A CLASSE OPERÁRIA e os povos do mundo inteiro são testemunha da mais intensa propaganda guerreira e das mais descaradas manobras e preparativos de guerra desde o término das hostilidades. A sombra ameaçadora da guerra afeta hoje a consciência de milhões de pessoas, não somente nos Estados Unidos, onde a febre guerreira já atingiu um alto grau, mas também na Grã-Bretanha e em vários outros países. À medida que essa sombra se torna mais negra, aumentam também a apreensão e a preocupação dos povos pela manutenção da paz. Paralelamente ao crescimento do clamor guerreiro, na imprensa e no rádio, no parlamento e nos púlpitos, cresce o desejo manifesto dos povos de todos os países por uma paz duradoura. Que predominará, finalmente? Os planos dos que agora proclamam abertamente os objetivos e a estratégia da terceira guerra mundial? Ou o desejo dos povos pela paz? Esta é a questão crucial da presente situação mundial. Esta questão sobrepuja todas as outras neste momento.

Campanha Guerreira Unilateral

A FIM de encontrar a resposta a esta pergunta e a fim de determinar as medidas necessárias a combater as ameaças de guerra, é essencial julgar de maneira objetiva e realista, o caráter especial da presente situação mundial, pois esta é de um tipo peculiar, novo e sem precedente. O caráter peculiar da presente situação mundial expressa-se no fato de que a atual propaganda guerreira surge apenas de um lado. É uma campanha guerreira unilateral. Só há um campo guerreiro. Os apelos para a guerra, as ameaças de guerra, as especulações sobre uma terceira guerra mundial, a vasta literatura que proclama sua necessidade e inevitabilidade, as ostensivas manobras estratégicas, as exigências de bases militares, os discursos belicosos procedem todos de um só lado, da imprensa, do rádio e dos Parlamentos, dos Ministros do Governo e dos generais dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha e dos países satélites do Bloco Ocidental e seus apêndices. Os países do socialismo e da democracia popular continuam obstinadamente na desmobilização, no corte dos orçamentos militares, proclamam novos e extensos projetos de reconstrução pacífica e, em todas as declarações públicas, negam, enfaticamente, a perspective de guerra. O correspondente americano da Associated Press em Moscou, Eddy Gilmore, procurou em vão obter para seus patrões um único fragmento dessa espécie de propaganda guerreira na União Soviética.

“Gilmore, que fala o russo, vem há dias procurando encontrar russos que falem na guerra, ou mesmo na sua possibilidade. Ele não conseguiu descobrir nem um único cidadão russo homem, mulher ou criança que falasse em guerra. Nem um só” (Dailly Express, 13 de abril).
Esse contraste expressa o caráter peculiar da atual situação mundial. É um novo tipo de situação internacional. Reflete um novo equilíbrio da forças mundiais. A compreensão deste novo tipo de situação é a chave para a compreensão do caráter da presente luta pela paz. É uma situação fundamentalmente diferente das que precederam às guerras de 1914 e de 1939.

A Situação às Véspera de 1914

ANTES DE 1914, existiam dois blocos de potências imperialistas que se defrontavam e preparavam a guerra — a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. O imperialismo dominava todo o mundo. O Socialismo ainda não tinha chegado ao poder em nenhum país do mundo. O socialismo era encarado com desdém e como um sono irrealizável das massas sofredoras e desesperadas pelos que ocupavam os altos postos da administração e que prosseguiam em suas manobras e contra-manobras na preparação da guerra, inteiramente alheios ao poderoso gigante do futuro que crescia em seu seio. O desencadeamento da guerra foi devido igualmente aos dois blocos de potências imperialistas. Ambos os blocos estavam visando objetivos criminosos e predatórios de dominação colonialista do mundo. A tarefa do socialismo internacional na luta pela paz opunha-se igualmente tanto a um como a outro dos blocos imperialistas. Ainda há alguns cérebros confusos e alguns Rip Van Winkles que procuram considerar a atual situação nos termos de antes de 1914, nos termos de um confronto de dois blocos rivais de potências, não compreendendo absolutamente que profundas modificações ocorreram no mundo durante este terço de século, a partir de 1914.

