Parou o carro do lado da morena toda jambo e disparou, junto com um sorriso largo e franco:

      – Casa comigo?

      Ela abriu um outro sorriso, agora seu, todo alvura na carne escura, olhou marota, toda mole – meio dengo, meio desafio – e respondeu:

      – Bóra. 

      Entrou no carro, coração divertido com a graça do nêgo que só conhecia de vista, e se deixou conduzir até o cartório do bairro. Estacionado o automóvel numa transversal estreita, deserta, ladeada de árvores, entraram ambos no tabelião, achando em tudo aquela graça. Ele se dirige ao oficial:

      – Mestre, me casa logo com essa moça antes que ela mude de idéia.

      O sujeito ficou assim meio atônito, sem saber o que responder. Depois, refeito, engatilhou o carimbo discursivo de praxe e começou a elencar procedimentos e papéis indispensáveis.

      – Vixe, rapaz! – interrompeu o moço – Desse jeito, vou levar um ano pra casar. 

      Virou-se pra ela:

      – Cê güenta esperar, princesa?

      Ela ofereceu um riso de gozo, depositando ainda mais graça naquela graça toda. Pegou na mão dele, puxou-o delicadamente para fora do cartório, ao tempo em que ele dizia “um instantinho” ao oficial.

      – Pra onde cê vai, princesa? – pergunta ele, já na ruela deserta. 

      Ela abre a porta de trás do chevete, senta de costas pra dentro, puxa o moço encantado para junto de si, enleia-o com as pernas e diz:

      – Não é melhor a gente se conhecer antes?

      A tarde se derrama em cantos de pássaros. “Tudo o mais, em verdade, são ruídos”.