Nasceu o herói. Nasceu de geração espontânea, digo, nasceu de um rabisco à lápis, inspirado nas coxas da pesquisadora, debruçada sobre os livros na biblioteca. Ainda sem saber se era pássaro ou gente, o herói queria mesmo era ser herói. A partir dessa resolução, parou de masturbar-se debaixo do chuveiro, parou de ler o horóscopo no jornal, refreou suas inclinações para pederasta e proxeneta, deu fim ao projeto de tornar-se economista de Estado e estudou lógica, ética, estudou os fundamentos da República e aprendeu, aprendeu, aprendeu… pra depois desaprender.

      Nessa altura, já sabia que o jacaré que nada de costas vira bolsa de madame na Oscar Freire e sabia também que uma andorinha não move montanha, mas nem por isso tornou-se um homem de verdade, pois como foi dito, o herói era apenas um rabisco no papel. Ainda na sua trajetória de herói, começou a buscar algo contra o qual valesse a pena lutar e logo declarou guerra contra o que chamou de a “falsificação geral da vida” mas, contudo e porém, desprovido de espada, escudo, lança, aviões bombardeiros e sem a possibilidade de tornar-se Senador da República ou dono de sistema de rádio e televisão. Mas, ora, o herói tinha uma arma, uma única arma que era um sinal de nascença, um pequeno círculo nas partes baixas que poderia ser identificado como um cu. Então, com a ajuda perversa de alguém sentado na frente da tela do computador, passou a cagar em tudo.

      Cagou na chamada crítica construtiva, cagou na imprensa vendida com ares de isenção, cagou nos personagens remasterizados da vida política nacional e continuou cagando tanto, que logo foi considerado escatologicamente armado e perigoso. Contudo, quanto mais cagava, mais se aproximava verdadeiramente dos homens de verdade, desses que trabalham, sonham e amam. Assim, não querendo mais ser herói de nada, o herói disse suas últimas palavras em forma de um samba cantado baixinho e, cantando, transformou-se num halo em forma de falo e penetrou pela vagina umedecida da pesquisadora que, no momento da penetração, sorriu discretamente, achando graça num livro de filosofia escrito em alemão.