Dona Vitalina

      Um cabelo branco prateado brilha no sol do meu olhar, hoje nos meus
sonhos. Minha mãe encantou-se! Procuro aconchego nos textos, tecidos,
com os dedos e as saudades. Lembro de quantas vezes me despedi e a
carregava comigo em minhas bagagens, paragens incertas e no coração.

      Comi o pó da estrada como o bom filho que vai para o mundo, cheio de
gana e enganos. Deixava quará minhas tristezas. Deus me deu minha mãe,
minha mãe me deu Deus. O tempo nos ensina a carregar um sorriso, um
abraço, um cheiro. Para mim é um desrespeito falar das pessoas que
amamos com tristeza.

      Minha atividade me tornava, aos poucos, cada vez mais racional. No
entanto, em cada eito do que estudava buscava o “alento invisível que
nos anima”, essa força tão comovente que nos coloca em comunhão com o
mundo e as pessoas, onde se situa o mistério da vida, o amor. Ali me
encontrava com minha mãe. Ali encontrava com uma força vital que me
empurrava para frente, que me fazia perder o medo da transitoriedade
do tempo e que sussurrava dentro de mim, “vai, a vida vale a pena!”. A
mãe levantando ternamente a cabeça da criança para o horizonte.

      Mas me lembrava de quantas vezes minha mãe gritava o meu nome na
infância. Comer, estudar, trabalhar, a voz que desperta para a vida.
Vai viver filho! Restou um cheiro do café, a fumaça do feijão, a rapa
da panela, uma vontade imensa de querer brigar com o mundo pelo filho.

      O vestido estampado, uma vaidade, o perfume, o abraço de boas vindas.

      Nunca sai do coração. Descobri depois, e a ciência médica ensina, a
gravidez tira o coração da mãe do lugar, mexe com os seus órgãos e das
entranhas saímos com sua força. A primeira força que contamos para
viver.

      Não me envergonho e ainda choro. Só as mães são felizes! Cantava o
Cazuza. Tenho uma saudade entalada, mas a certeza que enquanto vou
vivendo ela vai junto comigo. Dou as mãos para a vida e fico mais
forte, com mais vontade de viver, com mais vontade de amar. Não estou
sozinho. O primeiro amor a gente nunca esquece. Vai com Deus mãe!

André Luiz dos Santos- Psicólogo formado na Universidade Federal de Uberlândia e Mestre em Educação na Universidade Federal de Goiás. Publicou poemas na Revista Cult e Parágrafos e alguns artigos em jornais de Goiás.
No Jornal Cidade – Uruaçu-GO, mantém uma coluna intitulada "Cultura:diário de bordo".