"Nós precisamos de regras claras sobre posições vendidas, vendas a descoberto e swaps de moratória de dívida. Eu espero que haja uma resposta positiva deste lado do Atlântico para trazer essa iniciativa ao G-20", disse Papandreou à Brookings Institution em Washington. Provopoulos disse que a Grécia não irá precisar de ajuda financeira. Segundo o jornal Financial Times Deutschland, o premiê afirmou que a forte demanda pela emissão do bônus de 10 anos, no valor de 5 bilhões de euros (US$ 6,8 bilhões), feita pela Grécia na semana passada mostra que o país pode levantar dinheiro nos mercados financeiros se precisar.

Provopoulos disse estar confiante de que os custos de emissão irão diminuir. Ele também afirmou esperar que a Grécia saia da crise sozinha. "Um cenário no qual ajuda seja necessária não deverá se tornar realidade." A Grécia quer encontrar uma "solução europeia" para suas dificuldades e não planeja, por enquanto, recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), disse o premiê.

Fundo de resgate

Ele garantiu que Atenas não está pedindo à Europa que recorra ao "auxílio de um país descuidado" e alertou que a crise pode causar um efeito dominó, elevando os custos de empréstimo para outros países com grandes déficits. "Se a crise europeia entrar em metástase, poderia criar uma crise financeira com implicações tão graves quanto a crise originada nos Estados Unidos há dois anos", afirmou o premiê grego.

Papandreou realiza uma viagem pela Europa para pedir ajuda para seu país, mergulhado numa grave crise fiscal. Na sexta-feira, esteve em Berlim, com a chanceler alemã Angela Merkel e antes viajou a Luxemburgo para encontrar-se com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. Em seu périplo, o premiê grego tem alertado insistentemente para os ricos de expansão da crise. E, ao que parece, não tem pregado no deserto.

A Comissão Europeia está prestes a propor o estabelecimento de um novo fundo de resgate para a Zona do Euro, disse o porta-voz Amadeu Altafaj Tardi. "Basicamente, a Comissão está pronta para propor um instrumento europeu para assistência que exigirá o apoio de todos os Estados membros da zona do euro", afirmou o porta-voz. "Há um claro sentido de determinação para melhorar a governança da Zona do Euro", disse ele.

Queda de braço

Os governos da região na verdade travam uma queda de braço com a especulação financeira. Tanto que o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, se apressou em dizer que a crise grega não deve se espalhar para outros países da Zona do Euro com altos patamares de endividamento. Foi uma resposta ao mercado financeiro que especula freneticamente sobre um default de Portugal, Espanha ou Irlanda.

"Você pode adicionar à lista todos os países da Zona do Euro para tentar assustar as pessoas sobre tudo. Eu não acho que isso vá acontecer", disse ele. "Temos um problema com a Grécia. Não temos um problema com a Espanha até agora. A zona do euro tem que lidar com o problema da Grécia. Eles estão fazendo isso. Ninguém sabe o que vai acontecer na manhã de amanhã, mas eu não vejo razão para contágio para Portugal ou Espanha", disse Strauss-Kahn.

Algumas atitudes dão razão à especulação. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, por exemplo, disse que os países da Zona do Euro ajudarão a Grécia se seus problemas financeiros piorarem. "Se a Grécia precisar de ajuda, estaremos lá", disse ele. "Os principais atores no palco europeu estão decididos a fazer o que for necessário para garantir que a Grécia não fique isolada", afirmou.

Sarkozy disse ainda que conversou com a chanceler alemã Angela Merkel e acrescentou que França, Alemanha e Grécia estão prontas para tomar uma ação contra especuladores. Merkel, por sua vez, tentou tampar o sol com a peneira. "A situação para o euro é difícil pela primeira vez após seu lançamento, mas sairá da crise", disse ela, acrescentando que "os ataques especulativos contra alguns países constituem evolução perigosa, mas os integrantes da Zona do Euro que enfrentam problemas de dívida, como a Grécia, deverão enfrentar sozinhos seus problemas".

