Foto: Facebook de Gil Avelar

Gilse dedicou sua vida inteira `a luta por um mundo melhor e mais justo. Começou a se envolver com a política aos 16 anos, quando ingressou num colégio interno de freiras, onde ajudou a criar o grêmio estudantil. Foi quando conheceu a Juventude Estudantil Católica (JEC), um braço da Ação Popular. Sua atuação começou a extrapolar os muros da escola e seguiu pelas favelas da capital mineira trabalhando na alfabetização e politização dos trabalhadores.

Em 1964, passou em primeiro lugar para o curso de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica de Minas, onde queria dar continuidade `a sua militância estudantil e contato com a população pobre. Sua entrada na universidade coincidiu com a tomada do poder pelos militares e os tempos se tornaram perigosos. Gilse não se acovardou, pelo contrário, intensificou sua militância, fazendo parte do Diretório Acadêmico do seu curso e do Diretório Central dos Estudantes da universidade.

Na luta estudantil contra a ditadura, Gilse conheceu o amor que a acompanhou pelos próximos 20 anos e com Abel Rodrigues teve sua duas filhas, Juliana e Gilda. Neste período, com a prisão já decretada, o casal passou a viver na clandestinidade e sua primeira filha, Juliana, nasceu em 1968, junto com a instituição do Ato Institucional 5, que endureceu o comando das forças militares no poder.

Já no ano seguinte, os militares conseguiram executar sua prisão e Gilse foi levada direto para a “solitária”, onde passou a sofrer as piores torturas, com estupros, choques agressões e torturas psicológicas, quando os militares falavam para Gilse que estavam torturando também sua filha Juliana, que tinha 7 meses de vida.

Criada por Henfil

Felizmente, sua filha estava sendo criada e protegida pela sua irmã Gilda, que era casada com o cartunista Henfil. Gilse teve as primeiras notícias de Juliana quando foi transferida para o presídio em Juiz de Fora e depois de uma greve de fome, as presas conseguiram ter acesso `a informações através de leituras de jornais diários. Nas tirinhas das charges de Henfil no Jornal do Brasil, a militante recebeu em mensagens cifradas as informações que o maior problema de Juliana era comer muito sorvete.

Após sofrer por dois anos as piores torturas e humilhações, Gilse foi libertada e passou a atuar novamente na clandestinidade. Junto com seu companheiro e sua filha foi militar em São Paulo e soube que a Ação Popular estava sendo incorporada ao Partido Comunista do Brasil. Neste período, nasce sua segunda filha, que recebe o nome de Gilda em homenagem `a sua irmã.

Passou a integrar a direção do Partido e foi deslocada de São Paulo para o Ceará com a tarefa de organizar os comunistas no Nordeste. Gilse cumpriu tarefa central na organização partidária e mesmo na clandestinidade conseguiu liderar um grande crescimento da ação dos comunistas, principalmente entre a juventude estudantil. Depois, passou a ocupar tarefa central na organização da luta das mulheres, sendo uma das fundadoras e presidenta da União Brasileira de Mulheres.

Volta para Minas

Na década de 90, mais uma mudança sob a orientação partidária. Chegara a hora de voltar a Minas para liderar a organização dos comunistas na capital mineira e Gilse passa a ser presidente do PCdoB de Belo Horizonte. Mais uma vez cumpre suas tarefas com brilhantismo e abnegação e conseguiu que a legenda elegesse dois vereadores e se torna-se uma das mais influentes na atuação popular.

Após anos de atuação, Gilse começou a enfrentar graves problemas de saúde, vencendo pela primeira vez um câncer que a abalou. Após uma cirurgia no final da década passada, conseguiu significativa melhora, mas as orientações médicas eram que deveria ter uma vida mais regrada dali pra frente. Mas Gilse não se continha e novamente estava já liderando novas ações.

De novo contra o golpe

Nos últimos tempos, se envolvia nas lutas populares e no último ano na luta contra o golpe, o segundo que presenciou na vida. A comunista afirmava que essa etapa era mais difícil, pois a direita avançou num ataque feroz contra os direitos dos trabalhadores.

Mesmo com a saúde debilitada, Gilse estava presente em todas as atividades e passeatas. E quando não estava nas ruas, ficava entrincheirada atrás de um computador fazendo aluta virtual, atividade que a empolgava muito, descobrindo a cada dia as potencialidades que os novas formas de luta possibilitavam.

Gilse só parou de lutar por um mundo mais justo neste domingo, quando a morte venceu sua resistência. Mas seu exemplo de vida inspira novas gerações a continuar lutando contra as injustiças e arbitrariedades. Sua aparente fragilidade era apenas um disfarce de uma gigante lutadora. Era a expressão de um aço em forma de flor.