Sou negro e presidiário,
Sonhos de serrar as grades,
Olhos cerrados, verrugas,
No nariz não incomoda,
Baionetas já caladas,
Os manos  pensando fugas,
A liberdade; baladas,
Invasões de domicílios,
Polícia, tira que  atira,
Bandidagem mexe os cílios,
Pisca, filhos boa bisca,
Atira em  polícia tira,
Arma emperra, negro erra,
Corre; atrás vai o tira,
-Pega esse preto fujão,
-Pega esse preto ladrão,
-Alto lá, eu sou um negro,
-N e g r o !, preto é seu passado,
-Tu é um tira de merda!,
O tira espoca a doze,
Pou! pou, pou, pou,
Mais um, pra estatística,
A manchete jornalística:
“Nesta manhã, um cidadão,
O José Bispo dos Santos,
De côr parda; vinte anos,
Foi encontrado morto,
Tiro de doze no peito.
Mais um morto,  entre tantos,
Quatro tiros no coração,
Os tiras não sabem direito,
A polícia acha tratar-se,
De um acerto de contas,
Entre alguns bandos rivais…”.

E esse tira de merda,
Continua sua ronda,
Olha pra mim e pra você!,
-Quê que tu tá olhando?
-Vamos circular pra valer!
-Circulando, circulando, circulando… !

 Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.