A Situação às Vésperas de 1939

ANTES DE 1939, surgiram novas características na situação mundial e no caráter da campanha guerreira e da conseqüente luta pela paz mudou completamente. O imperialismo já não dominava mais todo o mundo. O Socialismo havia sido edificado numa sexta parte do mundo. A guerra imperialista de 1914-18 entrou em rápido colapso devido à revolução socialista; e as potências vitoriosas da Entente apressaram-se a colaborar com os generais do Kaiser e os remanescentes dos seus exércitos, nas guerras de intervenção contra a revolução socialista. As guerras de intervenção fracassaram na Rússia, onde o imperialismo foi forçado a reconhecer a nova Potência. Socialista, embora tenha conseguido sufocar a revolução e restaurar a reação na Europa Central. Daí por diante, a luta contra o socialismo e o nascimento de uma frente contra-revolucionáría contra a União Soviética e a classe operária militante representada pelo Comunismo, apressaram e complicaram todas as rivalidades do imperialismo. O fascismo surgiu como o novo extremo, como a arma desesperada dos grandes monopólios contra a classe operária e a democracia. O fascismo só conseguiu chegar ao poder na Alemanha e a expandir sua agressão devido ao apoio, à ajuda material ilimitada e à assistência política e diplomática dos círculos reacionários do imperialismo ocidental, anglo-franco-norte-americano. Mas o fascismo era ao mesmo tempo a arma do novo e renascente imperialismo alemão que conseguiu recuperar sua força e sua agressividade baseado na divisão entre as Potências Ocidentais e a União Soviética, e no apoio da reação ocidental. Seus planos expansionistas, entretanto, dirigiam-se não somente contra a União Soviética, como também contra os impérios ocidentais. Assim, a campanha guerreira que antecedeu 1939 foi a campanha guerreira do Bloco Guerreiro Fascista agressivo, com a conivência, e a colaboração dos círculos reacionários dirigentes do imperialismo ocidental — uma colaboração prestada em nome da “paz”.

Por conseguinte, a tarefa da luta pela paz passou a consistir na mobilização e unificação dos povos contra os planos agressores do Bloco Guerreiro Fascista e de seus patronos do imperialismo ocidental; e o eixo decisivo dessa Frente de Paz era o estabelecimento de uma aliança das Potências Ocidentais com a União Soviética.

A Situação no Momento Atual

Hoje, a situação está mais uma vez profundamente modificada. Qualquer analogia com os anos que precederam 1939 (apesar da óbvia repetição por parte de Truman—Marshall—Churchill—Bevin das linhas gerais do Eixo e do Pacto Anti-Komintern, e das mesmas fórmulas de propaganda) pode levar a um julgamento extremamente errôneo. O Bloco Guerreiro de hoje compreende todos os imperialismos. Esta é uma situação completamente nova. Esta nova situação reflete a força crescente, desde a segunda guerra mundial, do socialismo e da democracia popular, e significa que a União Soviética já não está mais sozinha, e que pelo menos uma quarta parte do mundo afastou-se da órbita do imperialismo. Reflete ainda a extrema desigualdade de desenvolvimento dentro do reduzido mundo imperialista, de tal sorte que os Estados Unidos exercem um domínio esmagador tanto no campo econômico e financeiro, quanto no campo militar. Consequentemente o imperialismo americano pode ditar sua vontade, sem contestação, aos seus rivais enfraquecidos. Assim é que as rivalidades imperialistas, que ainda são intensas, especialmente a rivalidade anglo-norte-americana e anglo-francesa, bem como os desejos potenciais de ressurreição da Alemanha e do Japão, se desenvolvem dentro de um único campo imperialista, sob o controle geral e o comando supremo do imperialismo norte-americano. Enquanto antes de 1914 os antagonismos dominavam completamente o mundo e a questão do socialismo era considerada como uma questão puramente interna, e enquanto antes de 1939 a questão do imperialismo e do socialismo complicava os antagonismos imperialistas causando a complexa situação diplomática que culminou na segunda guerra mundial, hoje, a contradição entre a contra-revolução imperialista, que ameaça com uma nova guerra, por um lado, e o socialismo, o movimento da classe operária, a democracia popular e à libertação nacional por toda a parte, por outro, domina a situação mundial e dirige os antagonismos inter-imperialistas, Isto se manifesta na organização do campo guerreiro imperialista único, sob a denominação norte-americana, que, de fato, encerra e satisfaz os objetivos norte-americanos de expansão e dominação mundiais, dirigidos contra todos os países, mas cuja arma visível e cuja propaganda guerreira são inteiramente dirigidas contra a União Soviética, o Comunismo, as Democracias Populares e a emancipação popular em todo o mundo. Esta é a nova situação mundial que define o caráter da atual luta pela paz.

