Entrelinha(o)

 

O vinho me olhava mais velho que eu,
apurado em seu descanso.
Eu que nem sei mais o que pedir,
dei minha oração aos apertados do beco.
Sempre estará presente a poeira nas coisas.
Em pratos limpos e no linho da toalha na mesa
ela retorna quieta e tão visível
que o olho nu não dá fé.
A palavra me visita, bate à porta e adentra
sem cerimônia.
Ela me entende, canta e cozinha pra mim.
E eu não me compreendo.
“Vai que chega a aparição”, ela diz.
E toma um gole do meu vinho e daquele jeito.
Como uma mulher nas entrelinhas.

 

Marta Eugênia  –  é Especialista em Linguística e Professora de Língua Portuguesa na cidade de Arapiraca em Alagoas.