O Fundo Monetário Internacional (FMI) recentemente publicou dois gráficos surpreendentes: em 2003, o PIB estadunidense representava 32% do total mundial, enquanto o PIB das economias emergentes somadas representava 25%. Em 2008, entretanto, houve uma reversão: o PIB dos EUA representava 25% do total global e o das economias emergentes somava 32%. O que chama atenção é essa mudança dramática ter acontecido em apenas 5 anos. O que mais mudará nos próximos cinco ou dez anos?

É evidente que as conseqüências do deslocamento de poder econômico sinalizam uma redução do poder unipolar dos EUA.
Por Li Hongmei, no People's Daily Online

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recentemente publicou dois gráficos surpreendentes: em 2003, o PIB estadunidense representava 32% do total mundial, enquanto o PIB das economias emergentes somadas representava 25%. Em 2008, entretanto, houve uma reversão: o PIB dos EUA representava 25% do total global e o das economias emergentes somava 32%. O que chama atenção é essa mudança dramática ter acontecido em apenas 5 anos. O que mais mudará nos próximos cinco ou dez anos?

É evidente que as conseqüências do deslocamento de poder econômico sinalizam uma redução do poder unipolar dos EUA. “No máximo, a hegemonia unipolar dos Estados Unidos ocorreu durante os anos 90, mas essa década foi também de flutuação… Agora, em vez de comandar o globo, estamos competindo – e perdendo – em um mercado geopolítico ao lado de outras superpotências: a União Européia e a China”, diz um artigo chamado “Dando adeus à hegemonia”, de Parag Khanna.,publicado na revista de sábado do New York Times.

No período pós-Guerra-Fria, e com a decomposição da antiga União Soviética, a conjuntura internacional foi amplamente sujeita à influência dos EUA. Principalmente na década de 90, parecia concebível e provável que a estrutura internacional de poder levaria à predominância dos EUA nos campos político, econômico e cultural; falando grosseiramente, os EUA seriam os donos do pedaço. Este seria o caso se os Estados Unidos não tivessem sido atingidos pelos atentados terroristas de 9 de setembro.

Os EUA conquistaram o apoio internacional lançando uma dura campanha contra o terrorismo e agindo como se tivessem sido designados para salvar o mundo da ameaça terrorista. Mas, em pouco tempo, esta nobre campanha contra o terrorismo, iniciada pelas elites neo-conservadoras estadunidenses, foi interpretada pela comunidade internacional como uma camuflagem utilizada pelos EUA para esconder sua intenção de reconquistar o monopólio sobre o globo. Em 2008, porém, a hegemonia dos EUA foi empurrada à beira do colapso, como resultado de suas contradições estruturais internas, que se provaram bem-enraizadas na sociedade americana e longe de conciliáveis. Um sinal visível do declínio da força dos EUA foi o declínio de seu prestígio econômico no mundo.

O sistema financeiro capitalista americano tipicamente liberal, com suas brechas e falhas de monitoramento, e propício à especulação e ganância, gerou um efeito dominó no ano passado que rapidamente mergulhou toda a economia na crise. A pior crise econômica desde a Grande Depressão também ajudou o primeiro presidente afro-americano, Barak Obama, a tomar o poder, tal era o desejo dos americanos por uma mudança radical.

Com o declínio da estrutura dominada pelos EUA de poder internacional, a atenção mundial se concentra numa questão inevitável: a queda da hegemonia geopolítica dos EUA torna mais provável a governança mundial? Talvez seja ainda cedo para qualquer conclusão, mas ao menos uma coisa é certa: a força dos EUA está caindo em uma velocidade tão fantástica que está além da antecipação. Os EUA não são mais os donos do pedaço, e uma nova fase de poder multipolar começará em 2009, com uma nova ordem internacional. Mas, por enquanto, uma nova estrutura internacional é ainda indiscernível.

No Oriente Médio, as negociações de paz entre Palestina e Israel ainda não deram nenhum fruto; o Irã emerge como uma força regional; a América Latina se esforça para sair da órbita estadunidense; a União Européia não consegue sustentar sua própria expansão; potências como a Inglaterra, a Alemanha e a França lutam contra sua própria recessão econômica; e a Rússia enfrenta as árduas tarefas de reduzir sua dependência na exportação de gás e construir sua própria indústria manufatureira.

A China tornou-se um ator de peso nas relações internacionais. E é cada vez maior e ativo seu papel de evitar que a economia mundial chegue à lona. Como disse a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, durante sua recente excursão asiática: “Os EUA agradecem a confiança chinesa nas finanças americanas”. Enquanto a guerra fria foi um conflito exibicionista entre Oriente e Ocidente, o que temos hoje, pela primeira vez na história, é uma competição global, multicivilizacional e multipolar, e uma demonstração de poder inteligente. Para ser o vencedor, precisa-se buscar mais a cooperação do que o confronto.

Tradução: Elias Jabbour