Ao estilo irônico e sarcástico do implacável jornalista e crítico literário norte-americano H. L. Mencken, iconoclasta de quatro costados, fui perpetrando estas frases neo-cínicas, à guisa de intertextualizar seu gênio inimitável. Lá vão elas, feito petardos ou lance de dardos mallarmaicos: A falta de fundos para financiar os altos custos de explosivos casos amorosos, de par com a ausência de coragem para enfrentar as turbulências e trovoadas inerentes às varas de família, e não a boa moral cristã é que têm feito muito homem metido a Don Juan permanecer nos trilhos do bom comportamento.

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       O sentimentalismo de moçoilas interioranas vem de ser, há séculos, a praga virulenta, na literatura feita por mulheres. E tudo indica que a enfermidade da literatice adquiriu fôlego para insinuar-se entre os representantes do dito sexo forte. Há tanta pieguice e sentimentalismo barato, em quase tudo o que escrevem os marmanjos, muitos deles premiadíssimos, que quase vem se justificar o preconceito de uns contra os varões que escrevem melosas poesias sentimentais. É que, assim fazendo, estão a soltar a franga em terreno mais propício à sensibilidade feminina.

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      Acaba de ser criada a Associação dos Escritores Ágrafos. A instituição sem fins lucrativos tem por objetivo provar que escritoras e poetinhas cujo trabalho literário resume-se em recontar piadinhas manjadas (ou tecer intermináveis lamúrias de auto-piedade) não precisam dar-se ao trabalho de ler os clássicos, nem qualquer modalidade de obra literária.

       Os estatutos da entidade só esqueceram de lembrar ao distinto leitorado que este também fica dispensado de ler abobrinhas garatujadas por sub-escritores e pseudo-literatos que não lêem nada para não serem influenciados por nenhuma mente menos anêmica do que a deles. Argh!

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       Quando a mulher sugere ao homem seu conhecido que o marido não a compreende, que é um bêbado inveterado, e que estará em viagem na próxima semana é sinal de que Capitu capitulou, e sinal seguro de que ele pode avançar sobre aquilo que a natureza não economizou, em toda Capitu.

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       Os intelectuais orgânicos mantêm, com muita astúcia e instinto de sobrevivência, sua organicidade partidária, que consiste em jamais trair seu alinhamento e apoio automático a toda sigla ou pessoa que estejam no poder. Não é preciso dizer que tais eminências, sempre engalanadas com pletoras de discursos esquerdizantes, estão sempre a bordo de cargões em todos os níveis de governo, e suas gordas contas bancárias são muito disputadas pelas mais sólidas instituições de crédito.

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       Penso a medrosa ilusão dos que se enjaulam ao lado dos parques públicos, onde só os suburbanos excluídos do ter passeiam, domingueiros, com a leveza de quem não têm nada a ganhar ou a perder. Os incluídos pagam os tubos para ter direito a ouvir o rugido famélico do rei dos animais. Quanto ao leão propriamente dito, o que é tão temido quanto malquisto, vai bem de finanças, obrigado, e pode deixar ao largo de sua gula fiscal os que nunca vão aos palácios do consumismo, por terem sido exilados no vale dos esquecidos.

Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.