Há Um Só Campo Guerreiro

EXISTE um só campo guerreiro. Este é o fato central da presente situação mundial que precisa ser compreendido e não o falso quadro de propaganda que apresenta dois “blocos de potenciais” manobrando um contra o outro em torno de um “antagonismo soviético-norte-americano”, e entre os quais é preciso “intervir” cumprindo a tarefa de mediador da paz. Só existe um campo que está elevando suas forças armadas e seus orçamentos militares a um nível superior ao de antes da guerra: Estados Unidos, 14 vezes mais; Grã Bretanha, 3 vezes mais; enquanto as forças armadas e os orçamentos militares da União Soviética são inferiores aos de 1940. Só existe um campo que pratica a intervenção armada e a agressão, e envia forças militares de ocupação, armamentos e subsídios militares para todos os países do mundo, que nada têm que ver com a ocupação de territórios ex-inimigos. Só existe um campo que mantém e espalha bases militares por todo o mundo, milhares de milhas distantes de suas costas e, portanto, afastadas de qualquer pretexto de propósitos defensivos. Só existe um campo que insiste em seu direito de armazenar bombas atômicas e outras armas criminosas de guerra, sujeito à ilusória alternativa de substituir os Nações Unidas por um organismo de ditadura mundial ilimitada sob o seu controle. Só existe um campo que em declarações, tanto oficiais, como não-oficiais, ameaça abertamente lançar mão da bomba atômica e da terceira guerra mundial para impor a vitória de seus objetivos sobre o mundo, Este é o verdadeiro caráter do atual perigo de guerra, que determina a tarefa da luta pela paz na atual situação mundial.

A Campanha Guerreira Vem Sendo Intensificada

ESTA campanha guerreira, que foi lançada imediatamente após o término da segunda guerra mundial, que teve expressão política no discurso de Churchill pronunciado em Fulton em 1946, e formulação oficial na Doutrina Truman de 1947, foi tremendamente intensificada nos primeiros meses de 1948. Há pouco tempo foi assinado em Bruxelas, o Pacto Militar Ocidental — pois as cláusulas de cooperação “econômica” e “política” são, na realidade, vazias e vagas, sendo as cláusulas militares as únicas concretas — que reúne numa estreita aliança militar, sob controle e fiscalização norte-americanos, a . Grã-Bretanha, a França, a Holanda e o Luxemburgo; isto foi imediatamente seguido por uma viagem estratégica do Marechal Montgomery, oficiosamente designado como o proposto Comandante-em-Chefe Ocidental O Plano Marshall foi assinado em 3 de abri!; e sua significação estratégica foi logo demonstrada quando os “países marshallianos” reuniram-se em Paris e estabeleceram um Comitê Militar conjunto permanente, com sede em Londres. O Presidente Truman, no mesmo dia do Pacto de Bruxelas, isto é, a 17 de março, pediu a conscrição nos Estados Unidos e grandes aumentos nas forças armadas; e o Congresso tem estado ativo na votação de verbas militares adicionais, muitos bilhões de dólares acima do já excessivo orçamento.

