Conheci um velho que, como um relógio, nunca atrasava em seus compromissos. E este senhor tinha um compromisso. Todo dia, no mesmo horário, ele se dirigia para uma pequena praça perto de minha casa e, lá, ficava por quase uma hora dando milho aos pombos. Com o passar dos tempos, fiquei sabendo que o milho não era para todos os pombos, mas sim para um único, um especial.

      Isto mesmo, o velhinho tinha um pombo de estimação (eu já vi muitos tipos de bichos de estimação: gatos, cachorros, até cobra, mas pombo…). O nome era Apolônio. E ele não errava. Eu, particularmente, acho que pombo é tudo igual, mas o Apolônio, segundo este senhor, tinha uma pintinha perto do olho e era especial. Dizia ele que, quando ia se aproximando, o danado do Apolônio o reconhecia e descia do prédio para vir comer em sua mão.

      Um dia brigou com um mendigo que lhe propôs pegar o pombo para um bom assado.

      – Já está mermo nas suas mão, vamo matar, pô!

      – Mato você, seu desumano. Não percebe que este pombo é mais gente do que você? – disse o velhinho quase pulando com a bengala em cima do indivíduo.

      E todo dia era a mesma coisa. Durante o inverno, chegou ao cúmulo de levar uma caixa cheia de pedaços de cobertor para a praça, dizendo que não queria o Apolônio passando frio. E mais uma vez brigou com todos.

      Vivia numa atividade constante: trazia pão para o pombo; suco, que ele mesmo fazia; guaraná; comida, preparada por suas próprias mãos. Claro que tudo isto com muita discussão, pois sua mulher não compreendia o que estava acontecendo com seu velho. Chamava-o caduco, velho babão, mas não adiantava: todo dia lá estava ele cozinhando para o Apolônio. Já havia perdido muitos amigos, devido a sua truculência contra quem lhe reprimia. Os jogos de damas e dominó já não o atraíam mais, seus velhos amigos se distanciavam, na sua frente só existia o pombo.

      E o pombo? Era um pombo piolhento que, devido à fome pela qual passava, foi se aproximando do nosso amigo em questão.

      Um dia, uma destas mulheres gordas e insensíveis ao que está em torno dela, quase atropela o Apolônio. O velhinho foi para cima dela num sermão onde incluía boa convivência, espírito de coletividade, vida em sociedade, olhar para onde anda, fazer regime, gordura atrapalha visão e por aí em diante. Ela, do outro lado, chamava o amigo do pombo de caduco, retardado, babão (lembro de sua mulher), vai trabalhar, vai para um asilo e tudo mais.

      A coisa foi ficando mais quente, mais quente, mais quente, até que o velho partiu para algo mais agressivo e tentou dar um empurrão na gorda. O tiro saiu pela culatra. Ele, magrinho e fraco, não conseguiu nem mover a gorda. Pelo contrário, se perdeu nos próprios pés e foi pra trás, tentando se apoiar onde não podia. Na tentativa de se equilibrar pisou em algo que havia no chão e, quando olhou para baixo, viu o Apolônio, ou o que restou dele. O motivo da briga não passava agora de um monte de penas pelo chão.