Esporte, uma política de Estado
Pela primeira vez na história do Brasil, o Ministério do Esporte é uma pasta específica, com foco único no desenvolvimento de uma política nacional de esporte e lazer. No Brasil, segundo estimativas recentes, o setor “esportes” movimenta 20 bilhões de reais por ano e emprega aproximadamente 300 mil pessoas. A arrancada esportiva de um país amplia o turismo e abre portas para o comércio externo. Enfim, é rico fator de crescimento econômico.
Estamos, no entanto, iniciando nova era na história de nosso país, marcada pela firme determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empreender um governo de valorização do nosso povo. Há que se perseguir o crescimento e a estabilidade econômicos, mas, sobretudo, há que se atingir o crescimento social da nação. Quando falamos, em nossos discursos, da opção pelo social, estamos justamente nos referindo a uma política de Estado direcionada para o desenvolvimento social do país e de sua gente.
Tenho especial satisfação em estar à frente do Ministério do Esporte, exatamente pelo imenso potencial do setor para o desenvolvimento humano: a prática do esporte é um valoroso instrumento de inclusão social e é essa filosofia que norteará o cumprimento da missão a mim conferida. Temos um clima favorável o ano inteiro à prática esportiva e um povo plenamente identificado com os valores intrínsecos ao esporte e com os ídolos que ele produz. Temos criatividade e um profundo sentido de adequação às adversidades. Somos também um povo alegre, sensível e emotivo.
Paradoxalmente, o esporte no Brasil ainda é praticado por uma parcela restrita da população. O que muda, agora, é a tomada de consciência da importância que o esporte pode assumir na construção de relações sociais mais saudáveis e humanas: o esporte será neste Governo um poderoso instrumento de inclusão social, sobretudo para o universo de 32 milhões de crianças e adolescentes, de zero a dezessete anos de idade, que vivem hoje em situação de pobreza absoluta, ou seja, cuja renda mensal não chega a meio salário mínimo por pessoa.
Todos os aspectos positivos – e só eles existem – da prática de esportes, de forma continuada e com o apoio de instrutores (o que virá resgatar a importância histórica da função do professor de educação física), serão colocados à disposição dos que, por falta de opção, são abandonados ao ócio pernicioso que leva, entre outros males, à criminalidade e ao uso de drogas. Com o esporte e o lazer, podemos evitar que grande parte da nossa juventude tenha o presídio ou as alas terminais dos hospitais como destino.
A tarefa que se impõe foi referenda pelos milhões de brasileiros que, nas urnas em outubro de 2002, realizaram seu desejo de mudança, de construção de uma sociedade melhor e mais justa para todos. Essa é uma parceria que o Ministério do Esporte não negligenciará. Particularmente, tenho a tranqüilidade em afirmar minha crença em que a extraordinária capacidade de mobilização popular que o esporte brasileiro demonstra, todos os dias, a todo o mundo, não faltará a essa imensa torcida por dias melhores formada por mais de 170 milhões de brasileiros.
Quantos de nós já não rompemos madrugadas em frente à televisão para acompanhar e torcer pelos cada vez mais exitosos feitos de nossos atletas nas mais diferentes quadras de esporte? Neste governo, vou trabalhar para que essa paixão seja colocada a serviço do desenvolvimento de nossa gente e, especialmente, a serviço do Programa Fome Zero.
O esporte educa, socializa, desperta habilidades, possibilita o desenvolvimento do intelecto, desperta a fé que cada um deve ter na própria força. Desenvolve e incentiva o espírito de equipe, de solidariedade, de disciplina e de respeito. O esporte aumenta a auto-estima, a qualidade de vida, é promotor de saúde. E aumenta a produtividade de quem o pratica, de sua comunidade, de sua região.
O Ministério do Esporte irá também apoiar eventos esportivos de criação nacional com identidade cultural, como futebol de areia, capoeira, futevôlei, jogos rurais, jogos indígenas, etc. A questão, entretanto, é incentivar a comunidade a realmente praticar esses esportes e não somente observá-los como telespectadores ou assistentes.
Isso realmente é uma conclamação, um chamamento. Mas, também, é um compromisso. A determinação do presidente Lula é que, para alcançarmos o sucesso desejado e esperado, tudo se faça de forma integrada. Assim, estarei, e já estou, estabelecendo parcerias para o cumprimento das metas de minha pasta, com o Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério da Defesa, com todos os setores do governo e, especialmente, com a sociedade, clubes sociais, entidades de trabalhadores na indústria e no comércio, ONGs, empresas privadas.
Quero incentivar e trabalhar com o desporto de rendimento, de competição, vértice de uma pirâmide cuja base, para ser ampliada, necessita dos resultados favoráveis dos melhores atletas do desporto brasileiro, em suas várias modalidades.
A recente conquista do Campeonato Mundial de Vôlei pela equipe brasileira ampliou de 20% a 30% a freqüência nas escolas de vôlei existentes no país. Os resultados favoráveis de Gustavo Kuerten trouxeram orgulho aos brasileiros, e uma saudável dificuldade aos administradores de clubes sociais e esportivos, tendo em vista a cobrança dos associados por maior quantidade de quadras de tênis.
Os exemplos são inúmeros, relacionando as conquistas esportivas à multiplicação do número de praticantes de cada modalidade. O desporto de rendimento é a alavanca para o incremento dos desportos educacionais e de participação, além de facilitar, sobremaneira, a realização dos programas de inclusão social que iremos desenvolver.
O compromisso é com o trabalho, firmado com o estabelecimento de uma política de Estado. O chamamento é uma mensagem de unidade, uma palavra de fé na obra que juntos poderemos construir com a força do esporte brasileiro.
* Agnelo Queiroz é ministro de Estado do Esporte.
EDIÇÃO 68, FEV/MAR/ABR, 2003, PÁGINAS 62, 63