Nesta sexta-feira (10), em entrevista ao Estadão, a deputada rebateu as críticas de que a sua candidatura divide o campo de esquerda e reafirmou que a sua pré-candidatura vem compor a proposta de uma frente ampla. Em todas as ocasiões em que teve oportunidade, desde o anúncio de sua pré-candidatura, ela procurou afastar a ideia de que sua entrada na disputa visaria afastar ou dividir aliados ou “assustar o mercado”, na medida em que a seriedade do momento exige uma ampla união em defesa do país.

“Nosso partido tem a tradição de defender a frente ampla. Mas, para unir as forças, é preciso primeiro discutir os programas. A eleição brasileira ocorre em dois turnos. A frente ampla não é só com partidos de esquerda, mas com a sociedade”, afirmou. “Vamos procurar os setores econômicos vinculados à indústria nacional”, completou.

Questionada se a sua candidata tinha apenas o objetivo de pleitear a vaga de vice numa chapa com o ex-presidente Lula, Manuela afirmou que sua candidatura “é para valer”, pois ninguém lança candidatura para ser vice.

Manuela discorda enfaticamente que sua pré-candidatura possa interferir negativamente no projeto do ex-presidente Lula. “É impossível que uma candidatura comprometida com a retomada do desenvolvimento do país e com a melhora das condições para os brasileiros enfraqueça qualquer projeto que tenha isso em comum. Temos 95 anos de história, me parece no mínimo normal que, em um momento difícil como este, pensemos em apresentar nossas próprias ideias”, defendeu.

“O PCdoB tem 95 anos e só lançou candidato em duas ocasiões: em 1930, no Bloco Operário e Camponês, e em 1945. Não é do nosso feitio fazer política para se valorizar. Achamos que, com a ruptura democrática do ano passado, surgiu o momento de um novo ciclo. Ninguém com responsabilidade lança uma candidatura à Presidência para ser vice. Nossa candidatura é para valer. Tem segundo turno”, destacou.

Ela também reforçou que a proposta de frente ampla não está restrita ao campo de esquerda e que a proposta do PCdoB é de promover um amplo debate com todos os setores do país.

“Essa eleição é um momento de debate do futuro do País. Nós caracterizamos o que aconteceu como um golpe institucional. A partir disso, achamos que essa eleição é um momento de debate de futuro, não de passado”, frisou.

A nova entrevista reafirma o que Manuela já sinalizara na sua primeira coletiva na Câmara dos Deputados, quando apontou que a sua pré-candidatura tem o objetivo de debater saídas para a crise, tendo como estratégia a construção de uma frente ampla com o conjunto da sociedade. “Quando falamos numa candidatura de mudança é porque acreditamos que as eleições de 2018 serão o momento de debate de saídas para o país”, enfatizou.

Frente para sair da crise

Assim que foi anunciada como pré-candidata pelo Comitê Central do Partido, no domingo (5), Manuela já apontara que a sua pré-candidatura tem o objetivo de debater saídas para a crise, tendo como estratégia a construção de uma frente ampla com o conjunto da sociedade. “Quando falamos numa candidatura de mudança é porque acreditamos que as eleições de 2018 serão o momento de debate de saídas para o país”, enfatizou.

Ainda na Câmara dos Deputados, quando foi apresentada, explicou: “Nossa frente ampla e popular é construída por múltiplos setores organizados. Além dos partidos, temos os movimentos sociais e existem pessoas que não estão organizadas dentro desse movimento. O Brasil tem o setor industrial que precisa ser ouvido sobre temas importantes da economia para poder gerar emprego para o povo desempregado. O nosso movimento será de conversa, de escuta e também de construção junto aos partidos tradicionais, mas também dos movimentos sociais e com os cidadão e cidadãs do nosso pais”, apontou.

O comunicado da presidenta do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos (PE), por sua vez, apresentava as linhas programáticas da pré-candidatura, como “a retomada do crescimento econômico e da industrialização; a defesa e ampliação dos direitos do povo, tão atacados pelo atual governo; a reforma do Estado, de forma a torná-lo mais democrático e capaz de induzir o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho”.

A escolha de Manuela como pré-candidata resultou dos debates que o PCdoB já está realizando na construção de seu 14º Congresso, que acontece entre os dias 17 e 19 de novembro, em Brasília.

“Estamos organizando a nossa agenda, o primeiro grande momento é o nosso Congresso. Será a oficialização diante da nossa militância que é o coração do PCdoB. Somos um partido de militantes, de homens e mulheres que constroem a nossa identidade”, reforçou.

