A temática do desenvolvimento aliado à preservação ambiental emerge como uma das principais questões a serem enfrentadas neste século XXI. Agredido por ações e métodos destrutivos, derivados de um sistema cuja essência é o lucro máximo, nosso belo planeta apresenta “ferimentos” por toda parte. O capitalismo contemporâneo fere a Terra não apenas com suas velhas guerras de pilhagem e com a miséria e a fome que espalha. A natureza, preciosa fonte de riquezas, é mutilada ano após ano por uma lógica de produção predatória cujos agentes políticos e econômicos pouco se importam com os efeitos danosos de sua prática.

Exemplo disso são os Estados Unidos da América que, sendo um dos principais emissores de gases poluentes, se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto cujos termos buscam reduzir a emissão dos gases que provocam o aquecimento da Terra em decorrência do chamado efeito estufa.
Essa recusa dos EUA choca-se com a principal diretriz da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, acordada na Rio 92. Neste conclave concluiu-se que a luta contra o aquecimento global só pode ter eficácia se este for enfrentado pelo conjunto dos países.

Evidentemente, também na questão ambiental está presente o confronto objetivo que há entre os países centrais, imperialistas, e os países pobres e em desenvolvimento. E nesse tema, o choque vem à tona no exame do grau de responsabilidade dos países conforme seu histórico.

Na oportunidade, a diplomacia brasileira teve papel relevante para aprovar o princípio “das responsabilidades comuns, mas diferenciadas”. Para este conceito é errôneo impor um mesmo nível de exigência de controle de emissão de gases entre os países que vanguardearam a Revolução Industrial – que, por conseguinte, são os maiores responsáveis pelo efeito estufa – e os países em desenvolvimento que, comparativamente, ainda, estão na “infância” na história de suas economias. E mais. Foram estabelecidos mecanismos para os países ricos transferirem tecnologias não poluidoras aos demais.

Da Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992, passando pela Conferência das Partes, em 1997, em Kyoto (Japão), à Conferência do Clima, ocorrida em 2005, em Montreal, Canadá, se verifica que os termos dos acordos firmados em defesa da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentado são “bombardeados” pelas grandes potências – em particular os Estados Unidos. Os países em desenvolvimento, sobretudo os que têm à sua frente governos progressistas, lutam numa correlação de forças desigual contra o irracional modelo que está levando à mutilação o nosso planeta.

Dessa maneira, a bandeira da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentado deve com destaque estar presente do programa do movimento transformador de nosso tempo. Em particular no Brasil – país com fabulosos recursos naturais, também alvo de exploração destrutiva e predatória – as forças progressistas precisam conceber e implementar um modelo de desenvolvimento que além de distribuir renda preserve o meio ambiente.

EDIÇÃO 83, FEV/MAR, 2006, PÁGINAS 3