1999 inicia com boa novidade para quem procura leitura fora do 'pensamento único' neoliberal, que vem abarrotando as prateleiras das livrarias e preenchendo as páginas da grande imprensa. A Editora Anita Garibaldi está lançando o livro Os desafios do socialismo no século XXI, que reúne artigos, palestras e informes de João Amazonas – constituinte de 1946 e dirigente do Partido Comunista do Brasil.

Escritos no momento dos acontecimentos históricos, os textos expressam em seu conjunto que "a prática é a base do conhecimento, no entanto, é a teoria que generaliza a experiência, revela as leis objetivas em atuação e dá ao homem a consciência da necessidade"; e que há necessidade imperiosa de se desenvolver a teoria marxista para que esta possa atender aos desafios presentes e futuros do proletariado.

O autor aborda temas que marcam o final do século XX no Brasil e no mundo, em especial a crise na ex-União Soviética e Leste europeu – a primeira grande experiência de implantação do regime econômico-social mais avançado que a história conhece -, extraindo lições diante desta derrota estratégica sofrida pelo proletariado.

Os desafios esclarece, com originalidade, questões de economia política, como a teoria leninista da transição do capitalismo ao socialismo, discutindo suas etapas objetivas e o papel do capitalismo de Estado neste processo – questão pouco estudada pelos marxistas mas de importância primordial para a avaliação dos fatos negativos ocorridos.

Expressa, também, os anseios permanentes do povo brasileiro por soberania nacional e desenvolvimento da democracia, elucidando questões referentes à política e à História do Brasil, em especial à Guerrilha do Araguaia jornada de lutas da qual o autor participou pessoalmente no início dos anos 70. O livro traz um depoimento sobre a Guerrilha, carregado de sentimento humano digno dos grandes homens que merecem registro em nossa História.

João Amazonas nasceu em 1° de janeiro de 1912 em Belém do Pará. É uma vida inteira de lutas – hoje aos 87 anos -, em que enfrentou a prisão, a clandestinidade e os mais ferozes ataques que as elites reacionárias despejaram sobre a vida de nosso povo, e nunca abriu mão dos princípios marxistas e socialistas. Em 1945 foi o deputado federal constituinte mais votado no Distrito Federal. Participou decisivamente do enfrentamento teórico e político contra Kruschev e a ala revisionista que atingiu o Partido Comunista em nosso país; e quando é reconstruído o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, em fevereiro de 1962, com uma plataforma fiel aos princípios revolucionários do marxismo-leninismo, Amazonas esteve à frente, com Grabois e Pomar, dentre outros lutadores. Participou ativamente da luta contra o regime militar de 1964, até mesmo no confronto armado da Guerrilha do Araguaia gloriosa jornada pela liberdade dos brasileiros.

Com a conquista do fim da ditadura militar tem se destacado no movimento por soberania nacional e desenvolvimento da democracia em nosso país, e em defesa dos direitos dos trabalhadores. Participa com firmeza do esforço pela unidade do povo brasileiro, apoiando decididamente a formação de uma ampla frente para combater o neoliberalismo e construir uma nova orientação política e econômica para o Brasil.

O livro Os desafios do socialismo no século XXI tem um significado histórico especial para as forças progressistas e revolucionárias do Brasil e do mundo hoje: expressa o esforço marxista para enfrentar os desafios teóricos em sintonia com os embates políticos do dia-a-dia, descortinando caminhos à luz da teoria mais avançada – o marxismo-leninismo. Os 37 textos do livro, em que pesem terem sido escritos entre 1981 e 1998, trazem a elaboração teórica de mais de 40 anos não só de Amazonas, pois representam, também, uma elaboração coletiva da qual ele teve presença marcante, porém, não é o único protagonista. Sua produção teórica é, assim, um pouco da produção do Partido Comunista do Brasil- onde o próptio autor diz "ter aprendido tudo o que sabe".

É uma obra para inspirar não só os militantes do Partido Comunista ou os marxistas que vêem, assim, um exemplo destacado da luta contra a estagnação da teoria revolucionária, mas também os trabalhadores e as forças nacionais, democráticas e progressistas, que enfrentam heroicamente a ofensiva imperialista neoliberal e que necessitam de fundamentos para combater as idéias difundidas pela oligarquia financeira.

Os textos são instigantes e o autor consegue discutir questões teóricas complexas em linguagem simples, direta e acessível.
As palavras finais de Os desafios dizem que:
"Seguramente, a edificação do socialismo baseia-se na socialização dos meios de produção e de melhoria das condições de vida da sociedade. É algo radicalmente distinto do sistema capitalista. Mas essa edificação não obedece, nas formas e ritmos, um modelo preestabelecido, sempre o mesmo. Tampouco segue a linha do gradualismo reformista, oportunista, de integração do capitalismo no socialismo, como pretendem os social-democratas. A construção de um modelo próprio de socialismo científico, refletindo a realidade e fiel aos princípios revolucionários, capaz de superar, em sucessivas etapas, os obstáculos e contradições que se apresentam a cada momento – eis uma importante tarefa da luta para tomar vitorioso o socialismo em todo o mundo."

Com a lúcida consciência dos grandes acontecimentos históricos que fizeram do século XX o século marcado pelo início da experiência dos povos na grande jornada da construção do socialismo, Amazonas deixa transparecer nas 256 páginas do livro que o grande desafio da humanidade é a retomada do processo revolucionário com qualidade distinta da anterior – pois os desafios são maiores que antes – sem abrir mão dos princípios até aqui sistematizados pelas forças do progresso. Mesmo conhecendo o enorme poder das forças capitalistas contra as quais lutam o proletariado e os povos, ele passa uma mensagem confiante:

"Assim será o século XXI. Em seus começos, haverá sombras e luzes, mais sombras do que luzes. Depois, o quadro se inverterá. A humanidade viverá tempos de grandes esperanças."
Os desafios do socialismo no século XXI, de João Amazonas, é certamente uma obra para ficar – porque traduz com atualidade a máxima de Lênin de que "sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário".

EDIÇÃO 52, FEV/MAR/ABR, 1999, PÁGINAS 80