O Bloco Anglo-Norte-Americano e a Índia

Outra característica desta campanha guerreira é que ela é simultaneamente militar e política. Ao mesmo tempo em que aumentou a tensão diplomática a respeito de Berlim, dos planos pela partilha da Alemanha, bem como do repúdio descarado aos tratados de paz sobre Trieste, grande pressão política foi exercida, como é notório, por ocasião das eleições italianas. A campanha anti-comunista, que teve expressão no expurgo realizado no funcionalismo da Grã-Bretanha, também se manifestou na Índia e na Birmânia, nas prisões em massa de centenas de comunistas e dirigentes sindicais na Índia, na suspensão do Partido Comunista da Bengala Ocidental, na supressão de jornais e na imposição de condições de ilegalidade em várias outras partes da Índia. As razões oficiais apresentadas para essa ofensiva, pretendendo ver em greves econômicas comuns contra condições de pagamentos intoleráveis, conspirações que ameaçam os fundamentos da democracia, ou alegando preparativos de insurreição armada sem ao menos tentar apresentar a menor prova concreta, seguem muito de perto a linguagem familiar do Departamento de Estado e de seus satélites em todos os paises. A ofensiva não pode ser considerada senão como uma perigosa indicação política das tendências atuais do fraquíssimo governo hindu e dos interesses de propriedade que ele apresenta, também demonstrados no recuo da nacionalização, e na sujeição econômica mais acentuada aos interesses do grande capital, britânico e norte-americano, nas preparações militares, na conservação de um Comandante-em-Chefe Britânico, na restauração do “God Save the King” (hino nacional britânico) antes do hino nacional hindu, e em vários outros sinais de orientação mais estreita com o bloco anglo-norte-americano. De fato, o Embaixador dos Estados Unidos, na Índia, já propôs a incorporação desse país num “Plano Marshall para a Ásia”, em discurso pronunciado em 23 de março. A luta contra esta ofensiva de repressão na Índia não só é vital para o futuro da classe operária e do desenvolvimento democrático na Índia, como também é de importância internacional fundamental.

Fazendo Soar os Tambores de Guerra

ANTES das guerras de 1914 e 1939, os políticos e diplomatas do imperialismo costumavam encobrir seus preparativos guerreiros com uma expressa cortina de palavras sobre a paz. Preparavam a guerra e discutiam a paz. Só o fascismo começou a quebrar esse costume. Mas atualmente os estadistas, os generais e os publicistas do imperialismo ocidental falam abertamente de guerra, pregam a guerra incessantemente, exortam o público a se congregar em torno da Guerra Santa Pela Civilização Espiritual do Ocidente. Professores liberais assinam manifestos que declaram “Antes uma Terceira Guerra Mundial do que o Comunismo” e os altos representantes da Igreja abençoam a bomba atômica. Esta é uma nova característica da presente situação mundial, que mostra a sua diferença básica da situação existente em 1914 e 1939. Seria precipitado concluir-se que, já que esses senhores quando falam de paz querem dizer guerra, agora que falam tão ruidosamente de guerra não podem senão desejar a paz. O incitamento à guerra, a tentativa deliberada de se criar uma histeria guerreira, são muito graves. A nota guerreira já foi vibrada coro o discurso de Attlee irradiado por ocasião do Ano Novo. Foi retomada pelo Presidente Truman em sua Mensagem ao Congresso a 17 de março, quando enfaticamente referiu-se à União Soviética como o inimigo, numa linguagem jamais igualada pelas mais violentas tiradas de Hitler antes da guerra e que, nos dias anteriores à Nova Diplomacia Norte-Americana da Bomba Atômica, seria considerada inconcebível nos lábios de um Presidente de Estado ao se dirigir a outro chefe de estado com o qual mantém nominalmente relações pacíficas.

As Bases Ofensivas dos EE.UU.

