Parabéns pra você. É! Parabéns pelos 81 anos cavando o chão em busca de luz.

      Como não tem 81 anos?! Todos temos 81 anos. Também , lógico!… Não, não nasci em 1922. Nasci em 66. Mas minha filha, que nasceu em 96, também comemora 81 anos. Minha mãe, nascida em 45, quando a guerra findava e outras se desenhavam no horizonte, também completa 81. Mesma coisa meu pai, de 36, ano antes do Estado Novo e princípios da guerra que minha mãe veria terminar. Minha Preta, de 1971 – ela, sim, milagre – também brinda os 81 anos da dor que prepara a alegria.

      Como pode o quê? Ah, como pode tanta gente, nascida em tempos tão diferentes, comemorarem as mesmas oitenta e uma primaveras? Simpres, como diria minha sogra, de 60 anos:

      Aos vinte e cinco dias do mês de março do ano um mil novecentos e vinte e dois, na cidade de Niterói, no hoje estado do Rio de Janeiro, nascia, filho do casamento da senhora Classe Operária Brasileira com o imigrante estrangeiro Marxismo-Leninismo, o Partido Comunista do Brasil, menino por tudo rebelde, mas cheio de generosidade.

      Seus primeiros anos foram marcados de ingenuidade. Já adolescente, perambulava entre as ruas Direita e Esquerda. Depois da primeira decepção amorosa, centrou-se, reorganizou sua vida e, unindo ginga com lógica, combate com festa, pegou em armas, derrubou ditaduras, enfrentou piratas, difamações de toda ordem e poderosas máquinas de guerra.

      Hoje, maduro, é conhecido como PCdoB nas rodas de samba, de capoeira, nas portas das fábricas, nos campos, nas universidades, escolas, bairros populares, governos e parlamentos.

      Por isso que seu aniversário é uma comemoração de muitos. Sua história é a história de um país. Sua avó, por exemplo, a dona Lutas do Povo Brasileiro, diz que, quando ele nasceu, mirradinho, ninguém botava fé. "Olha aí o tamanhão do guri!". Dona Unidade Popular, paquera antiga, diz que, quando deu aquela crise de identidade no final dos anos 50, muita gente dizia que ele não durava mais uma semana. "Agora ele taí. É só conferir".

      Muitos tentam uma explicação para sua longevidade. Uns dizem que é por conta de sua coerência, no que não mentem. Outros apontam sua firmeza de princípios, e nisso também têm razão. Outros dizem que, se ele não existisse, inventavam-no, porque a história do Brasil precisa dele.

      Mas é seu pai quem nos revela o segredo: "É que ele é apaixonado por uma moça muito bonita, guerreira, faces rubras e que nunca envelhece". "E como se chama essa moça, seu M-L"? "Revolução, meu filho. O nome dela é Revolução. E enquanto não a conquistar, esse menino não sossega".