Quando a carta de Argemiro chegou a Saco das Varas, ele já havia confirmado a identidade de seu Jorge.

      Mãe Gulóra, ou Maria da Costa Régis de Almeida, não se abalou. Até reclamou de Argemiro:

      – Pra que bulí com isso agora?

      Emerenciana, sua filha, ouviu a missiva do parente distante (em léguas e grau) e foi tomada de uma grande melancolia. Ela, uma mulher de índole alegre, somente era afetada por essa história de Cabo Jorge. Olhou para Lucinda, depois para Leonardo, lembrou do marido longe, em algum canto da Amazônia, atrás já não sabia bem de quê.

      Lucinda ficou eufórica. Nunca tinham esclarecido direito essa história do Cabo. Era uma sombra nos cantos dos cômodos. Diziam que era muito menina pra entender dessas coisas. Hm, menina… Agora tinha doze anos; não era mais uma moleca.

      Foi procurar a vó. Mãe Gulóra fez uma cara de entojo, e sugeriu à neta que fosse cuidar de sua própria vida. Como a menina insistisse…

      – Pergunte a sua mãe!

      – Ela não que contar.

      – Arre, menina! Larga d'eu!

      – Mas, voínha, porque tanto segredo.

      – Porque tem coisa, minha filha, que, quando chega, desarranja o mundo.

      – Ou põe ele no lugar.

      A velha riu, banguela. Olhou para a neta com uma intensidade, que deixou Lucinda toda sem jeito.

      – Qué que foi, vó?

      – Procure Mariana, sua tia.

      – Mas ela tá em Aracaju!

      – Ligue pra ela. Agora tudo tem telefono, não tem? Então. Só não garanto que ela queira falar do assunto.

      Enquanto Lucinda se dirigia ao posto telefônico, a cidade toda comentava a carta de Argemiro. A menina impou-se de orgulho: sua família era o centro dos comentários. Na bodega de mestre Duda, muito se falava de um destino por se cumprir.

      A menina apertou os passos. Alguma coisa muito importante estava por acontecer. E ela não queria perder isso por nada desse mundo.