Saudação aos noventa anos do poeta Thiago de Mello
O abraço afetuoso da Fundação Maurício Grabois a todos e a todas.
Sejam benvindos a esta noite de alegria, noite da festa dos 90 anos do nosso poeta amado, Thiago de Mello, noite de celebração, de enaltecimento de sua poesia. Estamos aqui, Thiago, teus amigos, tuas amigas, tua comunidade de leitoras, de leitores, para celebrar a rica colheita que é tua obra.
Thiago nos diz, nos corrige sempre, que ao amor não se agradece. Mas, me perdoe, poeta, neste quesito serei insurgente. Quero agradecer aos que se irmanaram pela tua festa, pessoas e instituições.
À prefeitura de São Paulo, nas pessoas de Nádia Campeão, vice-prefeita da cidade; do secretário de cultura, Nabil Bonduqui; e nosso anfitrião, ao diretor desta catedral do saber, a Biblioteca Mário de Andrade, professor Luis Bagolin; à Câmara Municipal de São Paulo, na pessoa de Jamil Murad; à União Brasileira de Escritores, na pessoa de Ricardo Ramos; à Fernanda de Almeida Prado, da Chama Poética; ao Luís Alves da Editora Global; ao Ciro Figueiredo. E às entidades do povo, da juventude, da cultura, e dos trabalhadores que apoiam este evento. Que todas as lideranças, se vejam mencionadas, nas pessoas, de duas jovens mulheres, Karina Vitral, presidente da União Nacional Estudantes, e Camila Lanes, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas.
Thiago: No poema escrito por ti ao cinquentenário do poeta Daisaku Ikeda, disseste: “Cinquenta anos não são nada para quem põe sua vida na fundação de um milênio.” Pois bem, Thiago, noventa anos não são nada para quem, como você, põe sua vida a serviço desse grande desafio que é o de completar a humanização do homem, dessa grande jornada para a civilização triunfar sobre a barbárie. Por isto, tua poesia se projeta, como direi adiante, para o futuro afora.
Cá estamos em volta do fogo, em volta de ti, amigo poeta, com as nossas mãos entrelaçadas, e quem as uniu e quem as irmanou foi a tua poesia.
Fogo porque as brasas de tuas canções cozem os alimentos que nos nutrem a alma; fogo porque o calor de tuas estrofes nos aquece quando o frio e as nuvens sombrias nos ameaçam com o punhal da descrença; fogo porque as labaredas de teus versos espantam as feras e tangem os maus espíritos e agregam os homens e mulheres, companheiros e companheiras militantes da luta pela da utopia realizável, da construção da sociedade nova, humanista e solidária.
Digo que estamos em volta do fogo, de ti, porque a tua obra dispara canhões de luz quando as trevas nos proíbem de contemplar a aurora; fogo porque tua poesia é uma pira onde arde a esperança, nos dá energia para o amor, nos ensina a ciência do carinho, a arte da amizade, nos educa para sermos convictos com as nossas ideias e tolerantes com os que delas discordam, nos dá couraça ante a chibata da Casa Grande, e nos dá sustança para a luta, para travarmos o bom combate contra a ordem da ganância, contra a lógica de que, entremeio à opulência, as crianças de tua Amazônia, do nosso Nordeste, ou aquelas cujas residências são as marquises das ruas de São Paulo e dormem com fome, com bem denunciam teus versos.
Não somos magos, nós os integrantes do teu universo de leitores e leitoras.
Mas um animal que escapou do ferro que lhe sangrava a pata, e uma pessoa que caía em queda livre no poço da dor e que redescobriu o sentido de viver depois de ler teus versos, estes dois me disseram algo que eu preciso te dizer, poeta Thiago.
Tua poesia seguirá futuro adentro, atravessando os tempos e os espaços como um cometa brilhante que atravessa o cosmo.
Enquanto um ser humano, pressionado pelo mistério e o drama da existência, empreender indagações sobre o ser e o estar no mundo, tua poesia seguirá lida como quem lê filosofia em versos, que isto é o que é, Narciso Cego; enquanto homens e mulheres tiverem paixão, amor, carinho, sexo, as páginas-alcovas de teu delicado lirismo amoroso irão acolher ardentes e amorosos pares; enquanto a natureza for agredida por um tipo de desenvolvimento predatório, destrutivo, enquanto a Amazônia for alvo da cobiça do imperialismo, o Mormaço na Floresta, o Amazonas, Pátria da águas estarão nas mãos e nos lábios de moços e moças; enquanto os pesadelos sangrarem os olhos dos homens, enquanto as crianças e os pombos ciscarem a fome no cimento frio das praças; enquanto o pão faltar à mesa dos que semeiam o trigo; enquanto a barbárie, senhora das iniquidades, dama das guerras, for apresentada maquiada, no baile da vida, como uma bela donzela, sedutora princesa, tua poesia – tua utopia de construção de um novo mundo, onde tudo isso por decreto será banido – será declamada, proclamada, como quem lê salmos, como que lê proclamas, como quem lê compêndios da jornada daqueles que entregam a vida para tornar realidade essa utopia.
Vou terminar, porque todos nós o que queremos, nesta festa dos teus 90 anos, é ouvir tua poesia e nos deliciar com tuas palavras.
Mas, antes, vou citar três amigos teus.
Tenório Telles: “Thiago é um daqueles raros poetas em que a vida e obra se expressam, se entrelaçam, formado um todo orgânico”. Quer dizer, o criador e as criaturas vivem em harmonia. Não raro, na história da literatura, as obras se tornam adversárias dos escritores que as criaram. Como diz Tenório, os livros de Thiago “são quadros evocativos de seu itinerário poético-existencial”.
Oto Maria Carpeaux: “uma velha experiência nos adverte, não nos aproximarmos demais, pessoalmente, dos poetas e escritores que admiramos. É quase certa a desilusão, porque botaram tudo nos seus versos, e na vida só ficou um homem inacessivelmente seco. Mas este não é o caso de Thiago de Mello. Sua personalidade é tão rica que podia dar tudo em seus versos, e ainda fica um homem e um amigo de inumerável coração.” Quem se aproxima de Thiago, e ele é acessível a todos, sabem muito bem que é assim.
E fico por aqui, citando uns versos do teu amigo Manuel Bandeira: “Por mais que te louvássemos, jamais te louvaríamos bem.”
Feliz Aniversário, poeta amado.
Adalberto Monteiro
Presidente da Fundação Maurício Grabois