Chegou à porta da embaixada de automóvel. Postou-se solene diante do portão da representação norte-americana no Kuait, desembainhou a espada e gritou vários insultos em árabe.

      O segurança loiro, vestido de preto e portando seus indefectíveis óculos escuros, olhava impassível. Os militares postados armados em vários pontos do edifício enrijeceram ainda mais os músculos da face, mas permaneceram estatuados, como reclama o ofício a que foram destinados cumprir.

      Ninguém sabia a origem do improvisado guerreiro. Não tinha as feições típicas de um árabe, mas isso não significava muita coisa. Bem sabemos que fenótipo não é coisa em que se possa valer, sobretudo para identificar a origem de quem quer que seja.

      Sabe-se, sim, que estava embriagado. Sua voz pastosa e sua dificuldade de equilíbrio o denunciavam. Brandiu a espada como seus possíveis ancestrais berberes e golpeou a calçada. A lâmina partiu-se. Não fendeu, mágica, o território usurpado, nem pôs abaixo o palácio do usurpador.

      Neste momento chegava a polícia kuaitiana – seguramente, acionada pela embaixada. Carros e mais carros, dezenas de soldados e agentes cercaram o solitário combatente. Ele ainda arremeteu contra o portão inimigo, enquanto um sem número de pistolas e rifles o miravam.

      Virou-se e viu-se cercado pela retaguarda. Clamou pela ira de Alá, arregalou olhos terríveis, acompanhados de palavras provavelmente também terríveis. Mas nenhuma hecatombe, sequer um raio veio em seu socorro. Em movimento de pinça, os braços da lei o assediaram pelos flancos e rapidamente o dominaram.

      A embaixada emitiu nota não dando importância demasiada ao fato. O homem estava bêbado e resolveu fazer seu protesto, só isso.

      O jornal não diz o que foi feito do espadachim. Mas me sinto tentado a imaginar que, nesse momento, ele arregimenta um exército de sarracenos para a tomada de Constantinopla.