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, enfatizou as eleições de 2018 como uma importante saída para a atual crise, na medida em que “em primeiro lugar é preciso não restar dúvidas de que a saída é necessariamente política”. Durante palestra na UFMG, em Belo Horizonte, ao lado de Ciro Gomes (PDT), ele emendou que contribuição do PCdoB para o debate de projetos para o país é a pré-candidatura da jovem e já experiente deputada estadual gaúcha Manuela D’ávila. “Essa pré-candidatura tem por objetivo dialogar com o Brasil e reunir forças e convicções em torno da reconstrução do projeto nacional de desenvolvimento”.

Força feminina

“Essa pré-candidatura me deixa muito alegre. É muito bom ver um partido quase centenário, escolher uma jovem mulher para representá-lo”, declarou Manuela em sua primeira entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (8), na Câmara dos Deputados.

Rodeada pelas parlamentares do partido, Manuela respondeu durante a coletiva sobre o papel da mulher na política do PCdoB. Na Câmara dos Deputados, a bancada do PCdoB tem proporcionalmente a maior bancada feminina.

“Somos um partido com história de mulheres que lutam e o partido mostra que a política pode ser feita por mulheres e homens comprometidos com um projeto de desenvolvimento nacional”, enfatizou a pré-candidata.

Estiveram presentes na coletiva a senadora Vanessa Grazziotin e as deputadas Alice Portugal (PCdoB-BA), Jô Moraes (PCdoB-MG) e Luciana Santos (PCdoB-PE), presidenta do Partido. Negra, nordestina e prefeita de Olinda por duas vezes, como definiu Manuela, Luciana abriu a coletiva afirmando que “a candidatura de Manuela está a serviço de um projeto de mudança no Brasil, que há um ano viveu uma grave ruptura democrática”.

Movimentos Sociais

Direitos Humanos, Educação, Juventude e Direitos da Mulher são algumas das áreas onde foi construída a trajetória política de Manuela. Em sua primeira entrevista coletiva a parlamentar gaúcha demonstrou sintonia com pautas dos movimentos sociais e sindicais, conforme ressaltaram lideranças.

Segundo o dirigente sindical Wallace Paz, secretário-geral da Federação de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), as palavras de Manuela provocaram simpatia na entidade. “Para a federação, os candidatos que tenham o compromisso com a retomada do crescimento a partir da área produtiva vão gerar identidade entre os trabalhadores e a candidatura”.

Ativista da União Brasileira de Mulheres e integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Lúcia Rincón, afirmou que há sintonia entre o discurso de Manuela e as bandeiras da luta pela igualdade de gênero.

“Ela enxerga com clareza a realidade do Brasil. A declaração [sobre o impacto da crise econômica sobre as mulheres] é mais uma demonstração da sensibilidade e da clareza política de Manu e, num momento de posicionamento político, aponta que a base da sustentação desta sociedade está na exploração do trabalho e, em particular do trabalho das mulheres”, completou Lucia.

Aos 36 anos, o currículo de Manuela não impede que ela seja considerada jovem para concorrer à presidência. “40 mil brasileiros não chegam à minha idade vítimas da violência. Dizer que eu sou muito jovem para qualquer desafio é desconhecer a realidade no Brasil. A juventude brasileira busca emprego e enfrenta múltiplas situações de violência”.

Em entrevista na terça-feira (7) ao Portal Vermelho, a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, afirmou sobre a pré-candidatura de Manuela: “A gente recebe essa notícia com muita esperança, a Manuela é a representação de que é possível construir a política de forma diferente”.

Biografia

Manuela é jornalista e deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, já tendo cumprido dois mandatos como deputada federal, quando foi líder do PCdoB na Câmara dos Deputados. Foi indicada três vezes pelo Diap como uma das 100 “Cabeças” do Congresso e cinco vezes ao Prêmio Congresso em Foco, que premia os melhores parlamentares do Brasil. Em 2014 foi eleita deputada estadual e atualmente é também procuradora especial da Mulher da Assembleia Legislativa.

Em 1999, filiou-se à União da Juventude Socialista (UJS). Também foi vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 2004, com 23 anos, foi eleita a mais jovem vereadora de Porto Alegre.

No PCdoB, ingressou em 2001 e, em 2013, foi eleita presidenta estadual do partido. Na Câmara Federal, Manuela foi autora da Lei do Estágio e relatora do Vale-Cultura e do Estatuto da Juventude, presidiu a Comissão de Direitos Humanos e foi coordenadora da bancada gaúcha. Como deputada estadual, apresentou projetos importantes e foi proponente de diversas audiências públicas para debate de problemas e soluções com a população.