ESTA tirada do Presidente Truman ainda foi ampliada pelos auxiliares de seu governo. O Secretário da Defesa, Forrestal, proclamou em 26 de março que “hoje outra grande potência despótica ameaça liquidar a liberdade na Europa”. E o Secretário da Guerra, Kenneth Royall, ainda foi mais explícito em seu discurso num Comitê do Senado quando explicava a espécie de “bases ofensivas” que a América do Norte deseja estabelecer na Europa:

“Nenhuma parte da massa de terra da Eurásia Central pode ser efetivamente atingida pelos bombardeamentos estratégicos efetuados do Continente Norte-Americano e das Filipinas, ou de suas cercanias. É claro, portanto, que as bases ofensivas, com o consentimento dos países envolvidos, precisam ser situadas no território principal da massa de terra de ultramar, muito mais próximas ao inimigo do que nosso próprio pais”.
O Secretário do Ar, Symington, jactou-se de que os aviões dos Estados Unidos estacionados no Alaska ou no Labrador, graças à Grã-Bretanha, poderiam “bombardear qualquer parte da Rússia”. O Relatório do Presidente da Comissão de Política Aérea estabeleceu o objetivo principal de tornar a força aérea norte-americana capaz de sustentar um “ataque prolongado, à longa distância, nos centros industriais da União Soviética”. E Walter Lippman, porta-voz de confiança da alta finança norte-americana, escreveu, com seu habitual cinismo, no Herald Tribune de 25 de março:

“O Japão é uma posição da qual a Sibéria Soviética, a Manchúria, a Coréia e a China Setentrional podem ser dominadas por parcela relativamente modesta de força aérea estratégica”.
O evangelho do “Mein Kampf” (“Minha Luta”), é café pequeno em comparação com esses sonhos megalomaníacos.

Os Traficantes de Guerra

“TAMBÉM não se deve imaginar que essas declarações sanguinárias venham apenas dos porta-vozes oficiais do imperialismo norte-americano e que a Grã-Bretanha é apenas uma vítima inocente. O povo britânico é, sem dúvida, vítima desses planos guerreiros, e será provavelmente a vítima que mais sofrerá se esses planos se realizarem um dia, mas os altos dignitários britânicos (que contam certamente com a expatriação heróica dos que não se rendem, para Washington ou Ottawa, quando começar o barulho) fazem perfeitamente parte do jogo. Sir Alexander Cadogan, por exemplo, o arquiteto escolhido de Munich, e o representante nomeado pelo Governo Trabalhista para as Nações Unidas, declarou no Conselho de Segurança em 23 de março, a respeito do que ele chamou de “expansão russa na Europa” querendo dizer o avanço do Comunismo na Europa:

“Há certos limites, além dos quais a maré não pode avançar e em que precisa ser represada. Quase todas as pessoas deste mundo devem esperar com fervor que isto se posa fazer por meios pacíficos, mas há um perigo inegável de que essa esperança não se possa realizar”.
E o general Sir Brian Robertson, em sua espantosa arenga a um auditório alemão, na sua maior parte composto de recentes adeptos do nazismo, exortando-os a se prepararem para a união com o Ocidente na guerra contra a União Soviética e o Comunismo, proclamou, em Dusseldorf, a 7 de abril:

“Guerra ou Paz? Não posso enxergar nas brumas do futuro. .. Decidi-vos à união contra esses senhores que, com a democracia nos lábios e cacetes atrás das costas, roubariam vossa liberdade alemã. As perspectivas são boas. Levantai-vos para agarrá-las”.
Isto não foi dito por Hitler em junho de 1941, mas pelo Comandante-em-Chefe britânico na Alemanha, em abril de 1948.

