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    Comunicação

    Dom Quixote e o computador

    A triste figura do cavaleiro a pé Sem deus nem fé na loteca esperta Desperta compaixão no jugo da ilusão Computa dor de catador de lendas Comprador de fazendas e tecido de estória Sítios arqueológicos e irracionais Oferta de jornal Dos povos ama zonas francas e meretrícios Rasos da pororoca À espera do trem da […]

    POR: Redação

    7 min de leitura

    A triste figura do cavaleiro a pé
    Sem deus nem fé na loteca esperta
    Desperta compaixão no jugo da ilusão
    Computa dor de catador de lendas
    Comprador de fazendas e tecido de estória
    Sítios arqueológicos e irracionais
    Oferta de jornal
    Dos povos ama zonas francas e meretrícios
    Rasos da pororoca
    À espera do trem da sorte que não vem
    Que não tem
    Ou o 'Ita do Norte' encalhado no ciclo da Borracha
    Que não vem
    Que não vem
    Que não tem mais vintém
    Que não vem mais a Belém
    Do grão no chão do port of Pará:
    Bananeira que já deu cacho
    Cara de mamoeiro macho
    Ilhas do Ceilão e não sei que evasão de divisas
    Cara e coroa na Cidade Velha do já teve
    A ver navios encantados nos olhos pixuna da Boiuna
    Ilha das Onças extintas pelo contrabando de peles
    Pelos e plumas de animais silvestres
    Paisagem evasiva
    Que não passa duma mancha parda
    Pele de leopardo tardo
    Gato maracajá cativo do fim da tarde
    Chuva escura e lama ruiva de enxurrada
    Vai na vazante do rio o pobre dom Quixote
    Padrinho dos ribeirinhos pobres da maré
    Montado em búfalo vagaroso que nem Lao Tsé
    A dar no pé a caminho das Índias acidentais
    Sem Sancho por escudeiro
    No mato ou morro sem cachorro
    A caçar com gato um bico de luz
    No barraco escroto sem água encanada
    Sem nada além de esgoto a céu aberto
    Sem rocinante alado nem canoa furada
    Por montaria
    Não ria por favor
    O fado deste doido amor do homem da Mancha
    Folha corrida do Norte sem sorte
    Aquele um que tem ficha suja na polícia
    Por falsificação venial da Sagrada Escritura
    Causa dum evangelho apócrifo
    De Nossa senhora do Tempo
    Mãe de todos nós que esperamos por vós
    Os pescadores da Pedra da feira do Ver O Peso
    A fim de matar fome e desmanchar a dor
    Da boca do estômago
    A bom computar as contas do rosário
    No fim da estória orai pro nobis
    Peixe no prato e farinha na cuia
    Aleluia!

    O camarada Miguel de Cervantes
    Useiro e vezeiro do xilindró do calote
    Dom quixote da união ibérica universal
    Mancha do sistema financeiro internacional
    Fiado no plano Cruzado deu com os burros n'água
    Peleja contra moinhos de vento e o crediário
    Computador quebrado ao canto da cela
    À luz de vela
    Parece Sancho Pança inventado
    Pelo delírio do engenhoso cavaleiro
    Atacado de malária no varejo da novela de cavalaria:
    O maneta de Lepanto aloprado
    Conta dias e as mil e uma noites de prisão
    Ilha do Diabo
    Prisioneiros e carcereiros repartem pau e pão
    Que o dito cujo amassou
    Gritos de tortura varando pelas portas
    Horas mortas
    Sobre a mesa leptop e toc toc de teclas imaginárias
    Unhas e dentes arrancados ao confessionário
    Santo Ofício das indulgências plenárias
    Mártires
    Do pau de arara e eletrochoques em giga bits
    O cara de pau quer porque quer
    Por sesmaria a ilha Barataria
    Indenização da aventura maluca de Marco Polo
    Cedo o Rocinante peida em riba do mapamúndi
    Cagando e andando pelo caminho da seda.

