Leia intervenção de Adalberto Monteiro no seminário “A crise econômica mundial – fonte de incremento da agressividade imperialista e da tensão no Oriente Médio e no mundo”

Intervenção de Adalberto Monteiro, da direção nacional do Partido Comunista do Brasil, PCdoB, no seminário “A crise econômica mundial — fonte de incremento da agressividade imperialista e da tensão no Oriente Médio e no mundo”.

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Líbano, Beirute, 25 de fevereiro de 2009

Camaradas:

Em primeiro lugar, em nome do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), gostaria de agradecer o Partido Comunista Libanês pelo convite para participar deste seminário, bem como do vosso congresso que começa amanhã, dia 26. É uma honra estarmos aqui, entre vós, nossos pés nesse chão honrado do Líbano, terra de um povo culto e heróico, país cenário de tantas jornadas de resistência contra a ferocidade

Leia intervenção de Adalberto Monteiro no seminário “A crise econômica mundial – fonte de incremento da agressividade imperialista e da tensão no Oriente Médio e no mundo”

Intervenção de Adalberto Monteiro, da direção nacional do Partido Comunista do Brasil, PCdoB, no seminário “A crise econômica mundial — fonte de incremento da agressividade imperialista e da tensão no Oriente Médio e no mundo”.

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Líbano, Beirute, 25 de fevereiro de 2009

Camaradas:

Em primeiro lugar, em nome do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), gostaria de agradecer o Partido Comunista Libanês pelo convite para participar deste seminário, bem como do vosso congresso que começa amanhã, dia 26. É uma honra estarmos aqui, entre vós, nossos pés nesse chão honrado do Líbano, terra de um povo culto e heróico, país cenário de tantas jornadas de resistência contra a ferocidade e a ganância do imperialismo.

Nossas sinceras homenagens aos bravos combatentes e heróicos mártires que repeliram e derrotaram a invasão das tropas sionistas em 2006. E os comunistas libaneses sempre presentes nas linhas de frente das batalhas por um Líbano soberano que assegure vida digna para seu povo. No Brasil, nos honra muito a presença de tantas famílias libanesas. Essa presença ajudou a construir nosso país e a enriquece muito a cultura brasileira.

Este seminário, como foi dito pelos camaradas libaneses, atende a uma decisão do 10º Encontro de Partidos Comunistas e Operários, realizados em novembro último na cidade de São Paulo, Brasil. Encontro que o PCdoB teve a alegria e a honra de ser o responsável pela sua realização. Este seminário corretamente nos convoca a dar continuidade ao debate entre os comunistas e seus aliados sobre a complexa e tensa realidade mundial contemporânea.

O mundo segue sob os impactos destrutivos da maior crise capitalista desde a grande depressão de 1929. O epicentro desta crise localiza-se nos Estados Unidos da América, principal potência capitalista. Teve seus primeiros “tremores” em agosto de 2007 quando estourou a gigantesca bolha imobiliária estadunidense e se agravou em setembro de 2008 com a quebra de pilastras do sistema financeiro global. De lá para cá, a crise, cujo fim e alcance estão longe de se revelarem, já se propagou com violência para as demais praças capitalistas, notadamente Europa e Japão, e atinge todos os países.

Apresento algumas reflexões.

Primeiro:

Trata-se, sob nossa ótica, de uma crise estrutural e sistêmica do capitalismo, derivada do seu atual padrão de acumulação marcado pelo gigantismo do setor financeiro, pelo peso da especulação, do componente parasitário. Padrão este que foi aberto com adoção do receituário neoliberal que deu ao mercado o status de infalibilidade e ao capital especulativo liberdade total para que circulasse e atuasse segundo a voracidade de sua ganância.

Segundo:

Os estragos da crise presente desmascaram os dogmas neoliberais. Vários trilhões de dólares já foram aplicados pelos bancos centrais e outras instituições das grandes potências para socorrer bancos, seguradoras e outras instituições financeiras. Apesar disso, sobretudo, nos Estados Unidos, o problema não está resolvido.

Um dos dogmas do neoliberalismo ditava que o Estado não poderia intervir na economia, que o Estado não poderia aplicar recursos para garantir os direitos elementares do povo.

Agora, o que se vê é o Estado despejando trilhões de dólares para salvar a oligarquia financeira.

Como perspectiva, em nossa opinião, é ilusão imaginar que haverá uma marcha-ré no capitalismo, isto é, que dessa crise resultará um capitalismo “regulado”. A oligarquia quer os trilhões de dólares para se salvar; contudo, mostra-se resistente a qualquer regulamentação mais séria que venha tolher os seus movimentos.

Terceiro:

Quem pagará a conta desta crise? Como sempre ocorreu ao longo do capitalismo, agora, os governos dos EUA e de outras potências buscam jogar os prejuízos sobre os povos e os trabalhadores. Recessão, desemprego e corte linhas de crédito penalizam os povos.

Nesse contexto, as medidas anticrise anunciadas pelos governos dos países centrais apenas tangenciam o problema, que se agrava sobretudo por meio das demissões em massa de trabalhadores — que passam a ser a grandes vitimas da crise.

Também os países em desenvolvimento são fortemente afetados, quer pela drástica queda na demanda por commodities agrícolas e minerais, quer pelo retorno do protecionismo dos países ricos.

