Segundo Aloísio Barroso, pesquisador da Grabois que coordenou a reunião, o objetivo era, para além da instalação, discutir um calendário e operacionalidade do grupo, tendo em vista estabelecer um processo de estudos e pesquisas sobre a realidade chinesa. “A reunião já vinha sendo entabulada, por meio de contatos da Perseu Abramo conosco e algum interesse da embaixada chinesa no sentido de acompanhar este processo vinculado aos partidos das fundações”, contou.

Entre um dos temas centrais que o grupo, já preliminarmente, vai colocar para discussão é a questão da Nova Rota da Seda, um projeto estratégico, geoeconômico e de vinculação com os temas de integração territorial e energética “de uma dimensão extraordinária”. “Um dos temas que envolvem vários países, projeto longo e demorado com muito recurso e que, naturalmente, vai mudar, sim, o perfil da economia mundial, do ponto de vista da consolidação da nova divisão internacional do trabalho, nucleado pela China e também pela Ásia”, explicou Barroso.

De fato, conforme analisa ele, desde a ascensão neoliberal nos anos 1980, paralelamente se estabeleceu essa nova divisão internacional do trabalho, onde a questão da integração produtiva e do desenvolvimento de um padrão industrial arrojado e com tecnologia avançada tem sido estimulada pela China.

Essa iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda, em suas dimensões terrestres e marítimas, são uma grande novidade do ponto de vista de um modelo de inserção nas relações internacionais na qual busca-se o desenvolvimento por meio de infraestrutura. Tem uma capacidade de criar canais de fluxo de bens e comércios e de integração entre os povos. É uma integração real, não é apenas comercial, mas física. Tem uma importância muito grande para a ordem internacional, sobretudo porque não é uma integração clássica preconizada pelos liberais, pela finança, ou pelo comércio, mas é uma integração física. Assim, ela guarda uma dimensão simbólica e material bastante forte.

 

Elias Jabbour (Foto: Cezar Xavier)

O professor da UFRJ, Elias Jabbour, destacou o caráter inédito de duas fundações partidárias se unirem para entender um projeto que está mudando o mundo. O que os chineses estão propondo é uma conexão mundial, na opinião dele. “Alguém no Brasil precisa entender isso e nós estamos nos dispondo a isso. Este é o caráter simbólico do lançamento da pedra fundamental deste projeto. Não existe uma formatação muito precisa, eu diria que o caráter deste projeto é político/acadêmico”, afirmou.

Debate estratégico

O professor gaúcho de Relações Internacionais, Diego Pautasso, falou da importância de criar um grupo de monitoramento da Nova Rota da Seda, que talvez seja a maior experiência de integração euroasiática e contemporânea no mundo. Essa integração euroasiática representa a liderança chinesa e, na opinião dele, representa uma mudança na configuração de poder mundial.

 

Diego Pautasso (Foto: Cezar Xavier)

“Para nós brasileiros, não é apenas uma forma de compreender para onde o mundo caminha, mas também extrair as lições de como conduzir uma eventual integração com base em infraestrutura. Porque em qualquer eventual governo progressista, a integração infraestrutural da América Latina será um imperativo da nossa política externa”.

Pautasso observa que o grupo pode produzir estudos, fazer seminários, realizar articulação entre acadêmicos progressistas e partidos políticos de esquerda e também uma concertação com acadêmicos chineses e embaixadas chinesas. “E, até, alguma visita de acompanhamento in locu na Eurásia”.

 

Artur Henrique

O diretor da Fundação Perseu Abramo, Artur Henrique, considera que o papel que a China tem na geopolítica mundial, – em especial, essa iniciativa Obor, ou a nova rota chinesa de investimentos envolvendo vários países –, é fundamental para analisar o futuro da geopolítica mundial e suas disputas. “E, principalmente, para uma relação mais aprofundada de conhecimento entre os partidos e as fundações a respeito, não só desse projeto, como também da própria situação da China e do Brasil, hoje”, defende ele.

Para o petista, essa troca e aprofundamento de conhecimento em torno de um tema, por meio da ideia de um grupo de trabalho é importante para que se possa fazer pesquisa, levantar dados e oportunidades. “Inclusive, do ponto de vista do Brasil, e do ponto de vista chinês, quais são as oportunidades para os trabalhadores, para os partidos e a esquerda brasileira?”, propõe ele.

 

Claudio Puty (Foto: Cezar Xavier)

O economista da UFPA, Cláudio Puty, também representou a Fundação Perseu Abramo, e considera esta uma iniciativa inovadora “porque traz para as duas fundações um tema que o próprio governo golpista se abstém de fazer, que é discutir a estratégia de expansão chinesa a partir da infraestrutura”.

Em segundo lugar, ele considera um aprendizado, “porque queremos voltar ao governo, para o bem do país, e queremos aprender com os chineses a partir dessa experiência de amplo investimento em infraestrutura como é que integramos a América do Sul”.

Puty também considera que os dois partidos, PT e PCdoB, se colocam como protagonistas de preocupações acerca da geopolítica mundial. “Com a ausência de um governo, propriamente dito, no país, os dois partidos assumem tarefas de pensamento estratégico”, acredita o paraense.

Também participou da reunião a diretora da Fundação Perseu Abramo, Rosana Ramos.