    No presídio São José o índio sutil marajoara
    Irmão, amigo e camarada do grão cavaleiro Jorge
    Amado da Bahia de todos orixás
    Em Belém do Pará de grão em grão a intriga avulta
    A polícia estadonovista vareja células comunistas
    Até na Cremação em barraca com banca de tacacá…
    O pai do menino Alfredo que nem Cervantes
    Não tem medo nem advogado
    Nem um reis de mel coado pra pagar fiança
    O tal Dal está mal parado na estória geral do Curralpanema
    Ditadura da água
    Pena de inverno: Chove nos campos de Cachoeira
    Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Muaná
    Salvaterra, Soure, Gurupá e adjacências
    Ponte do Galo, ribanceira da passagem dos inocentes
    Acaba preso com dom Quixote debaixo do braço
    Forte indício de subversão das baixadas equatoriais
    Ai de mim, ai de ti morena e os pequenos!
    O homem da Ilha preso entre ladrões de gado contumazes
    E assassinos de aluguel barato
    Computa dores de mundos e baixos fundos
    Mel virando fel no paraíso perdido.

    Agora este um zé do zen bubuia
    Banda larga avesso à bandalheira
    Quixote papa chibé viciado em news da internet
    Zé Catibira bé
    Motosserra matupira
    Serra matupé
    Catibira bé
    Computa versos e reversos malinos
    Apreendidos na ronda poética de Makunayma
    Odes ébrias de éter no boteco da Web
    Rimas ratuinas armazenadas em pendrave pirata
    Manhãzinha ele toma gota serena d'alambique
    De satélites artificiais
    Notícias frescas On Line sensacionais
    Sufoca-se com nuvens d'enxofre demenciais
    Lançamentos de foguetes do Bem e do Mal
    Trânsito assassino, corrução diabólica…
    Respira fumo de óleo diesel na cidade em transe
    Transa com as musas na rede de ilusão da paz universal
    Etecetera e tal
    Desde menino combate sozinho moinhos do tempo
    Alisa os cabelos oxigenados de Madalena do beiradão
    Dulcinéia brega, rainha andorinha de verão
    Apocalypso diluviniano das marés grandes
    O cavaleiro da triste figura consola por esmola a tonta
    Aquelazinha da rede rasgada que dormiu no ponto
    Sem camisinha
    E se deu mal na mais antiga profissão do mundo Cão
    Caiu no conto de vigário do cafetão
    Bom de bico que nem caraxué
    De otário o cara só tem a cara de mula…

    Na pendura o desgarrado cavaleiro da triste figura
    Jura por todos os juros que a vida vai melhorar
    Vai melhorar…
    Computa dor do fim do mundo injusto
    Mas garante validade eterna da história do Futuro
    Ainda que faça escuro canta sempre o direito do Homem
    Que nem o poeta do Amazonas Thiago de Mello canta
    Canta como Giovanni Gallo o renascer marajoara
    Apesar do caboco só ter fé de arranjar o café da manhã
    Se deus quiser e o patrão consentir…

    Por isto o homem sem mancha se bate feito doido
    Altos papos entre estrelas do firmamento
    Mundo estratosférico sublunar
    Peleja ele pra que a gente veja
    O triunfar da justiça.
    Dom quixote d'além mar
    Sem Sanho Pança nem Rocinante por empréstimo
    Na zona franca das amazonas
    Adora passar horas sem relógio no pulso
    Sem coleira e sem dinheiro no bolso ou nas mãos
    Pendura contas nos cornos da lua
    Namora a madrugada nua terra adentro
    E mar afora a perder de vista
    Descubrir novos rumos e mundos impossíveis
    Inventa cavalos marinhos soltos na flor do pensamento
    Navega o Mar das Tranquilidades em igarité:

    Apesar do quixote acordar morto de medo com tiros na rua
    E troar de canhão do massacre impune da faixa de Gaza
    E mais periferias sem Graça da história universal da infâmia
    Segredo revelado depois dos “nossos” comerciais
    Tele visão do quinto dos infernos através de novelas e jornais.

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