Estabilidade do Euro

Em seguida, "frau" Merkel, dissimulando que em seu próprio país "a situação está normal e sob controle", lavou as mãos e farpou: "Acho que a verdadeira confiança no euro poderá ser conseguida nos mercados financeiros somente se o problema for enfrentado em sua raiz, na Grécia e em outros Estados com déficits muito elevados", mas se esqueceu de citar a própria Alemanha, a Grã-Bretanha, a França e a Itália, cujas economias estão à beira da derrocada.

Merkel teorizou: "A base para a política econômica nacional é o Acordo de Estabilidade e Desenvolvimento da União Européia, porque não existe consenso político apoiando o euro. Com o Acordo, temos uma ferramenta permanente que garante a coordenação da política fiscal e a estabilidade do euro". E finalmente arrematou: "A Alemanha buscará com força a estabilidade do euro".

Mas, julgando que não tenha sido bem convincente, resolveu voltar: "Seria equívoco se tivéssemos uma política coordenada para a Zona do Euro, enquanto os "outros" aprontam". Por enquanto, o euro despencou, na quinta-feira passada, ao mais baixo nível do ano contra o iene, enquanto crescem especulações por uma nova desvalorização da economia da Grécia, após insinuante comunicado da Standard & Poor"s.

Propostas de Paul Volcker

A Alemanha informou que irá sugerir em abril uma tarifa sobre bancos para que eles dividam o custo dos pacotes de resgate em tempos de crise. A informação foi concedida pelo porta-voz do Ministério das Finanças. Domar o sistema financeiro é um desafio que os Estados Unidos tentam resolver — até agora com poucos resultados. O conselheiro econômico da Casa Branca, Paul Volcker, em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, comentou o assunto.

Questionado se a Zona do Euro está ameaçada de especulação, Volcker disse: "É um desafio, mas os países do euro estarão prontos para isso". Em relação ao setor financeiro americano, Volcker disse que os bancos dos Estados Unidos não estão saudáveis. "O trabalho de reparo ainda está acontecendo. Ele acabou de começar", afirmou.

Em janeiro, o presidente Barack Obama surpreendeu o sistema financeiro com uma proposta para limitar as operações de mesa proprietária dos bancos ("proprietary trading"), tirá-los dos negócios de hedge funds e private equity e limitar seu crescimento futuro através de um novo controle de participação no mercado. As propostas ficaram conhecidas como a "regra Volcker", e o Congresso americano ainda está considerando o que fará com ela.

Perguntado se a Europa deveria copiar suas propostas, Volcker disse: "Eu não diria 'copiar'. Nós deveríamos chegar a um acordo conjunto sobre quais são as soluções apropriadas". O fato é que o problema se agrava também nos Estados Unidos. Wall Street mostra que tomou a primazia dos “mercados emergentes” e está ditando a tendência diretriz às bolsas de valores do mundo inteiro.

Máquina esfomeada

Paralelamente, os “mercados emergentes” mostram que perdem força. As bolsas de valores das economias do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) registram — desde o início deste ano até hoje — queda maior do que as dos países desenvolvidos. O vigor do sistema especulativo dos Estados Unidos se deve também à falta de confiança nas últimas medidas econômicas adotadas pelos EUA. [

O mercado da casa própria capenga após o fim das subvenções estatais, a confiança dos consumidores recua, muitos bancos pequenos enfrentam grandes problemas e, principalmente, o mercado do trabalho continua se abalando. Reconhecendo esta situação, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed), disse ao Congresso dos Estados Unidos que as taxas básicas de juros de endividamento permanecerão excepcionalmente baixas por período prolongado (promessa que vive repetindo há vários meses).

Depondo há alguns dias perante o Congresso dos EUA, Bernanke declarou que "o Fed tem feito tudo que é possível para tonificar o crescimento da economia norte-americana e incentivar os bancos a emprestarem". Apesar de tudo isso, o percentual de desemprego continua bem perto de 10%. O grande desafio, a rigor, continua sendo o de fazer valer o poder do Estado diante do cassino global — uma máquina predadora da economia real sempre esfomeada.

Com agências e Monitor Mercantil