Fúria e Loucura

Por que essa agitação extrema de propaganda de guerra e essa aceleração de intensos preparativos de guerra no momento atual? Quererá isso dizer necessariamente que a guerra é considerada por esses senhores como iminente e que tudo está preparado para que só se aperte o botão na data estratégica fixada? Ou será antes uma indicação, não tanto ainda de um plano estratégico claramente elaborado e finalmente aprovado, mas de fúria e loucura crescentes e de tremendo desespero dos traficantes de guerra e dos campeões da reação ao verem seus planos fracassarem diante do avanço democrático dos povos? Mais de um ano já se passou desde o lançamento da Doutrina Truman. Durante esse tempo os objetivos agressores do Bloco anglo-norte-americano sofreram uma série de derrotas. Na China, os exércitos democráticos avançam para a vitória, e o regime de Chiang Kai Shek, sufocado por dólares e corrupção, está se desmantelando. Na Grécia, os exércitos de libertação têm em seu poder sete décimos do país, e toda a intervenção das tropas britânicas e das missões militares norte-americanas, de armas e aviões, tem sido tão insuficiente para conservar os traidores corruptos, monarco-fascistas, como acontecia com Hitler há alguns anos atrás. Na. Tchecoslováquia onde, depois do completo fracasso da Polônia, os conspiradores ocidentais concentraram todas suas esperanças de penetração, a reação foi esmagada e triunfou a democracia. Só na Europa Ocidental foi conseguido um sucesso parcial com a imposição do Plano Marshall; mas a Europa Ocidental, cem a oposição crescente da classe operária, é uma base precária para a América do Norte conduzir uma guerra contra o mundo. Portanto, a crescente fúria de guerra é sinal, não tanto de força e confiança, como sobretudo de fraqueza e de sucessivos fracassos do campo guerreiro imperialista.

O Rearmamento e a Crise Econômica

JÁ um outro fator que precisa ser levado em consideração. A sombra de uma crise iminente na economia norte-americana, com a elevação astronômica, ainda em processo, de preços e lucros, e a queda dos salários reais e do poder aquisitivo, foi mais uma vez acentuada no discurso de advertência do presidente Truman, em 17 de abril. Foi calculado por um economista soviético, baseado em cifras oficiais norte-americanas, que desde o fim da guerra os salários reais nos Estados Unidos desceram 28 por cento, os lucros subiram 65 por cento, e o desemprego total, real encoberto (inclusive horas de trabalho reduzidas) é equivalente a 7 milhões e 200 mil pessoas totalmente desempregadas. O primeiro sinal de retração de preços, no verão de 1947, foi imediatamente seguido pela declaração do Plano Marshall. A segunda onda de retração de preços, no início deste ano, apressou a adoção do Plano Marshall. Mas este plano não poderia absorver mais do que uma fração dos excedentes despenáveis em caso de uma depressão norte-americana, mesmo pequena; uma queda de 15 por cento do nível de produção de 1947 seria equivalente a 35 bilhões de dólares, e o Plano Marshall apenas absorveria 5 bilhões e 300 milhões de dólares no primeiro ano. Há, portanto, motivos econômicos muito poderosos para que os grandes monopólios industriais, que conseguiram lucros fabulosos com a guerra, forçam o andamento do rearmamento no momento atual, estimulem a adoção de vastos projetos de construção de armamentos, defendem o fornecimento de armas para a Europa Ocidental, a Grécia, a Turquia e a China e, para esse fim, arquitetem uma sucessão de espantalhos de guerra, de sensacionalismos e de crises. Este elemento também não pode ser esquecido no julgamento da presente torrente de propaganda guerreira.

O Perigo de Guerra é Real

QUERERÁ isto dizer que o perigo de guerra pode ser afastado e considerado apenas como uma propaganda terrorista dos aproveitadores armamentistas, dos políticos falidos e dos proprietários de jornais que vivem da exploração de sensacionalismos, ou apenas como a fúria impotente de reacionários frustrados que anseiam pelo fogo fátuo da destruição do Comunismo com a bomba atômica? Não. O perigo de guerra é real. As fraquezas, os dilemas e as contradições do campo guerreiro imperialista nos dão bases sólidas para confiar na capacidade das forças populares para derrotar esse perigo. Devemos, portanto, rejeitar totalmente as teorias da inevitabilidade de uma terceira guerra mundial, que são não somente muito freqüentes na opinião das massas, devido à incessante repetição da propaganda da imprensa, como também afetam os setores mais fracos e vacilantes da opinião esquerdista que sempre enxergam apenas a força do imperialismo e que, portanto, sempre caem na passividade e no derrotismo. É um fator essencial da nova. e fundamentalmente diversa, situação mundial atual, em contraste com a situação de antes de 1914 e 1939, que o imperialismo está mais fraco e as forças populares enormemente mais fortes, não só do que antes de 1914, como também do que antes de 1939. Precisamos igualmente rejeitar as teorias que negam a gravidade do perigo de guerra e que, portanto, na prática, também levam à passividade em face desse perigo.

