Na história das minhas retinas fatigadas, várias vezes, (eu lembro bem) a vaca foi pro brejo, pode ser que tivesse uma pedra no meio do caminho, mas enfim, não foi pelo gosto à metáfora que eu estava numa casa de sitio tomando o café da manhã enquanto a chuva caia no telhado, quando a vizinha chegou pedindo ajuda para desatolar a vaca que caiu numa vala de brejo.

      Tentei soltar uma gargalhada, mas, contive-me frente ao desespero da mulher e acompanhei a pobre senhora sob a chuva até chegar ao local em que deparei com uma cena cômica: um rapaz puxava a vaca pela corda amarrada no pescoço e outro, empurrava o traseiro da infeliz com o ombro, e vaca? nem se mexia.

      Logo queriam que eu também participasse do espetáculo, fazendo uma alavanca debaixo da vaca, mas, em tempo, propus que escavássemos uma rampa da terra firme até a vala. Foi um trabalhão, mas concluído, a própria vaca parecia acreditar no sucesso da empreitada e deu um arranque subindo pela rampa até desabar a alguns metros em terra firme.

      Contando essa passagem a um amigo afeito a enxergar em tudo a "moral da história", ele sugeriu que eu pensasse no episodio assim como quem decifra um sonho do Faraó, para talvez, tirar alguma sabedoria. Assim, vá lá – depois de tanto refletir, a considerar a sugestão do amigo, conclui: Há momentos em que uma vaca é apenas uma vaca.