Ainda que o canto desça, de atropelo

como abelhas no enxame alucinante
em torno a um tronco, e me penetre pelo
ouvido, em sua música incessante,

 

juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo.
Hei de fechá-lo em mim como diamante
dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo
na minha alma cansada e navegante.

 

E nunca mais proclamarei que te amo.
Antes o negarei – como os namoros
secretos de menino encabulado.

 

Que se cale este verso em que te chamo.
Cessem para jamais risos e choros.
Meu amor mineral é tão calado!

 

Livro: Boca da noite, 1979
Autor: Odylo Costa, filho
Editora: Salamandra, Rio de Janeiro