Quarto:

Como disse o 10º Encontro, na sua “Proclamação de São Paulo”, não há saída estrutural, de fundo, para a atual crise do capitalismo que não seja a sua superação revolucionária, a conquista do socialismo. Nas nossas palavras, o capitalismo revela com mais agudeza os seus limites históricos. Na atualidade, golpeia as conquistas civilizatórias da humanidade.

É claro que o capitalismo não sairá da cena história por morte natural. Ele precisa ser confrontado mundialmente e vencido no âmbito de cada país pelo movimento revolucionário. Objetivo que demanda acumulação de forças e movimentos táticos apropriados a cada país.

Mas o fato é que, diante de tal crise, o socialismo emerge como uma alternativa rejuvenescida e viável. E o marxismo é novamente valorizado. Para isso, muito contribui o êxito até aqui do enfrentamento da crise por parte da China, do Vietnã, de Cuba, da Coréia, do Laos — países que heroicamente mantêm os esforços de construção do socialismo segundos suas escolhas e realidades.

Quinto:

Que mundo resultará desta crise? A resposta demandará alguns anos e dependerá de grandes lutas políticas, sociais e ideológicas. Mesmo em declínio, os EUA, com seus oligopólios, não irão abdicar pacificamente de suas ambições e posições. Por isso, há riscos de retrocessos, de incremento da agressividade imperialista.

A crise incide sobre uma transição mundial, que tem como uma das suas tendências a construção de uma ordem multipolar, distinta da atual, marcada pela regência unipolar dos Estados Unidos da América. Mas isso dependerá do grau de coesão e ação dos povos, governos, partidos e movimentos do campo patriótico, democrático e popular.

Neste âmbito, a recente covarde e bárbara agressão de Israel à Palestina é parte dos movimentos do imperialismo norte-americano e de seus aliados para impor ao Oriente Médio seus desígnios de seu projeto expansionista. O Estado de Israel no cerco à Gaza, na matança de civis, escancarou aos olhos do mundo seu caráter de Estado terrorista, que não hesita em cometer crimes de lesa-humanidade para cumprir seu papel de cabeça de ponte do imperialismo norte americano na região.

É uma prova de que o imperialismo chegou à fase da barbárie. Desta tribuna, expressamos nossa categórica e contundente solidariedade ao povo árabe-palestino, por seu inalienável direito à constituição de um Estado nacional independente e prospero.

Gostaria também de pronunciar algumas breves palavras sobre a América Latina, que, talvez junto com o Oriente Médio e países da Ásia, representa grande espaço de resistência antiimperialista no mundo de hoje. Afinal, pela primeira vez na sua breve história a região conquista uma hegemonia de projetos nacionais endógenos, mas não autárquicos, o que estabelece, no plano político, numa nova correlação de forças na qual ela progressivamente liberta-se da subordinação ao imperialismo — sobretudo o norte-americano.

A ascensão do primeiro presidente de esquerda na América Latina (Hugo Chávez, em 2 de fevereiro de 1999) completou dez anos recentemente e caminhamos para o 7º ano do governo democrático do presidente Luis Inácio Lula da Silva no Brasil. Desde 1999, em outros onze países chegaram aos governos nacionais forças que estão situadas do centro para a esquerda no espectro político — totalizando 13 paises latino-americanos em que partidos de patrióticos, democráticos, populares, de esquerda se encontram no poder ou são forças que integram coalizões que estão à frente de governos nacionais.

Novamente recorro à resolução unânime do 10º Encontro de Partidos Comunistas e Operários. Sua “Declaração” sobre a situação da América Latina, na qual está dito que a região é “um dos mais destacados pólos de resistência antiimperialista e cenário de busca de alternativas à hegemonia imperialista, de luta pela soberania nacional e o progresso social.” O desafio que ora enfrentamos na parte sul das Américas é lutar para garantir a continuidade desse ciclo promissor e impedir o retrocesso que é maquinado pelo imperialismo e pelas classes dominantes locais.

Camaradas:

Vivemos uma situação nova no mundo, marcada por um duplo declínio; de um lado, do neoliberalismo, hegemônico por pelo menos três décadas e, d outro, da hegemonia estadunidense, que passa a ser cada vez mais contestada.

Cada vez mais, países e bloco de países em desenvolvimento buscam estabelecer políticas nacionais e regionais que limitam a influencia imperialista. O declínio da unipolaridade e a tendência a multipolaridade é um dado objetivo do mundo de hoje.

Contra a lógica do capital de jogar o ônus da crise sobre os povos e os trabalhadores, se levantam greves e movimentos sociais que ocupam as ruas da Europa e outras partes do mundo. O Fórum Social Mundial, realizado no último mês de janeiro, em Belém, no Brasil, teve a participação de mais de cem mil pessoas e definiu uma agenda mundial de mobilização com o lema: “Os povos não devem pagar pela crise e contra a guerra imperialista, contra a agressão israelense à Palestina.” Os governos democráticos e patrióticos saem em defesa de suas economias e dos direitos de suas nações.

O momento exige a mobilização dos trabalhadores e do povo contra a crise do capitalismo e em defesa da alternativa socialista. O momento requer reforço da unidade das nações por uma nova ordem internacional, pelo direito dos povos à paz, à soberania de cada país, ao desenvolvimento e à autodeterminação. Nós, os partidos comunistas, como sempre estamos chamados a estarmos na linha de frente dessas jornadas.