Entre 1996 e 2008 — quando ainda vigorava o quadro de estabilidade na economia mundial —, as exportações dos bens baseados em recursos naturais e em ciência foram as que menos sofreram com variações das taxas de câmbio e juros e as mais favorecidas pelo crescimento dos principais parceiros comerciais do Brasil. A conclusão é de um estudo que analisou os efeitos do câmbio e dos juros sobre as exportações da indústria naquele período.

A pesquisa mostrou ainda que esses setores ganharam participação nas exportações brasileiras. Entretanto, os bens intensivos em ciência ainda correspondem a uma parte pequena do total. O segmento dos produtos baseados em recursos naturais corresponde às indústrias de extração mineral, cimento, alimentos e madeira, entre outras. Os produtos com base em ciência se referem às indústrias eletrônica, farmacêutica e aeronáutica, entre outras.

O estudo, publicado na revista Economia Contemporânea, foi feito por Luciano Nakabashi, Marcio José Vargas da Cruz e Fábio Dória Scatolin, todos professores do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O objetivo foi analisar a relação das taxas de câmbio, de juros e do crescimento mundial sobre o total das exportações brasileiras e de sua composição, durante os 12 anos que antecederam o atual quadro de crise econômica.

De acordo com Nakabashi, as três variáveis afetam não somente o montante exportado por um país, mas também sua composição. A importância da análise, segundo ele, é destacar a relação existente entre a composição e o dinamismo do setor exportador û ou seja, a relevância desse setor em um processo de crescimento econômico de longo prazo. ‘‘Essa importância do setor exportador sobre o desempenho econômico está relacionada à restrição externa, visto que o processo de crescimento econômico envolve, automaticamente, uma elevação das importações. Assim, se o desempenho do setor exportador for fraco, o país enfrentará problemas de restrição no balanço de pagamentos, inibindo o seu crescimento’’, disse à Agência FAPESP.

O pesquisador destaca que o estudo foi feito antes da atual crise econômica mundial, que mudou completamente os rumos da economia, mas que a análise sobre o período anterior permanece válida e é importante para o entendimento dos processos a longo prazo.

‘‘A mudança estrutural que foi identificada no estudo é um processo de médio e longo prazo. No momento atual, temos um problema diferente, que poderá ser de curto prazo e que deteriora a conta corrente do país. Não temos mais a locomotiva externa puxando as exportações. Com isso, os problemas de restrição da importação e inibição do crescimento tendem a se agravar ainda mais’’, afirmou.

No estudo, foram analisados os impactos do câmbio e dos juros na dinâmica do setor exportador em cinco segmentos da economia, de acordo com a intensidade tecnológica: recursos naturais, trabalho, escala, diferenciação e ciência.

No período de junho de 1996 a fevereiro de 2008, as exportações dos bens baseados em recursos naturais passaram de 40% para quase 50%, enquanto as exportações baseadas em ciência passaram de 1,06% para 4,20%, considerando a média móvel dos últimos seis meses de cada ano.

No entanto, segundo Nakabashi, apesar do ganho de participação nas exportações dos bens intensivos em ciência durante o período estudado, a importância deles ainda é muito pequena em relação ao total das exportações. ‘‘Isso significa que o país se tornou, no decorrer da última década, mais dependente das exportações de bens baseados em recursos naturais devido ao crescimento da demanda mundial naquele momento’’, disse.

Valor agregado

Como os setores exportadores são aqueles que enfrentam forte concorrência mundial, eles geralmente são os mais competitivos. ‘‘São eles que tendem a puxar o crescimento da economia e esse efeito é maior ou menor dependendo do grau de encadeamento que tenham com outros setores da economia’’, afirmou Nakabashi.

A taxa de câmbio é importante para o desempenho das exportações, uma vez que altera o resultado do setor externo ao induzir mudanças nos preços relativos dos bens domésticos em relação aos estrangeiros, além de atuar na determinação da estrutura produtiva da economia, ‘‘ao passo em que alguns segmentos e setores são mais sensíveis à competitividade via preços’’, disse.

‘‘Variações de curto prazo não afetam de forma significativa as exportações, pois existem relações entre fornecedores e compradores que levam um tempo para ser alteradas. Os efeitos começam a ser sentidos depois de um período que vai de 6 meses e 1 ano’’, disse.

Ao mesmo tempo, a taxa de juros atua principalmente sobre a estrutura produtiva, pois os setores e segmentos compostos por grandes empresas têm maior facilidade de financiamento externo. Desse modo, eles são menos sensíveis a variações da taxa de juros doméstica.

‘‘Quando havia um crescimento da renda mundial, isso favorecia mais a exportação dos bens com maior elasticidade de renda. Esse efeito dependia de quais eram os países que, naquele período, experimentaram taxas mais elevadas de crescimento. Mas existia uma tendência de que a demanda por produtos com alta elasticidade de renda se elevasse mais quando se considerava um prazo mais longo de tempo’’, destacou o professor da UFPR. Elasticidade de renda é a variação da quantidade demandada em relação à variação da receita das pessoas.

A informação é do Diário de Natal