Minas Gerais é hoje um dos principais centros irradiadores das novas técnicas de gerenciamento do capital, através da badalada Fundação Christiano Ottoni. Seus “especialistas”, com destaque para Vicente Falcone, dão palestras e assessoram grandes empresas em todo o país, divulgando as “mil maravilhas” do vulgarmente conhecido modelo japonês de gestão de trabalho. Para os empresários, enfatizam as vantagens do aumento da produtividade e da redução de custos. Para a sociedade, falam na democratização e humanização do trabalho e na melhoria da qualidade de produtos e serviços.

O livro, organizado por Fernando Fidalgo e Lucília Machado, com apoio do Sindicato dos Professores de Minas Gerais, propõe-se exatamente a fazer o contraponto à mais recente coqueluche do patronato. Visa a desmascarar esta “nova pedagogia do capital”. Seu maior mérito é não ficar na crítica genérica às formas mais sutis e inteligentes de exploração do capital. A partir do estudo do fato material produzido pela Fundação Christiano Ottoni, ele destrincha os verdadeiros objetivos deste modelo de administração, analisando a sua ideologia de fundo, seus recursos, suas “ferramentas” etc.

Conforme afirmam no prefácio, o TQC (Total Quality Control), “na sua expressão aparente, diz-se interessado na qualidade do produto ou serviço, cujo conteúdo se resume na ‘satisfação do cliente’. O seu alvo essencial é, contudo, o controle do processo de trabalho através de formas requintadas de incorporação do saber dos trabalhadores, dadas pelo envolvimento incitado, cooptado e manipulatório de sua participação na gerência dos processos”. Esse modelo, garantem os autores, está sintonizado com a lógica neoliberal de reconversão produtiva, que tem como base a acirrada competitividade num mercado restrito e em crise profunda – do qual milhões de seres humanos estão excluídos e marginalizados.

O livro procura demonstrar que estas técnicas de gerenciamento produzem forte impacto no mundo de trabalho e na sociedade em seu conjunto, atingindo os mais diversos setores da economia. Vários capítulos tratam exclusivamente dos efeitos na área da educação, que tende a ser elitizada e tecnicista. Ele também dá destaque à questão da subjetividade dos trabalhadores, duramente afetada por inovações, e alerta o sindicalismo para os novos obstáculos e desafios. Além disso, dá algumas pistas sobre a vulnerabilidade deste modelo do ponto de vista das elites dominantes.

Após apontar que essas técnicas exigem o domínio da mente do trabalhador, através do envolvimento pessoal, da colaboração voluntária, do estímulo à criatividade limitada, entre outros fatores, Lucilia Machado indaga: “Não será essa potencialidade, somente usufruída pelo trabalho humano, a chave crucial a ser incluída nas negociações atuais, capaz de dar ao trabalhador um novo álibi na sua permanente luta pelo reconhecimento do valor de seu trabalho? Essa prerrogativa tem um valor estratégico. De que forma ela deve orientar as atuais lutas sindicais?”.

Estas e outras questões estão na ordem-do-dia e exigem respostas satisfatórias de todos os interessados no avanço da luta pela emancipação dos trabalhadores. O diagnóstico rigoroso das mutações produzidas pelas novas técnicas de gerenciamento e, mais do que isso, o delineamento de alguns dos novos e intrigantes desafios das forças classistas ganham importante tento com a publicação desse livro.