Morreu na madrugada desta quarta-feira (30), em Salvador, o economista Carlos Olímpio Martins de Carvalho, mais conhecido como Calucho, integrante do PCdoB-Bahia. Ele enfrentava um câncer e estava internado no Hospital Aliança, localizado no bairro do Rio Vermelho.

Calucho ingressou no PCdoB em 1974 e, além de militar no Comitê Estadual da Bahia, também foi dirigente do Partido no Distrito Federal. Aos 56 anos, era sócio da empresa de publicidade Tempo Propaganda, que tem sede na capital baiana.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, telefonou na manhã desta quarta (30) para os familiares de Calucho e se declarou impactado pela notícia. O dirigente nacional recordou a figura humana e a trajetória de luta de Calucho nas fileiras partidárias.Casado, Calucho deixa esposa, dois filhos, quatro netos e três enteados. Ele era irmão do secretário nacional de Comunicação do PCdoB, José Reinaldo de Carvalho.

O corpo está sendo velado no Cemitério Jardim da Saudade, localizado no bairro de Brotas, onde será cremado, às 15 horas desta quarta-feira (30).

O Partido Comunista do Brasil se despede de Calucho

Por Haroldo Lima*

Naquele momento o clima era de efervescência. A liberdade renascendo iluminava os rostos, inspirava os discursos, dava ritmo novo à vida que ressurgia dos escombros da tirania.

Um fato chamava a atenção, a movimentação febril dos novos atores que ocupavam a cena. Eram jovens, plenos de entusiasmo e idealismo, no fragor das batalhas libertárias, arrancando os novos tempos das entranhas do tempo que combateram.

Calucho era um desses jovens. Ativo, inteligente, pensava e agia. Era visceralmente ligado ao processo em curso, e opinava sobre tudo que acontecia, sedento de futuro. O Partido Comunista do Brasil ainda era clandestino e Calucho já era do Partido.

Naquele momento fazíamos um grande esforço para alargar as conquistas, ocupar novos espaços, destroçar os grilhões que ainda existiam. Foi quando fundamos o jornal Tribuna da Luta Operária. A Tribuna tinha que crescer. E só podia crescer e ampliar sua influência se em cada estado tivesse um grupo decidido que a assumisse, que a recebesse no aeroporto, levasse para um escritório central, distribuísse os pacotes por entre militantes e amigos, fizesse reuniões para discutir as orientações que vinham pelo jornal. Era a velha fórmula do jornal como orientador e organizador.

Um grupo ocupou essa trincheira na Bahia. Calucho estava na linha de frente desse grupo. Era edificante vê-lo trabalhando, incansável, sempre otimista, cumprindo essa, que era das mais importantes tarefas do momento.

Aquela geração se torna adulta, e Calucho se casa e forma família, tem filhos que lhe enchem de orgulho. Vieram depois as campanhas eleitorais, as primeiras que fazíamos em 30 anos, as primeiras que aquela geração de Calucho fez em toda a vida. Vitórias sucederam, novos desafios também.

Calucho vai a Brasília, onde ocupa posto de destaque na direção partidária local. Ajuda a nascente bancada dos comunistas a cumprir suas tarefas, organiza debates dentro da Câmara.

O tempo passa, as conquistas se ampliam, os combatentes da luta contra a ditadura vão ocupando novas posições na nova sociedade que ajudaram a criar e vão descobrindo aptidões que se desenvolveram.

Calucho sempre foi muito inteligente. Mas sua inteligência tinha aquele viés criativo, aquela propensão à inovação, à novidade. E por aí ele chega ao ramo publicitário. Como publicitário procurou sempre vincular essa sua nova atividade aos projetos políticos progressistas. Ajudou-me em diversas campanhas, foi esteio importante de campanhas de sua primeira esposa, a hoje senadora Lídice da Mata, e também do atual governador da Bahia Jaques Wagner.

Inesperadamente acometido por uma doença maligna, não se desesperou, lutou contra ela, com denodo e otimismo. Chegou a ir aos Estados Unidos atrás de uma medicação inexistente por aqui, mas que já não lhe deu o alento esperado.

No aconchego de seus familiares, que tanto amava e por quem era tanto amado, acolhido pelos seus camaradas do Partido e pelos seus amigos, Calucho se foi hoje [quarta-feira (30)]. Deixa a saudade imorredoura dos que souberam cativar amigos e admiradores, e lutaram, sem nunca perder a esperança, por um tempo em que a amizade e não a opressão ilumine nossos caminhos.

O Partido Comunista do Brasil se despede de Calucho.

* Haroldo Lima é membro da direção nacional do PCdoB