A CRUZ DE GIZ

 

Eu sou uma criada. Eu tive um romance
Com um homem que era da SA.
Um dia, antes de ir
Ele mostrou-me, sorrindo, como fazem
Para apanhar os insatisfeitos.


Com um giz tirado do bolso do casaco
Ele fez uma pequena cruz na palma da mão.


Ele contou que assim, e vestido à paisana
anda pelas repartições do trabalho
Onde os empregados fazem fila e protestam
E protesta juntamente com eles, e fazendo isso
Em sinal de aprovação e solidariedade
Dá uma palmadinha nas costas do homem que protesta
E este, marcado com a cruz branca
é apanhado pela SA.


Nós rimos com isso.


Andei com ele um ano, então descobri
Que ele havia retirado dinheiro
Da minha caderneta de poupanças.


Havia dito que a guardaria para mim
Pois os tempos eram incertos.


Quando lhe pedi satisfações, ele jurou
Que as suas intenções eram honestas.


Dizendo isso
Pôs a mão no meu ombro para me acalmar.
Eu corri, aterrorizada.


Em casa
Olhei para as minhas costas no espelho, para ver
Se não havia uma cruz branca.

 

 

 

Bertolt Brecht