A morte de Marielle, mulher, negra e lésbica, foi apontada como uma ilustração dos desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil e no mundo, principalmente em relação à violência. Por outro lado, o crime contra a vereadora deverá intensificar a luta das mulheres, segundo Manuela D’Ávila, pré-candidata à presidência da República do PCdoB, que participou da assembleia.

“Nenhuma assembleia de mulheres foi tão importante quanto essa. Neste Fórum Social Mundial, construímos a melhor resposta que podemos dar àqueles que tentaram tirar Marielle da luta da mulher, do povo negro, das comunidades faveladas periféricas. A nossa resposta é de transformar as lágrimas em luta. E muita luta”, afirmou Manuela D’Ávila.

A secretária estadual de Mulheres do PCdoB, deputada federal Alice Portugal, também participou do encontro, e reforçou a necessidade de ampliar a luta pela igualdade, a partir do caso Marielle. “Essa Assembleia nos dá voz para garantir que a luta vale a pena, a luta das Marielles, que morrem na periferia das cidades. O sangue de Marielle fará brilhar a nossa luta. Por isso, mulheres de todo o mundo: rebelem-se contra toda opressão”, defendeu Alice.

A Assembleia também contou com as presenças de Liège Rocha, secretária nacional de Mulheres do PCdoB, Vanja Santos, presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), e Julieta Palmeira, secretária de Mulheres do governo do Estado. Para Julieta, o nome de Marielle passa a representar o feminismo no país. “Sejamos todos Marielles, e sejamos todas feministas, porque é isso que vai fazer a gente superar essa situação em que a gente se encontra dentro do capitalismo. O patriarcado tem submetido as mulheres a uma situação que não dá mais para aguentar”.

Vanja Santos, presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), enfatizou que a luta em defesa da democracia precisa vir com força. “O momento é de retomada das ruas e do fortalecimento dos movimentos sociais, das lutas das mulheres que hoje mais do que nunca se colocam no centro da resistência no Brasil e no mundo”. A UBM foi uma das entidades articuladoras da Assembleia assim como dos pontos inegociáveis aprovados ao final da atividade.

Golpe e misoginia

Na ocasião, as lideranças comunistas criticaram o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, a primeira mulher a chegar à presidência da República, em 2016. “Um golpe antidemocrático, antinacional e misógino”, segundo Manuela D’Ávila. Alice Portugal ainda criticou o governo Temer, principalmente em relação às políticas paras as mulheres, e denunciou as violações à democracia.

“Esse regime de exceção instalado por Temer mata, reprime, retrai a democracia e oprime as mulheres. Essa edição do Fórum Social Mundial aqui na primeira capital do Brasil irá reverberar para o mundo que queremos a democracia de volta, queremos os direitos do povo de volta e queremos respeito, liberdade de opinião e os direitos das mulheres, das mulheres negras que estão no subsolo da pirâmide social”, disse a secretária de mulheres do PCdoB-BA.

Mulheres no poder

Manuela D’Ávila também defendeu a necessidade de ampliar a inserção das mulheres nos espaços de decisão, ainda subrepresentadas, como forma de garantir um compromisso real com a igualdade de gênero. “Nós só garantiremos os nossos direitos de mulheres, de negras, de lésbicas, se nós garantirmos países que nos coloquem na construção de seus rumos. A revolução será feminista”, concluiu Manuela, que também é deputada estadual no Rio Grande do Sul.

Agenda Internacionalista

A partir das discussões, a Assembleia Mundial de Mulheres do FSM aprovou um documento, com pontos ‘inegociáveis’ para a construção de uma agenda internacionalista da luta feminina. O documento foi dividido em dez eixos que podem ser lidos abaixo:

1 – Pelo pleno reconhecimento do trabalho produtivo e reprodutivo. Todas somos trabalhadoras, não importa se em casa ou no mercado ou na comunidade. Pela igualdade de oportunidades e igualdade salarial, contra o assédio sexual e moral no trabalho, pelo pleno reconhecimento do trabalho de cuidado remunerado, exigimos políticas públicas para garanti-lo.

2 – Pelo fim dos feminicídios, trans feminicídios e de todas as formas de violência, sejam sexuais, físicas, simbólicas, psicológicas, domésticas, trabalhistas, obstétricas, patrimoniais e epistémica praticadas no âmbito público, privado e no ativismo.

3 – Pelo nosso direito de decidir sobre nossos corpos, sentimentos e pensamentos, com autonomia sem interferências do Estado, dos fundamentalismos religiosos e do poder econômico.

4 – Por nossa emancipação real e substantiva e acesso ao poder político.

5 – Pelo fim da utilização de nossos corpos como uma arma de guerra, pelo fim da perseguição e assassinatos das defensoras de direitos humanos.

6 – Pelo nosso acesso e de todas as pessoas à educação universal, emancipadora, transformadora, libertária, não racista e não sexista.

7 – Contra o racismo, a xenofobia, o genocídio e o fim do encarceramento das pessoas negras, indígenas, migrantes e pobres.

8 – Pelo reconhecimento de nossa identidade e expressão de gênero auto percebidas. Pela plena garantia de nossos direitos, fim da discriminação e da violência por orientação sexual, identidade e expressão de gênero.

9 – Pelo desmantelamento da estrutura patriarcal dos meios de comunicação, pelo fim da mercantilização e hipersexualização de nossa imagem. Nossa invisibilidade nestes meios contribui para o silenciamento de nossas lutas.

10 – Pela justiça climática. Somos parte da natureza e não donas dela. Contra o capitalismo, o colonialismo e o imperialismo que nos exploram e exploram ao redor do planeta, cujas disputas pelo mercado e fontes geram guerras, destruição, violências e mortes que atentam contra nós.