriza por convergir investimentos numa área só. “A Rússia decidiu investir só em nanotecnologia, e ainda não se tem muitos resultados lá”, explica Baibich. O artigo do Ipea mostra que, nos EUA, onde o PIB (Produto Interno Bruto) é aproximadamente dez vezes maior que o brasileiro, o orçamento aprovado, apenas para a área de nanotecnologia, será de US$ 1,8 bilhão. O mercado total de produtos que incorporam nanotecnologias atingiu US$ 135 bilhões em 2007, e a expectativa é que alcance, em 2015, cerca de US$ 3,1 trilhões.

Para Baibich, do MCT, é pedir demais que o Brasil disponha de investimentos semelhantes aos de países como os EUA, embora o momento seja favorável. “Estamos numa fase de recuperação de investimentos em ciência e tecnologia. “Saímos de um patamar de menos de 1% do PIB em poucos anos”, afirma. Hoje, os investimentos federais em Ciência e Tecnologia (C&T) chegam a 1,5% do PIB, ainda abaixo dos 3% desejáveis.

César Júnior destaca que o papel das universidades é essencial dado o momento de expressivas possibilidades de lucro e seu potencial efeito de transbordamento para os diversos setores da economia. Em estágio inicial, o conhecimento envolvido é compartilhado, em congressos, debates e seminários, sobretudo dentro das academias. Trata-se da formação de um conhecimento de domínio público, a princípio, mas que pode gerar resultados no mercado. “É nas universidades que as empresas vão buscar o conhecimento que ninguém domina, e vão capitanear esse processo”, ressalta o pesquisador.

Baibich, que também é físico, identifica que o principal gargalo ainda é a demanda por mão-de-obra especializada e qualificada, não apenas para desenvolver e aprimorar pesquisas, mas para criar novos equipamentos. “Na minha área, precisamos de equipamentos sofisticados e, principalmente, que sejam feitos no Brasil, por brasileiros”, argumenta. Para o coordenador, só assim teríamos independência de novas idéias, já que a criatividade, aqui, fica limitada pelos instrumentos que ainda não temos.

Uma das principais soluções, sugere César Júnior, seria aumentar o investimento com foco, isto é, pensando-se exatamente quais os setores que podem ser explorado pela nanotecnologia. A opção de apenas se abrir editais para pesquisadores, sem se ter um direcionamento para áreas estratégicas, faz com que os recursos sejam pulverizados para diversas áreas tecnológicas, não se desenvolvendo uma profundamente. “E, pelo fato dessa ciência estar no estágio embrionário, a universidade é extremamente importante”, conclui o pesquisador do Ipea.

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Fonte: Brasilianas.org