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O auditório da União Brasileira de Escritores (UBE), no centro de São Paulo, lotou, nesta quinta-feira (30), para o lançamento de Pé de Ferro & Outros Poemas. O livro de poemas de Adalberto Monteiro traz observações líricas sobre a realidade dura da cidade de São Paulo, reflexões sobre a condição social da humanidade em tempos de barbárie, cenas da memória pessoal, além do exercício romântico e sensual da linguagem.

 

O presidente da UBE, Durval Noronha Goyos Jr, saudou Monteiro e falou do carinho da entidade com escritores que têm a preocupação social como tema de sua prática literária, algo que sempre foi caro à entidade. O secretário de Finanças da Fundação Maurício Grabois, Leocir Costa Rosa, parafraseou Carlos Drummond de Andrade para apresentar o poeta como um “lutador das palavras”, para além do ringue das ideias políticas no qual combate.

O poeta Jeosafá Fernandez, militante da educação e da cultura, foi o autor de uma pequena resenha para o livro, tarefa que assumiu com prazer e orgulho, diante da qualidade dos poemas que leu. Ele contou uma parábola para a invenção das palavras e sua importância para representar “as coisas na ausência das coisas”. “O Adalberto Monteiro é um representante deste que ajudou a inventar, moldar, reinventar, lapidar e consertar o nome das coisas numa época em que as palavras são empregadas para destruir. Só tem um jeito de desfazer essa bomba relógio construída de palavras: pela palavra”, defendeu, apontando a importância da militância política para a sensibilidade observada em Pé de Ferro & Outros Poemas.

Outro leitor meticuloso dos poemas foi Joan Edesson de Oliveira, prefaciador do livro. Ele falou de sua amizade de décadas sempre fortalecida pela militância no PCdoB, mas também pela militância na poesia. “Adalberto trata a poesia como militância, pois fala dela com uma paixão impressionante.”

Oliveira ressalta o fato de estarmos vivendo tempos duros e difíceis, “tempos que exigem a poesia”. “A poesia de Maiakovski e de Brecht foi uma exigência de tempos muito duros que viveram. O Drummond de A Rosa do Povo que se eleva a alturas imensas é exigência de um tempo muito difícil. Adalberto nos presenteia com um livro à altura desses tempos que nós vivemos tão duros e amargos. Mas Adalberto faz isso como pai do Antônio, com delicadeza, mas sem ser piegas, com muita firmeza”, sintetizou.

Ele termina questionando a necessidade do prefácio, já que um dos poemas define o poeta e o livro. “Minha guerra é para que não haja desvalidos. Por isso, sou uma mistura disso, conto de fadas e peleja a faca”, leu.

O evento encerrou-se com uma récita de alguns dos poemas de cada uma das cinco partes do livro. Leia abaixo um dos selecionados:

“Até ontem era uma menina. / Está descalça, mas usa meias, / Que combinam com sua calça cáqui. / À moda dos piratas, / Um lenço grafite amarrado na cabeça. / Está suja sim, mas não imunda. / Na sarjeta, um resto de elegância, / Um fragmento de vaidade, / Uma raiz de dignidade. / Um broto novo da árvore da vida / Tenta sobreviver às pragas. / Mas seu corpo esguio tremula muito. / E no seu rosto belo, moreno, / Há tanto pânico, tanto medo, / Que não sei se ela conseguirá. / Uma brasileira às portas da juventude /  Agoniza / À boca da estação República.

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