Nesta sexta-feira, 5 de julho, a Fundação Maurício Grabois e a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça contribuem com mais um volume de relatos sobre a resistência à repressão da ditadura militar brasileira. Será lançado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, às 15h, o livro Repressão e Direito à Resistência – Os comunistas na luta contra a ditadura (1964-1985), coletânea com dezenas de entrevistas de militantes do PCdoB que compõem um mosaico rico de registros históricos sobre aquele período.
O livro reúne os depoimentos de militantes que pertenceram à Ação Popular (AP) e ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), duas organizações de origens diferentes que se aproximaram no final da década de 1960, concretizando-se em 1973 numa incorporação da AP ao Partido.
As entrevistas trazem informações originais sobre o processo de transformação da AP – uma organização juvenil originalmente ligada á igreja católica que se converteu numa organização marxista-leninista – e os intensos debates ocorridos durante esse período. Contam a saga de dezenas de jovens – a maioria pertencente às camadas médias, provinda do movimento estudantil – que pagaram alto preço por sua atitude contestadora ao regime militar. Muitos deles foram presos e torturados, outros mergulharam na mais profunda clandestinidade ou tiveram de, em algum, momento, abandonar o país. Apesar disso, em seus depoimentos não há sinais de arrependimento ou rancor, mas apenas o sentimento de dever cumprido e a exigência de que se faça justiça histórica.
Para reconstituir a luta subterrânea contra o discurso oficial de que o regime militar travou uma guerra em nome dos interesses nacionais e que combateram “terroristas”, as fontes orais são imprescindíveis. Afinal, a repressão política dificultou a produção de documentos que descrevessem o cotidiano e as ações da resistência. O pouco que foi produzido perdeu-se nos ataques dos órgãos de segurança a casas de militantes e aparelhos clandestinos.
Em vez de lamentar, o Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois em conjunto com a Comissão da Anistia preferem reunir o que é possível para resgatar a memória e a fala dos oprimidos por aquele regime. Na ausência de registros documentais, os realizadores do livro foram ouvir os militantes da causa democrática daqueles anos de chumbo, a exemplo do que vem ocorrendo com outras iniciativas, como as Comissões da Verdade que se espalham por todo o país.
Até o presente momento, a Comissão de Anistia já reconheceu praticamente 40 mil perseguidos políticos pelo regime. Cada um deles tem uma história única de luta e dor. Não obstante, alguns grupos políticos foram especialmente perseguidos durante a ditadura, agregando um elemento coletivo a uma perseguição que, prima face, pareceria individual. Não há dúvida de que os comunistas estão entre aqueles mais severamente perseguidos pela ditadura, como alvo primordial de sua perseguição.
O cuidadoso trabalho levado a cabo pela Fundação Maurício Grabois permite que, por meio da reconstrução destas histórias, novas gerações tenham acesso a todo um conjunto fascinante de episódios da política brasileira nas décadas de 1960 a 1980. O conjunto de recortes biográficos não constitui um amontoado de fragmentos, mas sim uma rede orgânica, uma teia viva por onde se vê a história articulada. Os muitos comunistas perseguidos individualmente retomam, aqui, sua dimensão de grupo politicamente organizado. Juntos representam não apenas a si próprios, mas a toda uma geração de lutadores perseguidos políticos brasileiros, e todo o seu pensamento político de esquerda que o autoritarismo pretendeu exterminar.
O livro reconta a organização da causa operária, do comunismo e suas utopias, dentro de um contexto onde o simples ato de fazer política era criminalizado, pois a ditadura tentava impedir que a cidadania se organizasse e impedia que os grupos disputassem politicamente a sociedade.
Repressão e Direito à Resistência: os comunistas na luta contra a ditadura reúne os depoimentos de alguns dos principais artífices do movimento proletário no Brasil, mas oferece também um interessante painel sobre as relações sociais no país durante a ditadura, a organização política na clandestinidade e as diferentes interpretações que os mesmos fatos ensejaram, à época em que ocorreram e no presente.
Na opinião do presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, a obra humaniza figuras mitificadas. “Se de um lado o leitor poderá conhecer mais sobre a estruturação das organizações políticas, seus ideais e objetivos, seu financiamento, táticas e estratégias, e assim por diante, de outro, poderá conhecer os dramas de ser mulher em meio a um conflito violento. Poderá conhecer as difíceis escolhas de casais apaixonados em meio ao movimento revolucionário. Terá acesso à dor daqueles que perderam seus entes queridos para a repressão política. Conhecerá, assim, como cada um viveu aquilo que nos faz mais humanos – e, portanto, mais iguais – em um contexto de profunda desumanização, brutalidade e indiferença”.
Confira a lista de comunistas que ofereceram depoimentos para esse primeiro registro:
Aldo Silva Arantes, Aurélio Peres, Bernardo Joffily, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), Carlos Henrique Tibiriça Miranda (Caíque), Dilermando Nogueira Toni, Dynéas Fernandes Aguiar, Elio Ramires Garcia, Eustáquio Vital Nolasco, Gildásio Westin Consenza, Gilse Maria Westin Consenza, Haroldo Borges Rodrigues Lima, José Dalmo Ribeiro Ribas, José Renato Rabelo, José Roberto Brom de Luna, Luciano Roberto Rosas de Siqueira, Maria do Socorro Gomes Coelho, Maria do Socorro Jô Moraes, Maria Liège Santos Rocha, Michéas Gomes de Almeida (Zezinho do Araguaia), Myriam de Oliveira Costa, Ozéas Duarte de Oliveira, Péricles Santos de Souza, Raul Kroeff Machado Carrion, Ronald Cavalcanti Freitas, Ronald de Oliveria Rocha.
Esta apresentação é a edição de textos introdutórios de Adalberto Monteiro e Augusto Buonicore, presidente e secretário-geral, respectivamente, da Fundação Maurício Grabois, além de Paulo Abrão, presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça.

Lançamento: Dia 05 de Julho (sexta-feira) – 15h

Local: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo – Rua Rego Freitas, 530 – sobreloja, Centro. São Paulo-SP.