A história do Partido Comunista do Brasil foi feita por inúmeros lutadores que deram a vida pela organização de vanguarda do proletariado. Alguns, no sentido figurado da dedicação incansável e que nunca medem forças para desempenhar as tarefas que lhes cabem. Outros, no sentido literal de derramar seu sangue pela causa do socialismo e do progresso social.

Carlos Nicolau Danielli foi um destes destemidos que lutaram até o fim, um daqueles cujo heroísmo transformou em uma última trincheira o momento dramático do confronto solitário com os algozes da repressão. História cheia de lições narrada neste livro de Osvaldo Bertolino.

Carlos Danielli teve já no berço suas primeiras lições de luta proletária. Era neto de um imigrante italiano marcado por influências anarquistas que foi para o Rio de Janeiro no começo do século XX. E seu pai, Paschoal Danielli, um sindicalista atuante na antiga capital federal, que se filiou ao Partido Comunista do Brasil ainda na década de 1920. Carlos Danielli logo ligou-se à luta de sua classe e, muito jovem, em meados da década de 1940, também filiou-se ao Partido. Era um caminho natural para um homem, como ele, dotado de aguçado sentido de classe que logo o levou a posições de destaque na direção partidária. Foi, por exemplo, eleito para o Comitê Central no IV Congresso, em 1954, com apenas 25 anos de idade.

Esta foi uma trincheira de luta teórica para Carlos Danielli, presente no debate das teses do IV Congresso, de 1954, e no confronto contra o revisionismo aberto em 1956/1957 e que prosseguiu até o debate do V Congresso, de 1960, e confluiu para o desenlace de 1962. A luta de idéias – pensava Danielli –, natural entre os comunistas, devia ser uma luta de princípios para gerar e fortalecer uma visão comum e unitária. “O Partido não é e não pode ser um fim em si mesmo, mas o instrumento da revolução”, escreveu então.

No esforço de aprofundar o conhecimento da realidade brasileira, ele compreendeu a necessidade da luta pela hegemonia no movimento de massas e a importância fundamental da questão nacional em um país dominado como o nosso. Compreendia a necessidade da aliança do proletariado com todos os setores avançados e progressistas, sem nutrir, contudo, ilusões quanto à capacidade da burguesia brasileira levar a luta até o fim. Tinha uma visão claramente dialética e atualíssima desse processo: “Unidade e luta são dois momentos de um só processo dialético que deve ser levado com vistas a fortalecer e ampliar a frente única. Processo inconcebível se não visar dar base de massas à aliança estabelecida”.

Há uma enorme carência de biografias de comunistas brasileiros, e um dos grandes méritos desta, escrita por Osvaldo Bertolino, é – resgatando a trajetória de Carlos Danielli –, ajudar a suprir essa deficiência.