Uma vontade de cantar, de dançar, de ser alegre, de fazer um comício lendo aqueles poemas, uma urgente necessidade de gritar ao mundo: existe no Brasil uma nova grande poeta, da melhor estirpe, e seu nome é Angela Leite de Souza.

Tudo isso (e ainda uma súbita vontade de beber cerveja) eu senti na beira da piscina do Hotel el Valle, em Matanzas, numa quente manhã cubana, quando caiu em minhas mãos o livro Estas muitas Minas, de Angela Leite de Souza, que acabou ganhando, com todo merecimento, por unanimidade, o Prêmio Casa de Ias Américas de 1997.

Estávamos recolhidos ao Hotel el Valle para escolher entre dezenas de originais, quem seria o grande vencedor do Prêmio Casa de Literatura Brasileira. Éramos cinco jurados: a paulista Berta Waldman, o carioca Antônio Carlos Secchin, o norte-americano, filho de portugueses, Nélson Vieira, o cubano Sérgio Flores, e eu. Na primeira reunião, num pecado de ficcionista, arrisquei uma sentença:
– Vamos ler os poetas, mas não tem sentido premiar um poeta e, sim, um ficcionista …

Pobre de mim: tive emocionadamente que me curvar diante de uma poeta, já de si grande. O mérito de descobri- . Ia foi de Antônio Carlos Secchin e de Berta Waldman. Com o manuscrito de Estas muitas Minas nas mãos eles falaram:

Leia … é lá de Minas e é excelente.
Eu li e amei Estas muitas Minas, que nos revela a grandeza de Angela Leite de Souza, e que a gente deve ler como quem reza, como quem ama, como quem grita."
Roberto Drummond
"Aqui vai a encomenda há tempos prometida. Não mando registrada, prefiro a garantia deste selo
que colo com zelo e lambida.
Desvenda a caixa
à maneira bem mineira:
Minas nunca se entrega de primeira.
Vês as cortinas nas litorinas?
As colinas diamantinas?
As lamparinas e as terrinas?
A pantomima dos negros minas?
E essas finas meninas opalinas?
Então tens Minas."