A Luta Pela Paz

A PRESENTE situação de tensão diplomática aguda, entendendo a intervenção agressiva do Bloco Anglo-Norte-Americano a todas as partes do mundo e ostensivamente colecionando armamentos e ameaças guerreiras dos campeões da civilização “ocidental” (isto é, imperialista), não desencadeará automaticamente a guerra. Poderá até arrefecer em face da força e da firmeza da União Soviética e das democracias da Europa Oriental e do avanço das forças populares. Mas encerra um visível perigo de guerra. A guerra pode sobrevir, quer através de um incidente que leve a uma explosão ou à extensão de uma guerra local, ou através da eventualidade da política do partido da “guerra rápida” e do “lute já” conseguir predominância sobre a política atual de “guerra fria” do Departamento de Estado, ou ainda, através de uma política desesperada e afoita provocada pelo aprofundamento da crise econômica. A mobilização imediata contra o perigo de guerra é, portanto, essencial para a luta pela paz.

O Que Disse Stalin

ARGUMENTA-SE às vezes que, porque Stalin, em suas famosas declarações na segunda metade de 1946, em suas entrevistas com Werth e Elliott Roosevelt, desprezou, àquela época, o perigo de uma guerra imediata, seria, portanto, um erro exagerar-se agora a gravidade do perigo de guerra e que o fato de acentuar-se a urgência da mobilização pela paz, contra o perigo de guerra, seria o mesmo que fazer o jogo dos traficantes de guerra e contribuir para a atmosfera de histeria guerreira que eles procuram criar. Mas isso é não compreender o que disse Stalin. Stalin, em 1946, negou que houvesse perigo de guerra, não baseado no fato de que os imperialista não a desejassem, mas no fato de que “os povos não querem lutar, estão cansados de guerras”. O fator decisivo é, portanto, o papel dos próprios povos. Isso foi em 1946, poucos meses depois do fim das hostilidades. Desde então, em março de 1947, veio a nova agressão, na forma da Doutrina Truman, e temos agora a situação mais tensa de 1948. Em setembro de 1947, Zdhanov, em seu Informe à Conferência dos Nove Partidos, acentuou de maneira especial a condição do sucesso no combate ao perigo de guerra:

“É necessário ter-se em mente que entre o desejo dos imperialistas de desencadear uma nova guerra e as possibilidades de organizar uma guerra, há uma grande distância.
“Os povos do mundo não querem a guerra. As forças que trabalham pela paz são tão consideráveis, tão grandes, que se forem firmes e resolutas na defesa da paz, se demonstrarem fibra e decisão, os planos dos agressores sofrerão um fracasso total.”
A condição do sucesso na derrota dos planos para uma nova guerra mundial, é a presente mobilização da luta popular unificada pela paz.

A “Guera de Nervos”

