Alguém que conheci e sofria de amnésia, andava sempre com uma carta no bolso. Na carta havia além da informação de que ele sofria de amnésia, o seu nome, endereço e telefone. Pareceu-me uma estratégia bastante eficaz para os casos de perda involuntária da memória.

      Conta-se que o escritor Albert Camus, quando esteve no Brasil, andava com um bloquinho de anotações e registrava tudo o que lhe parecesse interessante, literário. Anotar é um interessante recurso de auxilio à memória.

      Mas, quando o assunto é memória, sempre aparece alguém pra dizer que o povo brasileiro não tem memória. Dizem que o brasileiro passa por privações o ano inteiro para esquecer tudo quando chega o carnaval (mas puta-que-pariu! Querem que o pobre brinque o carnaval acabrunhado!). Em todo o caso, Machado de Assis talvez dissesse que é preferível a memória da privação à privação continuada da memória.

      O jornal é um importante veículo de registro da memória, mas, quem faz notícia e acompanha a expressão desta no jornal sabe que este não segue exatamente o princípio enunciado pelo jogo do bicho, o "vale o que está escrito". O papel aceita tudo e, não raro, são publicados verdadeiros tratados de uma amnésia voluntária, contra qual não há remédios: Nem bilhetes, nem órgãos reguladores que afrontem os interesses das grandes corporações.

      Talvez seja interessante, à moda de Camus, anotar todas estas "tiradas" publicadas nos jornais e nalgum dia publicar um livro com um título originalíssimo: "As ilusões perdidas", assim, como uma maneira contrapor à máxima: "o brasileiro não tem memória".

      Depois disso, só encerrando com uma auto-citação: "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós… mas que as asas sejam blindadas."