O grupo, com a assessoria de pesquisadores acadêmicos, pretende fazer um diagnóstico aprofundado do projeto chinês, intitulado pelo governo daquele país como One Belt One Road (OBOR) e internacionalmente conhecido por Nova Rota da Seda – referência ao projeto de investimentos levado a cabo pelo império chinês no século II e que deu origem ao famoso corredor de comércio continental.

Leike, afirmou que seu país mantém a disposição de investir no Brasil, para o qual diz existir um fundo de 20 bilhões de reais. “Nós não vamos determinar qual o modelo dos projetos. Cada país é um. Nossa iniciativa é dizer aos países: quais projetos vocês precisam?”, disse.

O plano chinês prevê trilhões de dólares em projetos de infraestrutura em diferentes países, incluindo sul-americanos. O grupo de trabalho criado pelas fundações quer identificar oportunidades de aprendizado e cooperação.

“Em um mundo marcado pela ideia de austeridade e de predominância do capital privado, a China parte em outra direção, oferecendo ao mundo um leque de opções de investimentos em infraestrutura”, comentou o professor Claudio Puty, da Universidade Federal do Pará.

Numa linha complementar, Adalberto Monteiro, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois, destacou que o projeto chinês foge à regra da circulação de capitais especulativos para investir no mundo real. O diretor de Estudos e Pesquisas, A. Sérgio Barroso, também da Grabois, lembrou que a investida chinesa ocorre num momento em que a hegemonia estadunidense está em crise, o que pode representar mudanças geopolíticas significativas.

O cônsul geral adjunto, ao falar do Brasil, recordou que visitou o país pela primeira vez para acompanhar a primeira posse de Lula como presidente da República. “Pude ver a energia, a capacidade de o Brasil construir um grande futuro”. Leike afirmou que durante os governos Lula e Dilma houve forte aprofundamento das relações entre os dois países.

Presenteado por Artur Henrique, dirigente da Perseu, com um exemplar do livro “A Opção Sul-Americana” – coletânea de artigos e ensaios de Marco Aurélio Garcia, ex-assessor para assuntos internacionais de Lula e Dilma, editado pela Fundação e pelo Instituto MAG, o cônsul chinês elogiou: “Conheci o Marco Aurélio. Foi uma grande figura. Ele sempre defendeu os interesses dos povos, não de um único bloco”.

 

GT Nova Rota da Seda

Após a exposição do diplomata chinês, o Grupo de Trabalho decidiu promover um seminário de “nivelamento temático”, sobre aspectos centrais dos objetivos e configuração processual da NRS. O seminário, que contará com estudos já existentes e novos trabalhos acerca da NRS, deverá se realizar entre o final de novembro e o início de dezembro de 2018.

O GT apresentou ao documento das Fundações, no ponto Linhas de Pesquisa, mais um ponto, um 5º, que já havia sido aventado anteriormente, ficando assim formulado:

Linhas de Pesquisa:

1. Financiamento, instituições e planejamento infraestrutura na Nova Rota da Seda

2. O papel da NRS no encadeamento industrial e na promoção da inovação

3. Grande Estratégia Chinesa, conflitos e questão securitária na NRS

4. Desafios socio-ambientais na integração econômica eurasiática

5. Impactos da NRS no Brasil e no seu entorno geopolítico (compreendendo América Latina e África) 

Ainda segundo relato de Barroso, a reunião decidiu também: 1) formalizar à Embaixada da RPC o documento das Fundações comunicando os objetivos do GT, assim como estabelecer vínculos mais sólidos com o governo chinês, tendo em vista o ineditismo da iniciativa do GT; 2) indicar para março próximo um outro seminário, desta feita mais adensado, visando a publicação de um livro sobre as pesquisas do GT; 3) que está incluído no programa do GT a ida de pesquisadores das Fundações à China, proximamente, para acompanhar e se instruir sobre a evolução e fases da NRS.

A princípio, ficou definido que os pesquisadores da Grabois no GT são: Diego Pautasso, Elias Jabbour e Gaio Doria. A Grabois deve anunciar mais um nome para o quadro de pesquisadores, ainda em estudo. A Fundação designou Barroso como representante nesse grupo de trabalho. Além do diretor Artur Henrique, a Perseu Abramo já indicou o pesquisador Claudio Puty para o GT, sendo que posteriormente definirá demais nomes.