É VERDADE que existe um elemento de “guerra de nervos” no atual e intenso clamor guerreiro e na ostensiva exibição de preparativos de guerra e de manobras estratégicas. O imperialismo norte-americano procura, antes de tudo, por meio de uma alardeante demonstração de superioridade de força — ocultando assim sua fraqueza interna — aterrorizar os povos a fim de submetê-los sem o custo de uma guerra direta que revelaria suas verdadeiras debilidades. É esta a essência da política da chamada “guerra fria”. Os dirigentes imperialistas falidos procuram impor sacrifícios sem fim e sobrecarregar os povos, em nome da guerra. Procuram encobrir seus próprios fracassos políticos internos e o gritante contraste entre o colapso econômico da Europa Ocidental e o progresso da reconstrução na Europa Oriental. Procuram criar agitação contra a União Soviética e o Comunismo e intimidar os povos que se dirigem para a esquerda. Eles esperam, por meio de uma combinação de insolência diplomática e de grande publicidade dos armamentos e preparativos estratégicos, através dos quais pensam também estabelecer sua reputação de “duros”, impressionar os governos e os povos da União Soviética e das Democracias Populares e assim extorquir-lhes concessões. É obvio que, em face de táticas chantagistas dessa espécie, os estadistas da Europa Oriental tal são obrigados a demonstrar de maneira inequívoca que seus nervos estão calmos e inabalados, e a desmascarar as ameaças de guerra. Mas isto não quer dizer que na Europa Ocidental e na América do Norte, os centros dessa infame campanha, devamos nos orgulhar de permanecer despreocupados. Pelo contrário, é necessário elevar em todo o mundo ao mais alto grau a luta contra essa criminosa política guerreira.

A Luta Pela Paz na Grã-Bretanha

O CENTRO da luta pela paz, portanto, deve ser sobretudo nos Estados Unidos e aqui, na Grã-Bretanha. Nos Estados Unidos, a campanha em torno da candidatura presidencial de Henry Wallace já efetuou uma poderosa mobilização pela paz, cuja força desconcertou todos os profetas políticos ortodoxos. Na Grã-Bretanha, em condições políticas diversas, é essencial desenvolver, de forma apropriada, uma campanha não menos ampla pela paz. A Conferência Nacional Pela Paz do Daily Worker é ótima iniciativa que contribuirá para o desenvolvimento dessa campanha. Há possibilidades para muitas outras iniciativas e várias outras formas, que atinjam todos os setores da população, que engrossarão a corrente principal do movimento pela paz. Uma tal campanha, nascendo da aspiração universal pela paz e do desejo de impedir uma terceira guerra mundial, tem necessariamente que despertar a consciência política. É essencial indicar de onde vem o perigo de guerra e qual a espécie de guerra que nos ameaça. É essencial indicar o caminho em que está sendo envolvida a Grã Bretanha no bloco guerreiro, e o que está custando à Grã-Bretanha essa política, tanto no que diz respeito às sobrecargas do povo, quanto a perspectivas de qualquer guerra futura. A luta pela paz está ligada à mudança da linha política e econômica do governo. É necessário, através de paciente explicação, destruir as ilusões de que o problema é a “reconciliação” de dois “blocos de potências” opostos e de que “se ao menos Truman, Attlee e Stálin pudessem se encontrar”, tudo seria resolvido. Enquanto Truman e Attlee praticarem a mesma política agressiva, repudiando tratados anteriormente firmados e resolvendo fracionar a Europa e re-edificar a reação alemã e japonesa, será inútil reproduzir o impasse da Conferência dos Ministros do Exterior. Antes de tudo é necessário terminar com a atual política de agressão, com a campanha guerreira nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha e voltar ao caminho da cooperação democrática internacional. Isto requer inevitavelmente uma luta política. A luta pela paz na Grã-Bretanha é, em última análise, uma luta para derrubar a atual política guerreira de associação com a reação norte-americana, e para alinhar a Grã-Bretanha com as forças pacíficas do mundo. Esta a contribuição que podemos dar à Grã-Bretanha, que não só corresponde aos interesses vitais do povo britânico, como também poderá transformar o equilíbrio das forças mundiais e, assim, assegurar, de fato, a derrota dos planos guerreiros e a vitória da paz.
 
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“É preciso recordar que a América mesmo sé acha ameaçada de uma crise econômica. A generosidade oficial de Marshall tem as suas sérias razões. Se os países europeus não receberem créditos americanos o pedido de mercadorias americanas por parte desses países diminuiria e isto contribuiria para acelerar e agravar a crise econômica que se avizinha nos Estados Unidos.”Zhdanov.